17 de agosto
ALGUNS COLEGAS DO ESTADUAL
Elmar Carvalho
Um pouco antes do início da solenidade de lançamento do livro “Educação e Educadores de Campo Maior”, de Sílvia Melo, conversei brevemente com sua irmã, a ex-deputada Margarida. Perguntou-me ela sobre em que época fomos colegas de estudo e sobre os nomes de nossos condiscípulos. Respondi-lhe que fomos colegas no Colégio Estadual, onde fiz a terceira e a quarta série do antigo ginásio, a envergar seu uniforme azul e branco, nos anos 1971 e 1972, salvo engano. Foram nossos professores, entre outros, Dr. Hilson Bona, Francisca Teresa Andrade, Luís Francisco Miranda, Eidene, Aracéa de Araújo Rodrigues e o advogado e colega de meu pai no antigo DCT, Francisco das Chagas Moreira e Silva – Dr. Chaguinhas, que nessa época ainda se aventurava a jogar bola; era pai do meu amigo Zé Moura, que ficou na história do futebol campomaiorense. Nesse período, foram diretores do Colégio Estadual a professora Maria Zenita Almendra Pires Ferreira e o jovem advogado Carlos Antônio Souza.
Em 1975 fui embora de Campo Maior. Como não mais voltei a morar em minha cidade, é natural que tenha esquecido o nome de muitos de meus colegas de turma dessa época. De alguns recordo a fisionomia, mas não o nome. Não mais revi vários deles. Casualmente, tive a oportunidade de reencontrar menos de meia dúzia, ao longo desses 36 anos. A vida junta e a vida se encarrega de separar, cada um com as suas circunstâncias e injunções, na luta renhida pela sobrevivência. Além da Margarida Melo, fui colega da Jandira Leite Cavalcante, do Pedro, filho do senhor Agostinho da Água Branca, do Deus Luís, do Valdemar Higino, do Celso, do Otaviano Furtado do Vale e do Antônio Francisco Souza. O Otaviano era uma liderança esportiva. Irmão do grande craque Augusto César, de quem, no meu livro O Pé e a Bola, tive a oportunidade de dizer: “quarto zagueiro, bom no domínio, boa visão, inteligente (também bom no arremesso de copo)”. Em sua posição, com seu estilo clássico, elegante, foi considerado um dos melhores atletas de Campo Maior, tendo atuado em time da capital. Sobre o Otaviano, no referido livro, disse: “Recordo o campo próximo ao colégio Leopoldo Pacheco, em Campo Maior, onde jogava bola todo dia, sob a liderança do amigo Otaviano Furtado do Vale, o Tavico, jogador rápido, hábil e vigoroso, que transitava pela defesa e pelo ataque, funcionando como um coringa e líbero, com atuação predominantemente pela lateral esquerda; era uma espécie de capitão dos dois times, mas tinha o defeito de não gostar de perder, por mais amistosa que fosse a partida”.
O Deus Luís era filho do senhor Luís Pinto, dentista prático e colega de meu pai no velho DCT. Era uma inteligência viva e tinha notável senso de humor. Fazia gozação na base do improviso, aproveitando-se de eventual gafe dos colegas. Tornou-se funcionário de um banco federal. O Pedro formou-se em Direito e exerce a advocacia. O Celso, ao que me parece, era o mais velho da turma. Concentrado, focado sempre na explanação dos professores. Morava para os lados da estação ferroviária. Não tive mais notícias desse bom e aplicado colega. O Valdemar Higino tornou-se servidor do INCRA e hoje é maçom da melhor linhagem, respeitado pelos irmãos. A Jandira era filha do senhor Valdemar Cavalcante, que foi amigo de meu pai, mormente nos tempos da juventude. Graças a ela, que conseguiu um preço camarada com seu pai, como comemoração de nossa colação de grau, como se dizia na época, fomos, num dos ônibus da empresa V. Cavalcante, passar um final de semana em Fortaleza. Foi a primeira vez em que vi “os verdes mares bravios” de José de Alencar. Jovem e ainda um tanto afoito, acostumado apenas com as mansas ondinhas de nosso pequenino Açude Grande, fui “tirar onda” com o Atlântico; ao “pegar um jacaré”, imitando um banhista cearense, acostumado com as manhas das marés, fui levemente arrastado pela onda. Isso me ensinou a ser mais cauteloso, e a tentar driblar os perigos, pois, como já dizia Vinicius de Moraes, são demais os perigos desta vida. Por falar nesse grande menestrel, injustamente chamado de poetinha, vez que é um poetão, recordo que a Margarida tinha um álbum, em que anotava alguns poemas de sua predileção, sendo que um deles era um soneto da autoria desse bardo.
