JOSÉ MARIA VASCONCELOS
Minha infância experitou a luta de meus pais pelo-ganha pão, em modesta bodega, no Bairro Piçarra, piçarrenta e favélica. A prosperidade lhes veio com a farmácia, bem depois, graças ao cultivo da espiritualiade, persistência, imensa generosidade para com o próximo e fregueses. D. Dedé e Martinho, (quem não se lembra?), atendiam até caboclos do interior do Maranhão, atrás de uma “consulta”.
Éramos seis filhos, casa rústica, sem água encanada, sem geladeira, comidinha frugal, mas não faltavam as palmadas e lições sobre Deus e de seus mandamentos, completados pelo catecismo e missa na Capela (depois igreja) de São Raimundo Nonato. Ademais, todo dia tínhamos de prestar contas dos estudos. Íamos, a pé, sem dinheiro pro ônibus, ao distante Colégio Domingos Jorge Velho, próximo à Avenida Frei Serafim. E hoje, com prosperidade do país, comida farta, biblioteca virtual, bolsa e tikets pra tudo, eu me dano, só de assistir a tanta preguiça, safadeza e brincadeira com coisa séria, como a dignidade.
Meu pai Deus o recolheu à sua glória. Minha mãe falece aos poucos, alzheimer aguda, 82 anos, saldo da minha eterna gratidão e de meus irmãos. Mais que herança material, eles nos legaram educação. Pobreza nunca nos estimulou a resvalar na malandragem. Somos o resultado da santidade desses exemplares de família abençoada: Médico Vasconcelos, Ivonildes, Paulo, Raquel, Humberto e este esgorregador.
Pif-Paf
O dinheirinho da bodega ainda ajudava a pagar as quase de graça aulas particulares. Mestre Herminho, mulato e deficiente de uma mão, ministrava matemática, debaixo de uma tapera. Armado de palmatória, arregalava os olhos encanecidos pelo tempo. Nós, alunos, mijávamos de medo, tremíamos com os estalos da malvada. Na favela, não se assaltava nem se drogava. Apanhava-se, domava-se o espírito diabólico pelo angelical. Deus ainda existia.
Meus pais internaram-me no seminário capuchinho de Messejana, aos 12 anos. Lá encontrei um segundo Mestre Hermínio, Frei Pio, que nada tinha de pio ou misericórdia. Por nonada, como comer uma fruta do sedutor pomar, sem autorização, lascava uns bolos de incendiada palmatória, sádico e sorridente, repetindo, a cada mão: “Pif ... Paf”. Hoje, tudo vira contrangimento e building, talvez por falta de uns bolos, especialmente nos analistas e defensores dos mimos.
Comentários de leitores:
A coluna do último domingo recebeu diversas manifestações. Até pif-paf por algumas escorregadas:
Adv. Raimundo Nonato, do Rotary Clube Teresina Rio Poti: “Estou gostando muito de seus artigos, especialmente dos “Escorregões”. O último, então, com o balé das vígulas, foi sensacional”. Fernando Meneses de Morais encontrou falha em BENZE-SE, em vez de BENZA-SE. Acertou na palmatória. O administrador de empresa, Oseas, destacou o sucesso da coluna. João Lourival, de Picos: “Sem comentários. O professor disse tudo”. Aryana Nogueira: “...Achei muito interessante sua pauta...” Pedro Bezerra, de Fortaleza também corrigiu BENZE-SE. E duvidou da frase latina que usei: “O certo não é repetita juvant, mas adjuvant”. Nós dois, Pedro, estamos corretos. Minha cunhada, Ângela Vasconcelos, louvou-me. De Brasília, Dr. Gerard Reisender usou pif-paf no BENZE-SE. Bem feito, Zezão Escorregão! Juiz aposentado, Orlando Pinheiro, afirma que um colega gostava de dizer que vírgula é questão de gosto. Valei-me Sta. Vírgula! Escritor e poeta Chico Castro: “Se os professores ensinassem com seu estilo de ensinar...” Já apanhei muito pif-paf por esse estilo engraçado. Orlando Torres Filho, do Rio, sapecou vários bolos, que o espaço é curto para comentá-los. Em Fortaleza, Luiz Dall Olio diz que a coluna está inserida em seu site, semanalmente, com meu crédito. Obriga, Senhor, minha luz!”
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