terça-feira, 14 de outubro de 2025
3 Poemas de JOAMES
segunda-feira, 13 de outubro de 2025
Crônica/missiva de Marcondes Araújo
Criação: AI Gemini |
Estimado camarada Elmar,
Amigo, li atentamente sua crônica
intitulada “Tempos republicanos” e me fez lembrar alguns momentos e outras
sentimentalidades. Nunca morei em república, mas meu irmão Chico Wilson, morou
numa em São João dos Patos, no Maranhão, quando foi assumir o cargo de bancário
do BB nos anos 70. Portanto, quando eu ia de férias visita-lo ficava hospedado
em uma república aos moldes talhados por você no seu texto.
Ainda sobre seu texto, creio que
o cidadão Carlos a que você se refere deve ser o mesmo que foi meu colega de
tralhado na Secrel. Tratava-se de um cidadão alto, claro e usava óculos, porém
com mais destaque sobre sua postura proativa de se determinar aos afazeres
profissionais. Salvo melhor juízo ele era contador e abdicou do emprego na
Secrel para laborar por conta própria.
Sobre a Da. Mariema e o tenente
Jaime da Paz, genitores do seu ex-colega de república, Jaime Filho, lembro
desse casal visitando minha sogra, Maria Carmelita Sousa do Monte, aqui na
cidade de Altos. A Da. Mariema, por coincidência dos fatos, foi colega de
pensão da minha sogra, num casarão comandado por Da. Justina Ferreira, nos anos
60-70, cujo prédio situava-se na Rua Paissandu, frontal ao antigo Hotel
Teresina e próximo do antigo quartel da Polícia Militar, na gregária Praça
Pedro II, em Teresina.
Também passei a me situar melhor
com esse texto, pois me lembro do seu poema “A Casa no Tempo”, um dos primeiros
poemas de sua lavra que pude ler e meditar. Crio que até fiz um comentário
sobre ele no seu blog. Agora, com mais descrições, me situo com mais precisão
sobre suas intenções e a atmosfera de seu entusiasmo ao escrevê-lo.
Porém, queria me referir que
ainda neste mês de setembro último recebi em minha chácara aqui em Altos, o
amigo Adolfo Ferreira, casado com uma prima de minha esposa, chamada Fernanda,
filha do saudoso contador Hugo Melo. Ele é policial civil e cidadão pacato,
sereno e de boas conversas. É que ele morou na antiga Casa do Estudante, em
Teresina, cujo casarão encravava-se próximo à antiga Penitenciária, a qual foi
demolida para construção do ginásio de Esportes Verdão.
Em nosso diálogo tive a
curiosidade de indagar justamente como funcionava aquela Casa do Estudante. Ele
fez um relato curioso e instigante para uma boa pesquisa. Narrou sobre várias
personalidades que vieram do interior do Piauí e do Maranhão e que, em vida
estudantil, se hospedaram e moraram naquele recinto. Foram inúmeros e variados
os destaques que “venceram na vida” e eram egressos daquela saudosa república
de estudantes. Segundo ele, alguns desses destaques foram: Professor Cineas
Santos, atual vice-reitor da UFPI, Nouga Cardoso ex-reitor da UESPI, atual
superintendente da CEF, médicos, professores, etc.
Sem buscar qualquer destaque em
cargos relevantes ou de status social, entendi o quanto aquele prédio abrigou
de gente que se destacou posteriormente em vários cenários da vida produtiva do
Piauí ou se tornaram pacíficos citadinos que contribuíram para a vida útil da
nossa região.
Acertei com o Adolfo que
voltaremos a nos encontrar para debater mais sobre esse período, sobre os
mecanismos de seleção dos estudantes, sobre a vida cotidiana dos estudantes e a
respeito do desfecho profissional da maioria, entre outras coisas. Talvez buscando
informações (entrevistas) com outros remanescentes daquele período, fosse útil
reacender e fustigar a curiosidade histórica daquele albergue de estudantes,
hoje enterrado na memória da cidade de Teresina.
Quiçá, muitos dentre eles,
igualmente a você, possam trazer episódios de grande importância histórica e,
quem sabe, também possam suscitar “nas músicas passionais de algum boteco /
criando ressonâncias que repercutem / insistentemente como eco”.
domingo, 12 de outubro de 2025
ETERNO RETORNO
Criação: AI Gemini |
ETERNO RETORNO
Elmar Carvalho
memória:
lâmina de desassossego
cornucópia insana
insaciável
a jorrar o passado
que não morre nunca
sempre ressuscitado
no eterno regresso
a nós mesmos.
ó emoções redivivas
e ampliadas
das sensações
de nervos expostos
nas carnes pulsantes
de um passado
sempre lembrado.
recordações
que dão e são vida
de becos escuros, sem saída
de amores
hoje boleros
bolores em
flores
de ilusões perdidas
que se fazem dores
na florida ferida da
saudade.
evocações
de dribles esquecidos
de gols frustrados e
acontecidos
de um jogo que nunca
termina
de uma malsinada sina
sinuosa
de lágrimas caudalosas
incontidas, vertidas
das vertentes profundas
do peito – porto
sem tino e sem destino
feito somente de desatino.
as mulheres amadas
na juventude fugaz
não envelhecem
não se corrompem
não morrem jamais
preservadas intactas e
belas
na câmara ardente
incandescente da memória.
recordações de fantasmas
que já nos abandonaram
de amigos mortos
que nos acompanham
cada vez mais vivos
de sustos e gritos
de proscritos e malditos
de agouros e assombrações
de desdouros e sombras vãs,
malsãs,
oriundos dos porões
escavados
nos subterrâneos dos
sobrados
subterfúgios e refúgios
da memória.
O passado poderoso e
renitente
retorna e continua vívido e
presente
se contorcendo se
retorcendo
e se reacontecendo.
sexta-feira, 10 de outubro de 2025
TEMPOS REPUBLICANOS
Criação: IA ChatGPT |
Criação: AI Gemini |
TEMPOS REPUBLICANOS
Elmar Carvalho
Nesta temporada de final de ano,
em Parnaíba, estive com os meus compadres Gelvan e Neide. Ela é filha do sr.
Anísio, que foi comerciante e vereador. Ocupa chefia importante da Caixa
Econômica Federal na Paraíba, na qual
ingressou através de concurso público. É minha conhecida desde os tempos em que
residi em Parnaíba. Conheci o Gelvan em 1983, quando ele, na qualidade de
administrador postal da ECT, recém-formado pela ESAP, foi lotado na diretoria
regional da empresa no Piauí. Era natural de Paulo Afonso, Bahia. Moramos na
mesma casa. Era uma república, mas república séria, de muito respeito, e não
uma república de estudantes boêmios e gazeteiros, nem tampouco uma republiqueta
de bananas da América Latina.
Quando assumi meu cargo de fiscal
da SUNAB, em Teresina, no dia 10.08.1982, fui inicialmente morar no hotel da
dona Maru, instalado num antigo palacete da avenida Frei Serafim, perto da
igreja de São Benedito. No mesmo apartamento, morei com o conterrâneo e amigo
Jaime Filho, rebento da professora Mariema e do tenente Jaime da Paz, probo e
dinâmico ex-prefeito de Campo Maior. Em menos de dois meses fui convidado pelo
Carlos Cardoso, velho amigo da adolescência e também conterrâneo, para morar na
república da qual ele era membro proeminente.
Explicou-me as regras, os
direitos e deveres da confraria. Disse-me que a casa ficava situada na avenida
Jockey Club, onde hoje funciona um colégio. Imediatamente aceitei o convite e
tratei de me mudar. Moravam na república dois administradores postais, o
Umberto Nadal, paranaense, e o Robério Maia de Oliveira, cearense, o Antônio
Maria, comerciante, e o Carlos, contador, um dos chefes da empresa SECREL,
sediada em Fortaleza. Portanto, éramos cinco republicanos.
A casa dispunha de uma boa
piscina. Em quase todos os domingos havia comilança e libações. Participei de
poucas festas, uma vez que nessa época costumava, pelo menos duas vezes por
mês, passar o final de semana em Parnaíba, porquanto meus pais e minha namorada,
hoje minha mulher, ali residiam. Tomei conhecimento de que um frequentador
desses churrascos se tornou demasiadamente assíduo, dando-se ao luxo de ainda
trazer vários convidados, mas sem nada trazer em contrapartida, nem mesmo
refrigerantes, quanto mais bebida e mantimentos de boca.
Diante dessa “esperteza” os
colegas republicanos resolveram adotar uma estratégia contra esse abuso. Certo
dia, quando o espertinho chegou com os seus convidados, encontrou o fogo
apagado. Dois membros da república o convidaram a ir até um supermercado, onde
compraram os suprimentos líquidos e comestíveis, e o “intimaram” a pagar a
conta. Foi a última vez que esse mui amigo apareceu na república.