O Antônio Souza residia na Rua do Sol, de poético e brilhante nome, mas jogava futebol no campinho do Leopoldo Pacheco. Era também uma liderança do esporte, e organizava torneios pebolísticos. Atuei em algumas partidas por ele organizadas, a defender o time do Bartolomeu, hoje economiário, primo do amigo Zé Francisco Marques, que me recordou esse fato. O Assis Capucho, hoje neurologista respeitado em São Paulo, primo do Otaviano, também era craque desse time. O Antônio foi um dos colegas mais brilhantes que tive. Era bom em todas as disciplinas, fossem elas da área de ciências exatas, fossem da área de humanidades. Tinha uma memória elefantina, prodigiosa, e sabia de cor a escalação de vários times. E ao que parece não precisava estudar em disciplina espartana, a se martirizar em longas horas de estudo, porquanto jogava todo dia e frequentava as festas do Campo Maior Clube e do Grêmio Recreativo (e, talvez, ainda atacasse em bailes periféricos e alternativos, fora as tertúlias caseiras, então na moda).
Durante muitos anos não tive notícias dele. Localizou-me através da internet, e frequenta meu blog, com relativa assiduidade. De vez em quando, posta comentário. Recentemente, comentou no blog Bitorocara, do João de Deus Netto, dois pequenos trechos de uma matéria que escrevi sobre meus ancestrais. Eis o que ele disse: “É sempre bom ver as intervenções do meritíssimo Elmar Carvalho. Como escreve fácil. Esse dom, aliás, era notório nessa grande figura, na época em que éramos colegas de classe, no glorioso Colégio Estadual, quando tínhamos um amigo comum e também um colega de sala de aula, o Otaviano do Vale, irmão do craque Augusto César, becão de primeira dos melhores times de Campo Maior. Elmar já era um poeta, esse dom veio do berço. Hoje, se revela um grande magistrado. Eu bem que pensei em seguir o Direito, mas vi que não era minha praia, acabei 'virando' jornalista”. E o educandário, com muita justiça, acabou virando Colégio Estadual Jornada Ampliada Professor Raimundinho Andrade, em homenagem a um dos maiores homens da história recente do município. Sempre achei que o Antônio seria um engenheiro civil, pois na época do Estadual era essa a vocação que ele dizia ter. Mas os caminhos e os mistérios da vida também são demais e insondáveis. Tornou-se um notável jornalista em Cuiabá, diretor de um grande portal noticioso, e mereceu receber o título de Cidadão Matogrossense. Esse seu comentário foi postado um pouco depois de a Margarida perguntar pelos nossos colegas. Não sei se foi mera coincidência. Dizem que não existe acaso.
Caro Elmar Carvalho, lendo a sua narrativa com atenção e minúcia, dá prazer reviver o passado, memorizar fatos já distantes de um tempo decorrido, recordando-os com amigos ou conhecidos. Encarando esse pensamento, essas lembranças profundamente agradáveis.
ResponderExcluirNessas viagens ao passado é a influência positiva daqueles mestres que souberam passar aos seus alunos valores morais que sempre produziram bons resultados.
Acredito eu, que fiz parte deste quadro de alunos no Colégio Estadual onde conclui o Curso Científico em 1972, diploma assinado pela brilhante Diretora Maria Zenita Almendra Pires que carrego comigo até hoje. Em janeiro de 73 rumei para SP a bordo do Expresso de Luxo Teresina onde me radiquei e constitui familia, atualmente sou aposentado como auditor bancário e faço trabalhos pararelos, mas com o pensamento sempre voltado em retornar ao meu querido torrão Piaui.
hl/sp
meu estimado amigo e conterraneo elmar,ao ler seu relato,me veio a lembrança de guando tive a honra e a felicidade,de ter podido,conviver com voce e com o nosso inesquecivel edmar pinto, na casa do estudante pobre do piaui,quando tivemos momentos de muita dificuldades,mas também de muita descontraçao e brincadeiras,por parte do edmar,que como todos sabemos era muito alegre e ,que até hoje quando das inhas oraçoes diarias,o nome dele sempre está e estará presente no mais profundo do meu coraçao.
ResponderExcluirespero um dia ter o prazer de rever voce,para lhe dar um abraço fraterno,pois voce faz parte da minha biografia de vida,hoje moro em maringá,parana´,sou casado co a nidia filha do seu jaime medina,colega do seu pai do correios,tenho tres filhas,marilia,natalia e leticia,as duas primeiras, ja estao formadas,a caçula leticia,com l7 anos,acabou de ser aprovada para o curso de biomedicina,na uem,considerada pelo mec,como umas das melhores universidade publicas do pais
aproveito ainda para colocar a minha casa a disposiçao do amigo e conterraneos,para quando voce quizer vir conhecer maringá.
um fraterno e sincero abraço.
Rui Saraiva de LIma
Caro amigo Rui,
ResponderExcluirFiquei feliz com o seu comentário, e principalmente com as boas notícias suas e de sua família.
O Edmar Pinto era brincalhão, mas sem maldade, e certamente está em um bom lugar de outra dimensão. Já falei sobre ele no meu livro O Pé e a Bola. Com certeza, foi um dos maiores atletas do futebol piauiense.
Sucesso total para o amigo e sua família.
Um forte abraço,
Elmar