As Aves da
Minha Terra
J.
Coriolano José Coriolano de Sousa Lima (1829 - 1869)
As aves da minha terra,
Quer no sertão, quer na serra,
Sabem falar!
Esta seu fado carpindo,
Aquela a lira ferindo
No seu trovar!
Outras aos matos ensina
Doces nomes que amofinam
Seus corações;
Esses nomes tão queridos,
Sempre tristes – repetidos
Nas solidões.
Quando vai findando o dia,
E que, escondido, alumia
Ainda o sol,
A pomba no tronco antigo
Carpe saudades do amigo
Ao arrebol!
De outra parte saltitando
De galho em galho cantando
Gentil sofreu,
Toca na lira afinada
Uma canção modulada
Que o amor lhe deu!
E aquela que além se esconde,
Lá chama (ninguém responde)
“Ó Zabelê!”
Tão triste! Lá foi –se embora,
E a amada que tanto chora
Ninguém n’a vê!
E aquela que ali suspira,
Que sofre, que até delira
Num seco pão,
Em tom sentido e penoso
Lá chama o chorado esposo
“João-corta-pão!”
também a rola gemendo
o esposo que viu morrendo
se lastimou!
Seu fim co’o sol comparando
No ocaso, diz suspirando:
“Fogo-apagou!”
Da cegueira que não o deixa
O caboré já se queixa
Cantando ao sol,
Repetindo assim o nome
Da doença que o consome:
“Terçol-terçol!...”
Também da beira do rio
Quando tudo é já sombrio
De um mulungu,
A infeliz, a desgraçada
Chama com voz abafada:
“Jacurutu!”
Mas... que soldado tão belo
Faz com seu peito amarelo
A guarda ali?
É uma ave mui guerreira,
Que, pulando na aroeira
Diz: “Bem-te-vi!”
Também diz um, todo o dia,
Quando o sol põe-se ou radia,
E surge além;
Chamando pela esposinha,
Dia a saudosa avezinha,
“Vem vem!”
Vede lá também aquela,
Chama-se a tal bacharela
Pega ou cancão;
Ela sorri-se, ela fala,
Assobia, canta, estala...
Que compr’ensão!
Eis ali outra – tão bela!
Rompendo, qual sentinela,
O denso véu
Da mudez da noite escura,
Quando, vendo a criatura,
Grita: “tetéu!”
Dai, porém, ao papagaio
Da oratória o louro, daí-o,
Pois nisto estou:
No dizer, no estilo é uma,
É das aves na tribuna
O Mirabeau!
É terra que tem primores
A terra dos meus amores,
Onde nasci!
As aves de lá se falam,
Cantam, suspiros exalam
No Piauí!
As aves da minha terra,
Quer no sertão, quer na serra,
Sabem falar!
Esta seu fado carpindo,
Aquela a lira ferindo
No seu trovar!
Outras aos matos ensina
Doces nomes que amofinam
Seus corações;
Esses nomes tão queridos,
Sempre tristes – repetidos
Nas solidões.
Quando vai findando o dia,
E que, escondido, alumia
Ainda o sol,
A pomba no tronco antigo
Carpe saudades do amigo
Ao arrebol!
De outra parte saltitando
De galho em galho cantando
Gentil sofreu,
Toca na lira afinada
Uma canção modulada
Que o amor lhe deu!
E aquela que além se esconde,
Lá chama (ninguém responde)
“Ó Zabelê!”
Tão triste! Lá foi –se embora,
E a amada que tanto chora
Ninguém n’a vê!
E aquela que ali suspira,
Que sofre, que até delira
Num seco pão,
Em tom sentido e penoso
Lá chama o chorado esposo
“João-corta-pão!”
também a rola gemendo
o esposo que viu morrendo
se lastimou!
Seu fim co’o sol comparando
No ocaso, diz suspirando:
“Fogo-apagou!”
Da cegueira que não o deixa
O caboré já se queixa
Cantando ao sol,
Repetindo assim o nome
Da doença que o consome:
“Terçol-terçol!...”
Também da beira do rio
Quando tudo é já sombrio
De um mulungu,
A infeliz, a desgraçada
Chama com voz abafada:
“Jacurutu!”
Mas... que soldado tão belo
Faz com seu peito amarelo
A guarda ali?
É uma ave mui guerreira,
Que, pulando na aroeira
Diz: “Bem-te-vi!”
Também diz um, todo o dia,
Quando o sol põe-se ou radia,
E surge além;
Chamando pela esposinha,
Dia a saudosa avezinha,
“Vem vem!”
Vede lá também aquela,
Chama-se a tal bacharela
Pega ou cancão;
Ela sorri-se, ela fala,
Assobia, canta, estala...
Que compr’ensão!
Eis ali outra – tão bela!
Rompendo, qual sentinela,
O denso véu
Da mudez da noite escura,
Quando, vendo a criatura,
Grita: “tetéu!”
Dai, porém, ao papagaio
Da oratória o louro, daí-o,
Pois nisto estou:
No dizer, no estilo é uma,
É das aves na tribuna
O Mirabeau!
É terra que tem primores
A terra dos meus amores,
Onde nasci!
As aves de lá se falam,
Cantam, suspiros exalam
No Piauí!
Fonte: Blog Poesias José Coriolano
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