José
Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Você já participou de festa de aniversário, durante
a qual os parabéns, velinhas acesas, presentes e abraços são
dirigidos a um intruso em vez do aniversariante? Só conheço um,
Jesus Cristo. O cartaz do Mestre anda baixo até nas cidades
interioranas, onde, em tempo de festejos do padroeiro, geralmente
Maria, a sociedade se esbalda em farras, folia de bandas, procissão,
leilões, distribuição de títulos a autoridades e convidados
especiais.
No encerramento do ano litúrgico, em novembro,
saudou-se o Cristo Rei, uma liturgia insossa, sem foguetório, sem
procissão, sem rasgos e aplausos coletivos. A coroação festiva
coube, porém, à Mãe Rainha, programada para receber caravanas de
devotos em ônibus fretados.
Na primeira página do jornal Diário do Povo, uma
bela fotografia de tradicional presépio na Zona Norte de Teresina,
que atrai curiosos de toda parte. Ganha um pastel da Maria Divina
quem souber qual a personagem mais destacada no presépio. Acho que
você acertou: uma enorme estátua de Maria. Sabe qual a segunda
maior? Se acertar, ganha um assado de bode na toca da Maria Paixão,
no Mercado da Piçarra. Ninguém acertou: estátua do arcanjo Miguel.
Adivinhe quem aparece quase dez vezes para delírio da garotada?
Fácil, fácil: mascotes de Papai Noel, o intruso que rouba as
atenções do aniversariante. Finalmente, cadê o Menino Jesus? Não
sei, não vi. Talvez um bonequinho inexpressivo afundado em feno.
Cristo, aniversariante sem velas, sem bolo, sem palmas,
sem parabéns, cercado de vários mascotes de Papai Noel. Quase dez.
Papai Noel hilozoísta, que parece gente, que encanta, que adverte
para não fazer xixi na cama, que pratica o bem, que distribui
presentes, que promete o céu. O Cristo é sobra de festa, servo
sofredor, anônimo para muitos que confessam a fé, sem nunca ler um
dos evangelhos.
Na minha casa, estão preparando bonita ceia natalina,
correndo lista de amigo oculto, ornamentando, enfeitando paredes e
portas. Alguém vai se travestir de Papai Noel. Horror! Decidi: só
participarei do evento se houver uma reunião, dias antes, para se
debruçar sobre as profecias e episódios bíblicos em torno do
evento. Não se vai a aniversário se o aniversariante se encontra
ausente. Nem o conhece para abraçá-lo.
A tradição cristã da festa natalina é honrar o
Filho de Deus, que "estendeu sua tenda no meio de nós". O
capitalismo substituiu-O por um fantoche hilozoísta, com trejeitos
humanos e celestiais, vindo das geleiras da imaginação consumista,
carregado de boas-novas e presentes.
A data do nascimento de Cristo é nebulosa e
controvertida. Até o século III, festejava-se dia 6 de janeiro. No
século IV, foi fixado em 25 de dezembro pelas autoridades cristãs,
para desmistificar as comemorações pagãs de bebedeiras e
comilanças em louvar a divindades solares aniversariantes. Bons
motivos para se explicar como uma data tão sagrada de Cristo se
paganiza através do tempo.
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