Igreja matriz de Granja (CE) |
Um certo ten.-cel. José Eusébio de Carvalho
(um breve relato biográfico e genealógico)
Elmar Carvalho
Poucos dias atrás, através de WhatsApp, o médico Marcos Conde
Medeiros me enviou link do site Family Search em que constava a árvore genealógica
do tenente-coronel José Eusébio de Carvalho, natural de Granja (CE), e de
Onofre José de Melo, fundador da Casa do Desterro, em Piracuruca. Já sabia
que descendia de Onofre José, mas desconhecia que José Eusébio seria meu
tetravô, por parte de minha mãe.
Em virtude de uma divergência em pesquisas anteriores, eu e o
Dr. Marcos Medeiros ficamos com uma dúvida sobre se eu descendia de Antônio
Luís de Melo, como consta em um livro de meu primo Fabiano de Melo, ou se de
Luís Antônio, como estava dito em outra pesquisa. Através do link referido
acima, eu e o amigo Marcos Conde Medeiros ficamos com a convicção de que nós
dois descendemos de Antônio Luís e não de Luís Antônio, ambos filhos de Onofre
José de Melo e de sua mulher Cecília Maria das Virgens.
Minha mãe era filha de José Horácio de Melo (c/c Maria
Carlota de Souza), filho de Horácio Luís de Melo e Antônia Quitéria de
Carvalho. A partir deste ponto, irei me ater somente à família Carvalho,
oriunda de Granja, da qual faz parte minha mãe, Rosália Maria de Melo Carvalho.
Antônia Quitéria, minha bisavó materna, era filha de Marcos
José de Carvalho (c/c Quitéria Leopoldina de Carvalho), que era filho de José
Eusébio de Carvalho, que vem a ser meu tetravô, sobre o qual desejo traçar
sintética biografia. Através de sua árvore genealógica, contida no referido Family
Search, obtive a seguinte informação, que foi extraída da biografia do célebre
Pessoa Anta, da autoria do padre Vicente Martins, publicada na Revista
Trimensal(1917) do Instituto do Ceará, com a devida atualização ortográfica:
“O Tenente-Coronel José Euzébio de Carvalho, irmão do capitão
Domingos José de Carvalho, rico fazendeiro, senhor de escravos, que também
havia assinado a célebre ata da proclamação, vendo a causa perdida, livrou-se
da prisão fugindo para o Piauí, onde ficou residindo na vila de Campo Maior,
incólume da perseguição dos imperialistas. Em Granja, entre outros cargos
exerceu o de vereador da câmara e juiz trienal.
Contam que em uma viagem para o Piauí, com seus irmãos
Domingos e Cândido José de Carvalho foram atacados no lugar Riacho da Areia,
por capangas de Joaquim Ignacio Pessoa, que era seu particular inimigo. Desse
conflito resultou a morte de Cândido José de Carvalho e saíram muitos feridos.
O tenente-coronel José Euzébio de Carvalho é avô de José
Euzébio de Carvalho Oliveira, senador.”
Da referida biografia de Pessoa Anta, da autoria do padre
Vicente Martins, recortei este relato (do qual fiz a atualização ortográfica),
da participação de José Eusébio de Carvalho no importante fato histórico de
Granja:
“O coronel Pessoa Anta, que estava em Granja de viagem para
Fortaleza, vindo ter notícia da Proclamação da República, já influenciado pela
nova causa por que de há muito batalhava, seguindo as instruções recebidas do
coronel Tristão e padre Mororó, por intermédio do frei Alexandre da
Purificação, que residia em Granja, cheio de entusiasmo pela causa da
República, desistiu de sua viagem e tratou logo de reunir a câmara municipal da
vila, de que dispunha e aderir ao novo governo.
No salão da câmara foi lavrada a ata de aclamação da República e assinada pelos vereadores e membros de sua família, que eram os mais exaltados patriotas, republicanos, cujos nomes são os seguintes, a saber: - o advogado Manoel Joaquim da Paz, o padre José da Costa Barros, vigário da freguesia e irmão do presidente deposto, o tenente-coronel Pedro José da Costa Barros, Francisco de Paula Pessoa, frei Alexandre da Purificação, Francisco Rodrigues Chaves, João Porfírio da Mota (vereador), Plácido Fontenele, Inácio José Rodrigues Pessoa, Elias Ferreira de Abreu, José Raimundo Pessoa, Inácio José de Barcelos, Joaquim de Andrade Pessoa, José Eusébio de Carvalho, Joaquim da Costa Sampaio (juiz ordinário), Antônio Inácio de Almeida Bravo (português, advogado), Antônio Zeferino Caju da Granja, e Francisco de Paula Ferreira Chaves (tabelião).”
A mesma fonte biográfica relata que do recinto da Câmara
esses republicanos se deslocaram até o adro da igreja matriz, onde fizeram a
Aclamação da República no meio de entusiasmados vivas. Dirigiram-se depois ao
local do pelourinho, situado na praça da matriz, e o destruíram completamento,
tal o entusiasmo de que se achavam possuídos.
