domingo, 15 de julho de 2012

Seleta Piauiense - J. Coriolano





As Aves da Minha Terra

J. Coriolano José Coriolano de Sousa Lima (1829 - 1869)

As aves da minha terra,
Quer no sertão, quer na serra,
Sabem falar!
Esta seu fado carpindo,
Aquela a lira ferindo
No seu trovar!

Outras aos matos ensina
Doces nomes que amofinam
Seus corações;
Esses nomes tão queridos,
Sempre tristes – repetidos
Nas solidões.

Quando vai findando o dia,
E que, escondido, alumia
Ainda o sol,
A pomba no tronco antigo
Carpe saudades do amigo
Ao arrebol!

De outra parte saltitando
De galho em galho cantando
Gentil sofreu,
Toca na lira afinada
Uma canção modulada
Que o amor lhe deu!

E aquela que além se esconde,
Lá chama (ninguém responde)
“Ó Zabelê!”
Tão triste! Lá foi –se embora,
E a amada que tanto chora
Ninguém n’a vê!

E aquela que ali suspira,
Que sofre, que até delira
Num seco pão,
Em tom sentido e penoso
Lá chama o chorado esposo
“João-corta-pão!”

também a rola gemendo
o esposo que viu morrendo
se lastimou!
Seu fim co’o sol comparando
No ocaso, diz suspirando:
“Fogo-apagou!”

Da cegueira que não o deixa
O caboré já se queixa
Cantando ao sol,
Repetindo assim o nome
Da doença que o consome:
“Terçol-terçol!...”

Também da beira do rio
Quando tudo é já sombrio
De um mulungu,
A infeliz, a desgraçada
Chama com voz abafada:
“Jacurutu!”

Mas... que soldado tão belo
Faz com seu peito amarelo
A guarda ali?
É uma ave mui guerreira,
Que, pulando na aroeira
Diz: “Bem-te-vi!”

Também diz um, todo o dia,
Quando o sol põe-se ou radia,
E surge além;
Chamando pela esposinha,
Dia a saudosa avezinha,
“Vem vem!”

Vede lá também aquela,
Chama-se a tal bacharela
Pega ou cancão;
Ela sorri-se, ela fala,
Assobia, canta, estala...
Que compr’ensão!

Eis ali outra – tão bela!
Rompendo, qual sentinela,
O denso véu
Da mudez da noite escura,
Quando, vendo a criatura,
Grita: “tetéu!”

Dai, porém, ao papagaio
Da oratória o louro, daí-o,
Pois nisto estou:
No dizer, no estilo é uma,
É das aves na tribuna
O Mirabeau!

É terra que tem primores
A terra dos meus amores,
Onde nasci!
As aves de lá se falam,
Cantam, suspiros exalam
No Piauí! 

Fonte: Blog Poesias José Coriolano

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