Antonio Miranda com o índio ALVARO TUKANO (diretor do Museu do Indio de Brasilia) em cerimônia no auditório da Biblioteca Nacional de Brasilia, 6 dez. 2010 |
Antônio Miranda
I
Também
vieram de longe
e
plantaram raízes
imemoriais
no
jardim de sua eleição
desde a
diáspora primeva
da
Criação.
Não
sabemos se temos
a mesma
origem
ou se
nascemos já divididos
disputando
o mesmo espaço.
Descimentos
e preamentos
bandeirantes
dizimaram
e escravizaram
índios
sem religião
como
animais
errantes.
II
Os
sobreviventes estão
confinados
em reservas
como
num zoológico humano.
Duas
culturas não podem
ocupar o
mesmo lugar:
ou o
índio é integrado
à
sociedade
e perde
a identidade tribal
ou
refugia-se na comunidade.
Garimpeiros,
pecuaristas
seringueiros
e extrativistas
(caraíbas)
avançam
com motosserras.
O índio
não é ambicioso
nem
ocioso.
A terra
é a existência do índio
-terra
de todos, comunitária
terra
que é partícula
em
movimento e assimilação.
Terra e
índio: um vive da outra.
Mãe
e filho, indivisíveis.
Terra
sagrada
de húmus
vivo e fértil
de seus
antepassados
com que
o índio abona
o
inhame, o cará e a taioba.
Em que
cultiva, caça e pesca
e colhe,
apenas quando
e quanto
necessita.
III
Para o
índio não há amanhã
em
qualquer sentido pois
o tempo
não existe
em sua
percepção:
o
movimento do corpo
num
ímpeto contínuo
(da
vontade em ação)
é que
move a rede
(e não
os pés e a mão)
como
move a vida.
Dias
alternam-se sem
alterações
e altercações
-de
pesca, de fruta acesa
que logo
vai compartilhar
no
complemento do beiju
do
pirarucu e do tucunaré.
O fogo
está sempre aceso
na
aldeia e almas intermitentes
de
dormir e despertar
de
morrer e renascer:
um tempo
dentro de outro
tempo
infinito e cego.
Fogo
feito para irmanar-se
depois
de buscar a lenha
que não
armazena jamais
para
não quebrar a rotina.
Um
grande poder de concentração
-e de
dedicação extrema-
com todo
o tempo do mundo
mas
sem a noção de tempo.
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