Em uma determinada tarde de janeiro de 1974, curtindo férias estudantis sentados na mureta da esquina de dona Mocinha Leite (cruzamento das ruas coronel Eulálio Filho com Dr. Moura) estava eu e meu irmão José Wagner Brasil, bom irmão, religioso praticante, alto, elegante, corpo atlético, amigo, inteligente, alegre, brincalhão e prosador, essas características o tornavam bastante cômico e com ar de galanteador. Músico violonista e cantor faziam deste conjunto uma das pessoas mais admirada e estimada por todos que o conheciam. Estudante de Bacharelado em Administração de Empresa na URNE ( Universidade Regional do Nordeste em Campina Grande PB) José Wagner contava-me vantagens e entre elas que fazia parte do plantel de atletas daquela escola e que representava muito bem nas competições de Natação, Lançamento de Disco e Dardo nos Jogos Universitários da Paraíba e que queria realizar aquele movimento de integração do esporte, lazer e cultura em nossa cidade. Foi assim que nasceu a Semana Universitária de Campo Maior. Ali mesmo enquanto explicava o audacioso projeto, surgiu em um Puma vermelho o estudante de Economia da UNB, José Paulino de Miranda, filho de Ivon Pacheco, o qual atentamente e entusiasmado não só ouviu mas aceitou o convite do idealizador para ser o primeiro Presidente daquele que viria a ser um dos mais ricos e acreditados movimentos estudantis do Piauí.
A I SEUCAM, como ficou conhecida, todos os planos e metas do projeto foram discutidos e praticamente concretizados ali mesmo naquela esquina, saímos dalí às 20:00 horas com tudo traçado e decidido, como: 1 - formar diretoria; 2 –o evento teria que ser realizado duas semanas antes do carnaval e se estenderia por uma semana, 3- As modalidades esportivas seriam: Futsal, voleibol, basquete, handebol, ciclismo, futebol de campo, mini maratona, natação (travessia do açude) competições de damas e xadrez, outras modalidades como: palestras, debates e oficinas, baile de entrega das medalhas e para o encerramento teríamos um grande churrasco de confraternização, 4- A participação de outras cidades como Teresina, Esperantina, Pedro ll, Altos, Barras, e Piripiri. 5- propaganda, abertura com a presença das autoridades como: governador, prefeito, vereadores e outras autoridades e por último as Receitas e Custos. No dia seguinte partiu-se para a realização destas metas: logo cedo fomos a Teresina marcar audiência com o governador Dirceu Mendes Arcoverde para convidá-lo a participar da abertura. Não só fomos atendidos mas pra nossa surpresa aceitou com agrado o convite, não veio mas mandou um representante, o secretário de saúde do estado, Dr. Luis Pires.
Campo Maior historicamente é reconhecida por todo o estado como cidade pólo da educação universitária e, nessa época, era difícil numa família não ter filhos matriculados em um dos mais variados cursos em universidades espalhadas por todos os estados do Brasil e que periodicamente, nas férias, estes encontravam-se em seu torrão querido e, à medida em que a novidade da SEUCAM se espalhava, toda esta comunidade não só abraçava a causa mas queria participar e por este motivo foi fácil trabalhar o evento. A diretoria foi formada, a abertura foi no Campo Maior Clube com as autoridades convidadas as quais usavam retóricas de motivação e progresso para com todos os universitários presentes, as competições esportivas eram realizadas no quartel da PM, AABB, IATE e Estádio Deusdedite Melo, as equipes de futsal eram formadas pelos universitários dos estados representantes como Brasília, Bahia, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Piauí e a sobra formava-se uma equipe mista denominada de Mistox e que cada time poderia ter dois alunos secundaristas como motivação e inclusão. No final do campeonato formava-se uma seleção para confrontar com as equipes das cidades convidadas, assim eram o voleibol masculino, feminino, handebol e basquete. Tinham as palestras com variados temas culturais, jurídicos e Socioeconômicos com palestrantes da área como o jurista Celso Barros, o filósofo Antonio José Medeiros, o economista Prof. Puscas. O baile realizado na AABB com glamour teve a responsabilidade musical de “Os Dragões de Piripiri” que tocavam um repertório riquíssimo de canções da época que hoje são conhecidos clássicos da música internacional, o churrasco de confraternização era aberto a todos os universitários e os convidados com uma simples senha em uma fazenda ou chácara mais próxima (por conta do deslocamento) emprestada por um amigo que congratulava com o movimento, no mais tudo eram doações também de amigos , como carneiros que chegamos a ganhar em média, 20( vinte) cabeças por cada SEUCAM, a cerveja e outras despesas eram pagas pela organização. Nossas receitas eram adquiridas da seguinte forma: tínhamos parceria com a prefeitura que ajudava com combustível, hospedagem para as equipes de fora; a taxa de inscrição das competições esportivas, eram usadas na compra de material de expediente, taças e medalhas e a maior receita mesmo, era o lucro do baile com o qual se fechava o caixa.
Muitos foram os responsáveis e batalhadores para a realização da SEUCAM: José Wagner Brasil, José Paulino, Erivan Napoleão, Benedito Portela, Maria Teresa Portela, Nazaré Portela, Edgar Bandeira, Zezinho Machado, José Neves Neto, Edvar Alves Rodrigues, Lafayette Andrade, Gilberto Ferreira, Marco Bona, Bernadete Alves Rodrigues, Gracinha Bezerra, Corinto Brasil, Lourdinha Cardoso, Antonio Francisco Ibiapina, Élcio Leite, Raimundo Filho, Margarette (Baiana), Bebeta da Olindete, Bebeta Araújo Costa, Raimundo Pereira, Valdecy Ribeiro, Edmar Napolelão, Carlos Ibiapina, Carlos Batista, Evaldo Bandeira etc.
Mantendo as mesmas programações com exceção dos conjuntos musicais, dos locais de jogos, dos locais de festa e locais do churrasco, assim foi realizada a II SEUCAM presidida por José Wagner Brasil, a III SEUCAM , Edgar Bandeira, a IV SEUCAM, Edvar Alves Rodrigues, no entanto na V SEUCAM tivemos que atender as aspirações democráticas que pairavam sobre todos nos universitários, e assim foi feita uma eleição com duas chapas que eram encabeçadas por Valdecy Ribeiro X Corinto Brazil . Vitoriosa, nossa chapa era composta por vários estudantes compromissados com a causa entre eles Leopoldo Portela, Bernadete Alves Rodrigues,Ferdinand A. Rodrigues, Carlos A. Rodrigues, Carlos Ibiapina, Ângela Brasil, Lúcia da Esmeralda, Anaíde Portela, Márcia Bona, Lafaiette Andrade, Marco Bona, Helder Andrade, Fábio Andrade, Élvio Andrade, Nina Melo, Rosario Félix, Dasdores Félix e Filosinha. Nessa gestão além de manter toda a programação procurou-se inovar no sentido de enriquecer mais ainda a SEUCAM e incluímos na programação um conjunto de metas entre elas: assistência comunitária voltada para a saúde como: atendimento médico, odontológico e vacinação anti-rábica com atendentes profissionais médicos, odontólogos e universitários da área que cursavam o último ano da faculdade. A VI SEUCAM, presidida por Lafayette Andrade, manteve a programação da anterior, a VII SEUCAM, presidida por Gilberto Ferreira, caracterizou-se por uma luta de reivindicações por uma universidade em Campo Maior e foram realizadas passeatas durante toda a semana, luta esta continuada pelas outras SEUCAM seguintes e que culminou tempos depois com a criação da UESPI. Também lançado na AABB durante a festa de entrega de medalhas ao som da Banda “Os Geniais” o Hino da Semana Universitária de Campo Maior de minha autoria:
“A emoção nos corações dos estudantes/Dessa terra é brilhante e arrogante /Esta virtude é completa de união/Força de trabalho e decisão/Da assistência comunitária/Ao esporte preferido/ Dos shows as palestras culturais/se fincam as realizações da linda SEUCAM/É espírito de luta/ É espírito de glória/É uma vida universitária/ Vivemos nela um paraíso / Pois foi um grande sonho construído/SEUCAM, SEUCAM, SEUCAM.... “
A VIII SEUCAM foi presidida por Raimundo Pereira, estudante de Economia da UFPI, cheio de idéias entre elas a criação de uma associação para os estudantes universitários, e a realização de festivais de música. Grande baluarte na continuidade do evento assumiu a responsabilidade da IX SEUCAM com uma equipe de trabalho formada por Sena Rosa, Josino Gomes, Joãozinho Félix, Gilberto Ibiapina, Helton Andrade, Adalberto Soares, Juraci Gonçalves, Rosário Félix, Bernadete A. Rodrigues. Em 18 de Fevereiro de 1984 foi criada a AUCAM (Associação Universitária de Campo Maior) simultaneamente funcionando em sede própria construída às margens do açude grande com a ajuda do poder público seguindo um projeto do arquiteto Fábio Andrade de construção simples mas bonita onde foram usados como matéria prima, a palha e o caule da carnaúba. Também naquela semana, foi realizado com grande sucesso o I FEMCAM (Festival de musica de Campo Maior) com a participação de vários compositores e intérpretes de renome da música do nosso estado. Após o término do evento, foi realizada a eleição de uma nova diretoria para assumir o próximo mandato da associação que a partir daquele momento seria de caráter permanente.
A gestão eleita da AUCAM, permanecia no exercício durante 1 (um) ano, com poderes de ajudar e responder pelos os interesses e lutas da classe, promover na sede, festas e shows periodicamente, organizar e acompanhar a realização da semana universitária. Com muitas realizações e conquistas poderia citar alguns presidentes como: Joãozinho Félix, Benedito, José Peres, Zico Martins, Orivan Ibiapina, Rosy N. Santos (a Primeira mulher a assumir a presidência da associação), Luzia Pereira, Mário Rogério Ibiapina, Gilda Ibiapina, Assis Lima, Marcos Soares. Atualmente a AUCAM não realiza mais a semana universitária, o prédio está caído por conta de um temporal ocorrido “ainda”no inverno passado e a luta de várias gerações está prestes a se apagar da memória dos campomaiorenses.
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