Nessa casa escrevi o meu poema
Egocentrismo, que nasceu de um insight, já pronto e acabado. Eu acabara de
acordar, quando, ao ficar sentado na rede, espirrei numa réstia que iluminava a
escuridão do quarto. As gotículas do espirro, viróticas ou não, fizeram surgir
um pequeno arco-íris. Instantaneamente o poeminha foi escrito em minha mente,
com os seus versos que falam em arco-íris, em arco-do-triunfo, em velocino
dourado e em coroas de louro e de ouro. Sou muito grato a esse espirro, que
funcionou como uma musa ou como inspirado e inspirador lampejo.
Dessa residência, nos mudamos
para uma outra, na rua Rui Barbosa, situada no início da ladeira, após a qual
começa a avenida Barão de Gurgueia. Nesse período, já nos haviam deixado o
Antônio Maria e o Carlos; este havia adquirido uma casa, e já se preparava para
se casar. O Robério, hoje juiz do trabalho, casou-se e foi morar em casa
própria. Em seu lugar entrou o Gelvan. Foi uma turma boa, composta por pessoas
responsáveis e cumpridoras de suas obrigações. Como o dono dessa casa tenha
precisado dela, para fazer um depósito de sua empresa, fomos morar em outra,
localizada na rua Areolino de Abreu, perto da Caixa Econômica.
Era um casarão antigo, meio
fantasmagórico, onde antigo morador, um engenheiro, havia suicidado. Numa das
portas, fora escrito um belo, porém elegíaco, melancólico poema da autoria de
meu amigo Hardi Filho, em que a tinta parecia escorrer, como gotas de sangue.
Nesse vetusto solar, de história trágica, escrevi o meu poema A Casa no Tempo,
infestada de esgarçantes rasga-mortalhas, de esvoaçantes e lúgubres morcegos,
de almas penadas, de correntes arrastadas, de gemidos e ruídos misteriosos.
Nessa casa, hoje demolida, a república foi extinta, em virtude de casórios e do retorno do Nadal ao Paraná, sua terra natal. Mas, em minha saudade, a casa com a república, como digo no meu poema, “... sempre persistirá / nas músicas passionais de algum boteco / criando ressonâncias que repercutem / insistentemente como eco”.
04/01/2011
domingo, 5 de outubro de 2025
AUTOAPRESENTAÇÃO
Criação: IA Gemini |
AUTOAPRESENTAÇÃO
Elmar Carvalho
eis como sou
neste instante único
(após o qual já
serei um outro):
um homem que rema
no seco contra
a corrente das águas
um homem que usa
a gravata como
se fora um baraço
nas horas de opressão
um homem que escreve
torto por
linhas certas
um homem que sobe
e teima contra
a lei da gravidade
eu sou aquele
que aprendeu
a pecar para
ter a humildade
de não ter uma
virtude
eu sou aquele
que jogou roleta
russa com o tambor
cheio de balas e
apostou contra a
sorte
eu sou aquele
que lutou para
não ser
quinta-feira, 2 de outubro de 2025
HISTÓRIA & ESTÓRIA
HISTÓRIA & ESTÓRIA
Elmar Carvalho
Estive conversando com o
historiador e empresário Vicente Miranda. É quase um sósia de seu parente, o
cantor e compositor Belchior, que andou sumido por um bom tempo, ao que parece
embebido em meditações e reflexões místicas e artísticas nas altitudes dos
Andes. Vicente empreendeu um rigoroso trabalho de pesquisa sobre a história de
sua família, de que resultou um notável livro de várias dezenas de páginas.
Foi um empreendimento que lhe
custou muito tempo, esforço, dedicação, despesas e uma disciplina
verdadeiramente espartana. Isso porque as fontes estavam espalhadas em
diferentes municípios do Piauí e do Ceará. Tendo o nosso estado sido vinculado,
em diferentes épocas, administrativa, eclesiasticamente e/ou judicialmente ao
Maranhão, Ceará, Pernambuco e Bahia, alguns documentos e outras fontes de
pesquisas somente poderão ser encontrados nessas unidades federadas.
