Francisco
Miguel de Moura
Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras
O
título do artigo de hoje é marcado por dois nomes que se ligam pela
geografia e pelo acendrado amor à terrinha berço. É sobre
“IPIRANGA DO PIAUÍ, com o subtítulo “Recordações da cidade e
do campo”, de autoria João Borges Caminho, advogado, professor
universitário e escritor desenvolto. A acreditar na sinceridade de
sua escrita, e não há como desacreditar, não há no mundo pessoa
mais ligada à sua terra de nascimento, precisamente “FURTA-LHE A
VOLTA”, povoado do município de IPIRANGA DO PIAUÍ. João Borges
Caminha é um historiador meticuloso, pesquisador honesto e sempre
carregado de emoção quando fala (ou escreve) sobre seu passado, sua
família, sua terra. De início, as passagens que mais me chamaram a
atenção foram aquelas que se referem a FURTA-LHE AVOLTA. Por quê?
Talvez, por causa do vigor que João Borges Caminha põe. Agora passo
a citá-lo: - “No final do século XVIII, precisamente a
partir de 1780, começou a ser denominado de FURTA-LHE A VOLTA, um
sítio aprazível, localizado nas nascentes do riacho Engano, na
bacia hidrográfica do rio Corrente, afluente do Canindé, do
município de Ipiranga do Piauí, na época integrando o município
de Oeiras. (...) Conforme a tradição oral transmitida pelos
antepassados, à qual adicionamos as nossas constatações, o
inolvidável sítio, agora cognominado de “FURTA-LHE A VOLTA”,
originariamente pertencia quase todo ao Capitão-mor João Gomes
Caminha. Este Capitão mor libertou a vila maranhense de PASTOS BONS
do jugo português. Com a morte deste, ditas terras passaram ao seu
filho, Tenente e depois Capitão José Gomes Caminha, residente na
fazenda Laranjeira, situada a um quilômetro da acolhedora vertente
de água doce que corria, e ainda corre plácida e serena dos brejais
abaixo, até desembocar no riacho Engano. A fazenda Laranjeira era
constituída de terras frescas, compostas de buritizais, próprias ao
cultivo de cana de açúcar, e de baixões. Afora os cidadãos da
terra já citados, entre os mais antigos moradores de “FURTA-LHE A
VOLTA”, de que se tem notícia, por sua respeitabilidade e serviços
prestados, destacam-se Manoel dos Anjos, os Marinheiros italianos,
Capitão Joaquim José Brandão e poeta Manoel Caminha, filho do
Capitão José Gomes Caminha”.
“FURTA-LHE
A VOLTA” era uma passagem difícil, por onde os tropeiros teriam
que passar fazendo uma volta distante. Depois dos primeiros, outros
começaram a trilhar o difícil, que se tornou fácil, ou talvez lhe
tenham feito uma rústica ponte ou coisa desse tipo. A passagem
que “furtava a volta, para diminuir o caminho”. Mas
giram outras lendas sobre “FURTA-LHE A VOLTA”. E, como sabemos,
as origens, especialmente de nomes geográficos, explicam muito da
história. Seria um pouco difícil o porquê do nome original e
esquisito. As versões mais conhecidas têm origem na
passagem dos tropeiros de vários lugares em busca da cidade de
Oeiras. E, ao que me parece, a que mais agrada aos “ipiranguenses
do Piauí” seria a de que, como escreve João Borges Caminha,
tem base no final do depoimento de seu primo Genésio Borges Caminha,
de 31.7.1994, residente no povoado “FURTA-LHE A VOLTA”, pelo qual
já foi vereador na cidade de IPIRANGA DO PIAUÍ:
“Outra
versão do nome FURTA-LHE A VOLTA é a que indica circunstâncias
aconchegantes do lugar e de seus habitantes, traduzidos pelos
recuados caminheiros que por lá passavam ou ficavam. Por essa lenda,
portanto, foi dado ao lugar o nome de Furta-lhe a Volta, para
significar que muitos dos visitantes ou transeuntes, atraídos,
resolviam não mais voltar aos seus lugares de origem, a fim de
passarem a desfrutar, também, da aprazibilidade da terra e do seu
povo”.
Bem,
mas basta de transcrever, quem quiser saber mais é só ir ao livro.
Lá encontrará uma soma enorme de informações sobre a cultura, o
modo de vida e a história política e social da cidade. Escrever a
história de sua cidade e seu município é muito proveitoso para
deleite e envaidecimento dos que lá residem, mas também como
documentação. No Brasil os documentos sobre que se fundam a
história desaparecem muito rapidamente. O escritor João Borges
Caminha está de parabéns por mais este seu livro, por sua paixão
pela verdade de sua terra e pela emoção de colocar em agradável
estilo tudo o que pesquisou. Isto não tem pagamento. A
obra em comento é importantíssima para a geografia, a história, a
sociologia e demais setores do conhecimento humano, inclusive para as
pesquisas e descobertas arqueológicas. É patente a valorização
que João Borges Caminha dá à educação, as artes em geral e até
a poesia, valendo-se das “MEMÓRIAS”, de Joel Borges, publicadas
na revista “DE REPENTE”, em vários capítulos. Mas, de modo
muito especial, Caminha focaliza a vida, o trabalho e as dificuldades
do homem da roça, que tanto sofre. O Prof. Caminha, especialista em
Direito Agrário, sabe muito bem da vivência deles, por experiência
própria, e da luta desses sertanejos. Parafraseando Euclides da
Cunha, dizemos que “o sertanejo, depois de tudo, ainda é um
forte”.
Tenho
afirmado e reafirmado que quem não ama sua terra e sua gente não
ama ninguém nem nada, e não sabe quanto é gostoso e faz bem à
alma. Com este livro, João Borges Caminha faz coro ao famoso dito de
León Tolstói, tão acolhido por milhares de escritores clássicos,
de que quem quer ser universal tem de ser primeiro em sua terra. João
Borges Caminha mostra seu acendrado amor à terra e à gente de
IPIRANGA DO PIAUÍ. Parabéns, Caminha, por mais este feito.
O Dr Caminha é o Pai do Marco Aurélio e do Túlio? Se for o mesmo, somos amigos, sua eposa é de Campo Maior.Grande cidadão.
ResponderExcluirCaro Simão,
ResponderExcluirRespondo sim à sua indagação. Fui colega de Marco Aurélio na condição de acadêmico do curso de Direito. Caminha foi meu professor na disciplina Direito Agrário e é meu colega nas caminhadas da Raul Lopes.