VIÇOSA, SEMPRE VIÇOSA E CHEIA DE GRAÇA (1)
Elmar Carvalho
Alguns meses atrás, disse para o amigo Vicente Miranda,
notável historiador, autor de Três Séculos de Caminhada, que
revela a saga de sua família, e consequentemente termina por conter
importantes dados históricos do Ceará e do Piauí, porquanto fala
de velhas estirpes de Viçosa do Ceará e de Piracuruca, que estava
desejando adquirir um pequeno lote de terra em sua aprazível terra
natal. Ele, então, me recomendou ter calma, e me ofereceu seu sítio
para passar um final de semana, para que eu pudesse procurar um
imóvel de melhor preço e de boa localização. Embora no momento eu
tenha abortado essa ideia, pedi-lhe a chave do sítio, que ele me
oferecera espontaneamente, e fui passar o sábado e o domingo na
serrana e imperial Viçosa.
Fomos, além de mim, minha mulher, Fátima, meu pai,
Miguel, minha mãe, Rosália, minha irmã Maria José e o seu filho
Almeida Neto. Meus pais vieram de Campo Maior, em companhia do meu
irmão Antônio José e de sua mulher Maria de Jesus. A minha irmã
veio de Parnaíba, onde reside. Ainda desta cidade vieram o tenente
Nonato Freitas (Natim), sua namorada Ana Paulo, o Beré, meu cunhado,
e o meu amigo e compadre Canindé Correia. No meu carro foram também
minha filha Elmara, sua amiga Williane e meu amigo Zé Francisco
Marques, instrumentista, compositor e professor da rede pública e
particular, que recentemente foi premiado pelo governo estadual como
o melhor professor de Campo Maior, através de eleição em que os
votantes foram os alunos.
Ao chegarmos, fui buscar as chaves da casa, que se
encontravam com Antônio Pedro, irmão do Vicente Miranda, e que, em
sua motocicleta, seria nosso guia, até o sítio. Ele tratou de me
entregar um litro da legítima e pura cachaça serrana, por
recomendação vicentina, para rebater o frio da Ibiapaba. Quis
desobrigá-lo da missão de nos guiar, porquanto, em Teresina, o
nobre Vicente me fizera desenhar um mapa, sob sua orientação, onde
anotei os detalhes suficientes para não me embaraçar na localização
da chácara. Mas Antônio Pedro foi firme e enfático:
- De maneira nenhuma, tenho que orientá-los, se não o
Vicente vai se chatear.
Fomos os primeiros a chegar, mas um pouco depois
chegaram os demais companheiros, vindos de Parnaíba. Após nos
instalarmos, com os trabalhos de armação de redes e colocação das
bagagens nos aposentos adequados, fomos dar início aos trabalhos de
pasto e de cautelosa libação. Ficamos num dos alpendres, a olhar a
floresta e os cerros a se azularem na distância. Para nossa maior
satisfação, quando foi por volta de 3 horas da tarde, caiu um
repentina e generosa chuva. O clima serrano, agradável, temperado,
tornou-se ainda mais frio. Parecia até uma carícia celestial a nos
afagar a pele. De imediato formaram-se densas névoas, por entre o
verde das árvores e nos cabeços dos montes. Então, pela primeira
vez, ouvi o canto melodioso e alegre de uma sericora, a saudar a
chuva que caía.
Quando foi às quatro horas da tarde o Canindé anunciou
que ia dormir, pois iria às 18 horas iria com o Natim assistir a um
jogo, pela televisão, na cidade, que fica a poucos quilômetros.
Pensei que ele iria ser traído pelo sono, mas, quando foi
precisamente no horário marcado, acordou e cobrou do Natim o
cumprimento do trato. Este honrou a palavra, e os dois foram assistir
ao futebol, porém retornaram antes do início do segundo tempo. A
conversa e a música prosseguiram noite adentro. O Zé Francisco
Marques estava deveras inspirado, e com certeza não perderia para o
Turíbio Santos numa disputa entre violonistas consumados.
Quando paramos de perturbar o mestre com pedidos e mais
pedidos para que ele tocasse determinada música, e ele pôde seguir
o seu próprio repertório, por sinal de muito bom gosto, a sua
performance solo transformou-se num verdadeiro espetáculo musical,
com músicas que transitavam da velha guarda à velha jovem guarda,
passando pela velha e boa bossa nova e pela tropicália, sem descurar
de uma belas pepitas da MPB.
Obviamente, não teve vez a famigerada axé music, o
horripilante funk e nem o enfadonho forró eletrônico, em que
imperam as letras grosseiras, de evidente mau gosto. A música
prosseguiu no silêncio e na solidão da chapada da Ibiapaba até o
cansaço e o bom senso nos recomendarem o repouso e o sono. Dormi
muito bem. Ainda que eu pudesse, não precisaria desligar o ar
condicionado da fria madrugada serrana.
Meu Mestre,
ResponderExcluirDe fato foi um programa mágico, daqueles em que a nossa memória acondiciona de maneira voluntária lembranças que jamais serão esquecidas. Quanto à noite, o nosso momento lítero-musical realmente coroou o que já parecia estar no seu ápice. Foi tudo perfeito: as pessoas, o clima e sobretudo a sintonia de nossos pensamentos ao entoarmos juntos as canções que eternizamos em nossas mentes.
Agradeço-lhe por tudo e desejo-lhe longa vida meu mestre, meu amigo.
Olha aí Vicente Miranda, nossa Viçossa contada por um "P"oeta, como ganha outra dimensão, em matéria de beleza.
ResponderExcluirNão precisa de muito esforço, porque Viçosa é naturalmente cheia de encantos e beleza.
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