No seu entendimento, as fontes
são muitas, o que falta é ânimo ou condições outras de o pesquisador realizar o
seu trabalho. É sabido que historiadores da estirpe de Odilon Nunes e monsenhor
Chaves gastaram muito de seu tempo em paciente trabalho de pesquisa em arquivo
público, para que pudessem trazer novidades à História do Piauí, bem como para
desfazer equívocos e dirimir dúvidas. Isso exige disciplina, dedicação,
esforço, paciência e tempo.
Mesmo em casos polêmicos, como o
da datação da igreja do povoado Frecheira da Lama, no município de Cocal,
Vicente Miranda não faz a sua interpretação de forma apaixonada, baseada apenas
no subjetivismo do desejo pessoal, mas analisa o contexto histórico da região e
da época, além de fazer o cotejo com documentos correlatos ou afins, para
elaborar a sua tese, com o uso da lógica e do bom-senso, e não no afã de
descobrir supostos pioneirismos. Busca a verdade, e não o ufanismo
“patriótico”, que chega ao ponto de distorcer a verdade ou de fabricar forçadas
e esdrúxulas interpretações, sem respaldo em provas consistentes, irrefutáveis.
Para escapar ao cansativo,
silencioso e solitário trabalho de pesquisa, muitos pretensos historiadores
fazem apenas uma obra de divulgação; escrevem livros que apenas repetem o que
os grandes pesquisadores e historiadores já escreveram. Ou seja, apenas chovem
no molhado, apenas pisam no já repisado. Não lhes tiro o mérito da divulgação;
apenas digo que nada estão criando, que não trazem novidades.
Portanto, não espancam dúvidas e
nem extirpam os erros e equívocos, acasos existentes. Outros, querendo ser
modernos e de ideias avançadas, apenas se comprazem em atacar figuras
históricas, em cega iconoclastia, sem fazer a devida contextualização de época,
levando na devida conta os costumes, a moral, as leis, a ética, as crenças e as
crendices dos tempos idos.
Ainda outros, em suas
monografias, ensaios e dissertações, reduzem a temática e usam um corte
cronológico em que haja mais fontes e mais bibliografia, o que lhes facilita
sobremaneira o trabalho de pesquisa, que quase fica restrita a simples leitura
de obras já publicadas. Outros vão além, e adotando certas teorias atuais da
historiografia, pretendem fazer obra historiográfica através de simples
especulações, conjecturas e ilações baseadas em obras de arte, como pinturas,
artesanatos e esculturas.
Creio que estes farão apenas
ensaio especulativo, interpretativo e subjetivo. Acredito que o trabalho de um
verdadeiro historiador há de ser objetivo, calcado na verdade trazida por
provas, em que haja, pelo menos, um grau razoável de certeza, e não mera
suposição interpretativa, fundamentada em frágeis indícios. Finalmente, alguns
enveredam pela história imediata ou pela história do cotidiano, mas aí já é
outra história.
Vicente Miranda para escrever a
longa história de sua família esteve em diferentes paragens e estados; visitou
cemitérios campestres, arquivos públicos, acervos documentais de cartórios,
igrejas e delegacias de polícia. Em Piracuruca, para poder consultar antigos
processos judiciais, teve que ficar entre o forro e o teto da serventia, pois
era ali que dormiam os velhos autos.
Em Barras, os velhos feitos
estavam quase se desmaterializando, o que requeria cuidado e atenção especiais;
tanto que um soldado de polícia, que lhe presenciou o manuseio desses
documentos, exclamou que os carcomidos papéis não aguentariam “outro reboliço”
daqueles.
Por tal razão, esse historiador
entende que esses processos deveriam ser transferidos para o arquivo público
estadual, que poderia executar um melhor serviço de guarda e conservação,
sobretudo agora em que o Poder Judiciário marcha de forma firme e irreversível
para a virtualização do processo, em que haverá, certamente, economia de tempo,
espaço e de meios físicos, como papéis, grampos, plásticos, depósitos e outros
materiais; em que as petições e as comunicações poderão ser enviadas através da
internet.
Além do mais, isso facilitaria a vida dos pesquisadores, historiadores e simples consulentes, pois os documentos ficariam concentrados na capital, sob a responsabilidade de um único órgão especializado no serviço. Disse-lhe que, quando tivesse oportunidade, abordaria esse assunto junto ao desembargador Edvaldo Moura, presidente do Tribunal de Justiça do Piauí, que é um intelectual e escritor, tendo presidido a Academia de Picos por vários anos, quando lá serviu como juiz de Direito.
29 de dezembro de 2010