José Eusébio de Carvalho, casado com Josefa Odória de Sant’Anna,
nasceu em Granja, aproximadamente em 1800, e faleceu em Campo Maior, entre os
anos de 1845 e 1854. Era filho de Domingos José de Carvalho e sua mulher Quitéria
de Brito Passos. Foi vereador da vila de Granja, juiz trienal, tenente-coronel
e comandante da Guarda Nacional.
Como visto, participou da Confederação do Equador, que foi um
movimento revolucionário, ocorrido a partir de 2 de julho de 1824, em
Pernambuco. Esse movimento separatista e republicano foi uma reação contra a
tendência autoritária, monarquista e a política centralizadora do governo de
Pedro I. Teve participação de várias províncias nordestinas, inclusive Ceará e
Piauí.
Com o malogro dessa insurreição, José Eusébio, conforme
consta acima, se refugiou em Campo Maior, onde nunca foi incomodado pelos
partidários do regime imperial, até porque sobreveio a anistia em 1825. Por
esses escassos e algo imprecisos dados biográficos, José Eusébio era ainda
muito jovem quando participou da Confederação do Equador, e pagou um alto preço
por isso, pois teve de se refugiar em Campo Maior, bem como deve ter ficado afastado
de suas ocupações laborais de costume.
Era avô do senador José Eusébio de Carvalho Oliveira,
injustamente esquecido em sua terra natal, sobre o qual desejo dizer algumas
palavras, de caráter biográfico.
José Eusébio de Carvalho Oliveira nasceu em Campo Maior, em 10
de janeiro de 1869 e faleceu no Rio de Janeiro, em 25 de abril de 1925. Era
filho de Marcos José de Oliveira Sobrinho e Liduína Rosa de Carvalho. Casou-se
com Maria Amália Toucedo Martins Lisboa (1879–1955), nascida e falecida na cidade do Rio de Janeiro,
com quem teve vários filhos.
Foi jornalista, promotor de Justiça, magistrado, membro de
Junta Governativa do Piauí. Essa Junta, instituída em dezembro de 1891, de
curta duração, era composta por João Domingos Ramos, Higino Cunha, Clodoaldo
Freitas, Elias Firmino de Sousa Martins, José Pereira Lopes e José Eusébio de
Carvalho Oliveira.
Foi ainda inspetor do Tesouro Público e procurador-geral do
Estado do Maranhão.
Lutou, juntamente com Domingos Perdigão, para a criação da
Faculdade de Direito do Maranhão, instalada em 1918.
No final do século XIX, filiou-se ao Partido Republicano do
Maranhão, pelo qual foi eleito deputado estadual. Elegeu-se deputado federal em
março de 1900, conseguindo se reeleger para o mandato seguinte, dessa forma se
mantendo nesse cargo até 1908.
Sobre sua atuação política, assim nos informa o notável
historiador Reginaldo Miranda:
“Com a morte de Benedito Leite em março de 1909, de quem era
seguidor e correligionário, passou a liderar o esquema situacionista, assumindo
posição de realce na política maranhense. Nesse mesmo mês lançou-se candidato ao
Senado Federal, sendo majoritariamente sufragado. Tomou posse em abril, para um
mandato de nove anos, que foi concluído em 1918, quando foi sucessivamente
reeleito para um mandato que deveria ser concluído em dezembro de 1926.”
Como senador teve destacada atuação, porquanto foi membro das
comissões de Saúde Pública, de Instrução Pública, de Constituição e Diplomacia,
de Finanças e de Redação do Senado.
Assim, José Eusébio de Carvalho Oliveira, nome de uma pequena
rua em Campo Maior, injustamente esquecido pelos seus conterrâneos, teve
atuação de alto destaque no Maranhão. Foi congressista por 25 anos (de 1900 a 1925)
e pertenceu aos três Poderes, como magistrado, como parlamentar (deputado e
senador) e como integrante de uma Junta governativa.
REFERÊNCIAS:
Site Family Search, acesso em 10/06/2025.
José Eusébio de Carvalho Oliveira, artigo de Reginaldo
Miranda, publicado no blog Poeta Elmar Carvalho, acesso em 10/06/2025.
Biografia de Pessoa Anta, de Pe. Vicente Martins, publicada na Revista Trimensal (1917) do Instituto do Ceará.
Sempre se abre um mundo quando desvendamos nossos antepassados. É mais do que curiosidade, é identidade. Há um prazer quase arqueológico em caçar tesouros enterrados no tempo. Homens e mulheres de quem herdamos um tantinho, de sangue, de alma, de silêncio. Benditos sejam os que têm no passado um farol, um candeeiro aceso que os guia para fora da escuridão da ignorância. Parabéns.
ResponderExcluirMestre Fabrício, seu comentário parece o embrião ou o começo de uma bela crônica. Muito obrigado.
ResponderExcluirPoeta maior
ResponderExcluirTenho a convicção de que a felicidade que sentimos quando uma parte da nossa história, aquela que nem mesmo nós conhecíamos, emerge do passado resgatado, é porque já corria e pulsava em nossas veias. Daí posso entender a sua alegria expressada no belo texto escrito. José Eusébio de Carvalho merece o reconhecimento de seus patrícios, assim como já o tem dos maranhenses.
ResponderExcluirMuito obrigado a todos os comentaristas.
ResponderExcluirNão é de estranhar que o eminente poeta tenha uma ascendência nobre!
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