REGINALDO MIRANDA
Abdias Neves somente não figura entre os fundadores da Academia Piauiense de Letras porque naquela oportunidade encontrava-se no Rio de Janeiro, exercendo o mandato de senador da República. Porém, aderiu desde a primeira hora à nova instituição cultural, tomando assento em uma de suas cadeiras, a de n.º 11 e participando de suas atividades até quando faleceu em 28 de agosto de 1928, na cidade de Teresina. Naquele tempo era ele um dos três principais nomes da cultura piauiense, dividindo a liderança cultural com Clodoaldo Freitas e Higino Cunha, em torno de quem girava a vida cultural do Estado. Mais tarde, tornou-se também patrono da Cadeira n.º 33 da mesma Academia. Jurista, político, jornalista, professor, poeta, romancista e historiador, foi um dos mais ativos e respeitados intelectuais de seu tempo.
Nascido em 19 de novembro de 1876, na referida cidade de Teresina, era filho de João da Costa Neves, servidor público, e de Delfina Maria de Oliveira Neves. Foi casado com Cristina Neves.
Aos quinze anos de idade ficou órfão de pai, tendo de enfrentar desde cedo as asperezas da vida.
Fez o primário e os estudos preparatórios em sua cidade natal, de onde seguiu para o Recife, a fim de continuar sua formação. Concluiu os estudos jurídicos em 1898, sendo aprovado com distinção, na mesma turma de que fizeram parte os também piauienses Miguel Rosa, Henrique Couto, Laudelino Batista e Heitor Castelo Branco.
De regresso a Teresina, o bacharel Abdias Neves ingressou na magistratura, ocupando os cargos de Juiz de Direito nas comarcas de Piracuruca (1900 – 1902) e Marvão, hoje Castelo do Piauí (1902). Exerceu ainda os cargos de Juiz Substituto da Justiça Federal (1902 – 1914), Secretário de Governo (1914), Procurador Fiscal da Fazenda e Chefe de Polícia.
A par dessa brilhante carreira jurídica, ingressou no magistério, lecionando as disciplinas Inglês, Alemão e Lógica no Liceu Piauiense e Pedagogia, na Escola Normal Oficial do Estado.
Com essa intensa atividade, não tardou a ingressar na política, elegendo-se Senador da República para o período de 08/05/1915 a 31/01/1924. Foi o mais jovem da sua época, chegando a ocupar, sucessivamente, os cargos de 4º, 3º, 2º e 1º Secretário da mesa do Senado Federal, de 1919 a 1922.
Sobre sua estréia no Senado, lembra Monsenhor Chaves: “não foi muito auspiciosa. É que, após sua eleição, o marechal Pires Ferreira, num entusiasmo muito provinciano, havia comunicado à imprensa que Abdias era o Rui Barbosa do Piauí, que ia desbancar o outro Rui Barbosa, da Bahia. Quando desembarcou no Rio, franzino, de narigão vermelho, havia um ambiente desfavorável de prevenção e quase hostilidade contra ele. Mas Abdias não ia se opor a Rui; mesmo com a grande vaidade que possuía, não se considerava um Rui. Vivíssimo, simpático, insinuante, logo desfez a onda e se impôs nas afirmações de seu talento e de sua capacidade de trabalho”.
Intelectual irrequieto, desde cedo militou no jornalismo, distinguindo-se “pelo estilo enxuto, pela cultura, pela linguagem elevada e pela argumentação incisiva”, no dizer de Wilson Carvalho Gonçalves. Desde sua juventude dedicou-se às letras: aos 17 anos já era o redator principal de A Ideia e, posteriormente, fundou os jornais A Crisálida, A Notícia, O Dia e foi co-fundador de A Pátria e do Almanaque Piauiense. Foi também colaborador nos jornais O Redator, A Luz, o Norte, O Estafeta e o Jornal de Notícias, além das revistas da Academia Piauiense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí. Em 1906 escreveu uma série de artigos intitulados “Das Deutschtung In Sud-Brasilian”, negando a germanização do sul do Brasil.
Festejado pela crítica como um dos principais escritores piauienses, Abdias Neves publicou obras de valor histórico-literário, entre as quais se destacam: A Guerra do Fidié (1907), sobre a guerra da Independência no Piauí; Imunidades Parlamentares (1908), obra de cunho jurídico; O Padre Perante a História (1908), conferência; Um Manicaca (1909), romance de costumes e tipos piauienses; Psicologia do Cristianismo (1910); A Elegibilidade do Marechal (1910), versando sobre a eleição do Marechal Hermes da Fonseca; Autonomia Municipal – limites que lhe traçou a Constituição (1913); Direitos Políticos; O Brasil e as Esferas de Influência na Conferência da Paz (1919); O Piauí na Confederação do Equador (1921); Aspectos do Piauí(1926); Guerra dos Balaios; Política das Estradas de Ferro e Finanças da República; Os Mitos Solares dos Índios in Almanaque Garnier, 1908, páginas 238-240, dentre outras.
Foi, portanto, Abdias da Costa Neves uma das maiores inteligências do Piauí, atuando com brilho e distinção, por trinta anos, desde sua formatura até o óbito. Ao falecer, deixou uma lacuna irreparável na vida cultural piauiense.
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