Fonseca
Neto
Parece, e é, “coisa de Oeiras”. Do tipo que, também parece, somente ocorre na Invicta. Taí o Quincas, “do oco do mundo”, que apareceu um dia qualquer por lá. E ficou. Sabe-se lá a razão de.
Invicta a póvoa do Mocha. Invicta é porque tem longo aprendizado em lidar com situações suigenéricas que o cotidiano foi colocando na experiência social que lhe é própria. Ele chegou em Oeiras, olhou o cenário em volta e adotou a cidade em seu juízo e labor. Veio de São Paulo; o Boy e o Bill chancelaram-lhe as chaves do lugar.
Antes
de ele achar Oeiras, o Boy o achou pelas entretelas paulistanas. Veio
abrir as portas da possidoniana, entrou, o Bill fazendo as
tranqueiras honras. Entranhou-se e a tal ponto se aclimatou às
intimidades da filha do “Pouca Vergonha”, que, doido, assim
visto, em pouco tempo já o tinham, todos, por um dos seus, em ruas,
praças, becos, altos e baixos. Em atos e desatos, calçadas e
trilhas, salões e saguões, barzanias, forrós e bandolinagens. E
claro: nos reinados do congal e nas procissões profusas – naquela
procissão roxa, de trunfa bonina ele desceu; naquela outra vermelha,
de casaca rubra, subiu. Pronto: o Joaquim autorrebatizou-se Joca
Oeiras, uma marca, típica “metamorfose ambulante” – e para o
que viesse, e desse, sua fama expandiu.
Nada mais perceptível em seus agitos, além do visual, que o engajamento nos modos e fazenças culturais que perpassam e tipificam a cidade. Oeiras que, relembre-se, cultiva suas identidades costurando tradições, tendo como material os tecidos do tempo de suas trinta e uma décadas, desde a ousada reunião na casa de Touguia. Pois o Joca, qual um fio de fibra leve, logo encontrou um jeito de tocar e se deixar tocar por tais permeios, alinhavar-se nos percursos da velha urbs.
Os
bálsamos de sertanidade do Piauí central fizeram-lhe muito bem.
Claro que, assim abeberado das cousas oeiranas, umas e outras, aqui e
acolá, o afetariam; trombou. Foi em frente, pegou estradas em
direção aos pontos cardeais do labor cultural piauiense: Teresina,
Picos, São Raimundo de Niède, Pedro II, Parnaíba – aqui ele
ensaiou se demorar um pouco, mas outra vez o ímã centrípeto de
Oeiras o puxou de volta.
Grande internauta, chegadas as infovias, idealizou (e modera) a “Confraria de Oeiras”, que, em poucos meses, eletrizou oeirenses de variadas latitudes. A cidade, suas histórias, lendas, a danada (que dizem parecer com nuvem) e um frenesi de gente “enfincando os dentes” e o verbo. Muita poesia terçada; o cronicão do burgo da Balbina. Agora, aos dez anos, esse Grupo constitui um acervo valioso de registros sobre Oeiras e seu povo, em meio eletrônico, incomparável, em certo sentido, com o disponível noutros suportes.
A
Confraria, com auge mensageiro em janeiro de 2005, registra, agora,
7.950 entradas. Claro que o pau quebrou na cabeça de muito afoito.
Mas também é duro suportar o sopapo do descortinar um palco onde, a
cada momento, passa-se a limpo a vida de cada um e a vida inteira dos
mochinos. E para infundir ainda mais as boas coisas do Piauí, Joca
lançou o “Mais Charmoso”, distinguindo o Estado do Piauí entre
as pérolas do Brasil. E pela Fundação Nogueira Tapety, o Portal do
Sertão. Em Teresina, travou contato com uma geração inteira de
obstinados. Louco por bar, pesquisou e puxou a memória do “Nós e
Elis” e fez oportuno livro-depoimento. Amedalhado com a Renascença,
no Karnak.
Afinal, quem é esse cara? “Anjo Andarilho”? É o Joaquim Luiz Mendes de Almeida. Um homem de apurada condição intelectual-literária que, idade avançando, avança mais rápido ainda, andarilhando, a viver, leve e solto, experiências sensíveis no coração do Brasil. Inclinações libertárias. Pai da Maíra Anapuru. Nasceu lá nas bandas do sul, mas é da extração dos notáveis Mendes de Almeida do Brejo dos Anapurus do Maranhão. Tem a primazia parentesca de Cândido Mendes, de Fernando, de Luciano, o bispo. Em Oeiras, além de pintar o sete, apenas “pingando” os is de sua ancestralidade vale-parnaibana. Figura singular.
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