segunda-feira, 2 de abril de 2012

CACHOEIRA DO ROBERTO


Reginaldo Miranda 
Presidente da Academia Piauiense de Letras


Uma das mais antigas povoações do sudoeste pernambucano é a vila de Cachoeira do Roberto, cujas raízes históricas remontam ao princípio do século XIX, quando ali se estabeleceu com seus rebanhos o agropecuarista piauiense Roberto Ramos da Silva.
Cachoeira era um inculto terreno que pertencera primeiramente ao português Valério Coelho Rodrigues, estabelecido na fazenda Paulista, hoje Paulistana, no Piauí, onde faleceu em 1783. Depois, teria passado ao seu filho Estêvão Rodrigues Coelho que alguns anos depois, sem desenvolver qualquer atividade econômica no imóvel, o vendeu ao referido Roberto Ramos por cinco contos de réis. Desde então o adquirente estabeleceu-se com sua família e escravos no lugar, assentando a caiçara de seus currais e desenvolvendo laborioso trabalho de agricultura e pecuária. Porém, com seu rebanho já em número avantajado passou a enfrentar dificuldades com a escassez de água e pastagens em face das constantes estiagens que ainda hoje afligem aquela região do semi-árido nordestino. Consta que era católico fervoroso e segundo a tradição em pagamento de promessa pela mantença de seu rebanho, por volta de 1808 deu início à construção da capela de Nossa Senhora das Dores, santa de sua devoção. Também, deu início à tradicional festa do Divino Espírito Santo. Todavia, faleceu sem concluir o templo que iniciara próximo à sua residência. Este somente foi concluído por volta de 1817, por sua filha Ana Maria, juntamente com o esposo José Santana, que tomaram para si a responsabilidade pela construção, assim como pela consolidação da festa do Divino. Desde então, o padre em desobriga passou a celebrar a missa e desenvolver as atividades católicas no novo templo. E o lugar ficou conhecido por “Cachoeira do Roberto”, em homenagem ao seu proprietário e fundador.
Roberto Ramos da Silva, também conhecido por “Roberto da Cachoeira”, era natural da cidade de Oeiras, então capital do Estado do Piauí, sendo filho do português Jorge Ramos, fazendeiro e funcionário do real serviço, e de sua esposa Delfina Rodrigues Seabra, que ao lado de Frei Henrique construiu o cemitério de Cachoeira do Roberto, sendo, porém, sepultada no altar-mor da referida capela de Nossa Senhora das Dores, quando faleceu aos 105 anos de idade. Consta que Roberto da Cachoeira fez-se latifundiário construindo invejável patrimônio que, posteriormente, foi dividido entre seus 16 filhos.
A povoação pertencia originalmente ao Distrito de Santa Maria da Boa Vista, depois cidade e município de mesmo nome. Todavia, pela Lei Provincial n.º 530, de 07 de junho de 1862, que criou o município de Petrolina passou a este, retornando para o município original pela Lei n.º 601, de 13 de maio de 1864, que extinguiu este último. Por fim, retornou a Petrolina pela Lei Provincial n.º 921, de 18 de maio de 1870, que restabeleceu sua autonomia administrativa. No entanto, em face de seu desenvolvimento foi elevado à sede distrital pela Lei Provincial n.º 758, de 05 de julho de 1867, permanecendo integrando o Município de Petrolina e como tal permaneceu por largos anos.
Todavia, o progresso da povoação estacionaria a partir de 1926, como efeito da construção da Estrada de Ferro Petrolina/Teresina que, ao invés de passar pela tradicional vila de Cachoeira do Roberto, em novo traçado passou pela vizinha fazenda “Inveja”, sucessivamente de Francisco Rodrigues da Silva e Francisco Rodrigues Coelho. Então, esse novo lugar que, a partir de 1928 recebeu o nome de São João de Afrânio em homenagem ao Engenheiro Afrânio de Melo Franco, um dos responsáveis pela obra, prosperou em prejuízo de Cachoeira do Roberto. Por fim, essa decadência econômica se completaria com a edição do decreto-lei estadual n.º 235, de 09 de dezembro de 1938, que extingue o distrito de Cachoeira do Roberto, sendo seu território repartido entre os distritos de Afrânio(ex-São João de Afrânio), Rajada e Poço Dantas, hoje cidades de mesmo nome.
E permanece a povoação de Cachoeira do Roberto nessa situação decadente até a criação do novo município de Afrânio, pela lei estadual n.º 4.983, de 20 de dezembro de 1963, com instalação oficial em 31 de maio do ano seguinte. Então, nesse interregno, pela lei municipal n.º 28 de 23 de dezembro de 1963, é restabelecido o distrito de Cachoeira do Roberto, agora com novos limites territoriais e pertencente ao novo município, em cuja situação permanece até a atualidade. Segundo o jovem historiador Ricardo de Araújo Rodrigues – que exerce o magistério em Afrânio –, o distrito sobrevive da agricultura de subsistência, pecuária extensiva e comércio de gêneros alimentícios. Atualmente possui 90 domicílios e 300 habitantes(IBGE – Censo, 2011) e possui um cartório de registro civil das pessoas naturais.
Segundo informações que temos, a festa do Divino Espírito Santo é muito tradicional em Cachoeira do Roberto, reunindo grande número de fiéis no novenário que encerra-se no dia de “Pentencostes”, com festas e quermesses.
No que se refere aos 16 filhos de Roberto da Cachoeira, sei apenas que um de nome Roberto Ramos da Silva Filho, estabeleceu-se no vizinho território de Casa Nova(BA), onde faleceu em avançada idade, no ano de 1934, deixando descendência. Ao que sei a referida filha Ana Maria Ramos foi casada com o fazendeiro José Santana, parece que descendente do português Valério Coelho Rodrigues, gerando entre outros filhos: Francisco Martins Santana, que foi casado com Domingas Santana e Bertolina Maria de Jesus, que foi casada com José Marreiros. O primeiro casal gerou entre outros filhos, meu bisavô Teodoro Francisco Martins, que foi casado com sua prima Adriana Maria de Jesus(minha bisavó), filha do segundo casal e que depois de viúva mudou-se para São João do Piauí, onde faleceu em 19 de fevereiro de 1959, aos 92 anos de idade. Esses últimos são os pais de minha avó paterna, Antonia Maria da Conceição, nascida na Cachoeira do Roberto em 1907, onde viveu sua infância e juventude, casando-se na mencionada capela de Nossa Senhora das Dores, em 07 de julho de 1925, com meu avô paterno Joaquim da Silva Brasil, natural do arraial de Santa Rita, município de Casa Nova(BA), depois de alguns anos passando ao sul do Piauí, onde faleceram.
Com essas notas coligidas entre informações orais e fontes secundárias presto uma homenagem à terra de minha avó paterna, esperando no futuro poder confrontá-las, corrigi-las e complementá-las com informações mais seguras advindas de fontes documentais.

(Artigo publicado originalmente no jornal Meio Norte, de Teresina – PI, edições de 23 e 30 de março de 2012). 

4 comentários:

  1. Parabéns pela publicação. Este Artigo é importantíssimo para reconhecimento e valorização da história afraniense, estimulando a busca por meio de pesquisa para obter mais informações acerca dos aspectos histórico e cultural de Afrânio- PE.

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  2. ADELMARIO ANDRADE SOUZA28 de maio de 2012 às 19:17

    e isso ai, uma festa tão bonita como essa que é uma manifestação de cultura e fé,merece ser reconhecida.

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  3. Elmar, bom dia! Você tem conhecimento nesta árvore de alguma pessoa chamada Maria Martinha de Amorim?

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