16 de maio Diário Incontínuo
O VELHO CHALÉ DE JOSÉ DE FREITAS (PARTE 1)
Elmar Carvalho
Li na internet que o atual prefeito de José de Freitas,
Ricardo Camarço, cumprindo promessa política antiga, restaurou o
chalé onde morou José Rodrigues de Almendra da Fonseca Freitas,
patriarca da família Almendra Freitas no Piauí. Nasceu em Portugal
em 07.05.1865 e faleceu em 01.03.1931, em Livramento, hoje cidade de
José de Freitas, em sua homenagem. Foi o fundador da Casa Almendra,
uma das mais importantes firmas comerciais em sua época, ao lado da
Casa Inglesa, indústria Moraes e Roland Jacob. Exerceu a liderança
política de José de Freitas (da qual foi intendente), por mais de
duas décadas. Foi deputado estadual em quatro legislaturas. Seu neto
Aluísio Napoleão escreveu-lhe a biografia, em cujo livro revela que
ele tinha preocupações ecológicas. Mas não é dele propriamente
que desejo falar, e sim da Vila do Tejo, mais conhecida simplesmente
como o chalé.
No ano de 1970, quando eu tinha de 13 para 14 anos,
morei em José de Freitas, numa casa que ficava perto e na mesma rua
da residência do afamado marceneiro Zezé Barros, do qual fui
aprendiz por alguns meses, a pedido de minha mãe, que me desejava
dar alguma ocupação. Ao lado de nossa casa morava a viúva
conhecida como dona Irá (Iracema). Eu era amigo de seu filho Carlos,
que desde essa época não mais revi. O Itamar, bom de drible, era
também nosso amigo.
Jogávamos bola todo dia num campo de areia, encravado
entre grandes mangueiras, situado na frente da casa do Zezé Barros.
Eu e o Carlos estudávamos no Ginásio Antônio Freitas, no qual eram
professores o padre Deusdete Craveiro de Melo, o ecetista Sebastião,
colega de meu pai, a promotora de Justiça, Durvalina Pereira dos
Santos, mas que todos chamávamos simplesmente de doutora, o José
Acélio Correia, gerente da agência local do Banco do Estado. Entre
outros colegas, havia o Edmílson, irmão do Itamar, o “Bacharel”,
o João Rocha, o Paulo, que morava perto do famoso Bar Glória,
célebre pelo seu balcão moderno e lustroso.
Nessa época, com a ajuda do padre Deusdete, liderei um
grupo de garotos e criamos um campo de futebol, na frente do
cemitério velho, também chamado de cemitério dos ricos. O padre
deu as traves, a bola e os tornos de marcação. Fiz uma carta ao
Armazém Paraíba, narrando essa história, e terminei conseguindo
uma equipe do Santos, que agora está na moda com o Neymar e outros
craques. Pelo menos uma vez por semana, eu, o Carlos e o Itamar, além
de outros companheiros, íamos a caminhar até o açude Pitombeira,
que ficava a alguns quilômetros de nossa casa. Os quintais se abriam
em plena dádiva, e às vezes degustávamos umas mangas no caminho.
No paredão do açude havia pés de criolis e outras árvores, sempre
verdes, que formavam uma alameda. Serviam de pano de fundo para os
nossos saltos do trampolim.
Nesse itinerário, algumas vezes passávamos pelo chalé,
que já nessa época parecia abandonado, e já um tanto deteriorado.
Tínhamos certo receio dele, e nunca entramos no imóvel. Portanto,
nunca conheci o seu interior. Já nessa época eu me interessava por
história e estória. Sabia que ele fora a residência do patriarca
dos Freitas, cuja biografia eu já lera em sua lápide, no cemitério
a que fiz referência. Ali eu já pesquisara dados biográficos de
Antônio de Almendra Freitas, que fora deputado estadual, e de dona
Cândida Cunha, que contribuiu com grandes cabedais para a construção
da bela igreja de São Francisco.
Em muitas de nossas perambulações passávamos por essa
igreja e pelo teatro, que lhe ficava perto. No ano em que morei em
José de Freitas, fizeram show no teatro os ídolos populares Waldick
Soriano e Roberto Muller, este piauiense de Piracuruca. Seguíamos
para escalar o morro, que fica no centro comercial e histórico da
cidade. Tínhamos diferentes trilhas para subi-lo, sendo a menos
usada a escadaria de cento e tanto degraus. Preferíamos os caminhos
que nos requeriam mais esforço e mais adrenalina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário