José
Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Está no jornal Diário do Povo, 29 de abril: "Angola
proíbe operação de igrejas evangélicas do Brasil. Segundo o
governo, elas praticam "propaganda enganosa" e "se
aproveitam da fragilidade do povo angolano". Rui Falcão,
secretário do birô político MPLA(Movimento Popular de Libertação
de Angola), disse à Folha: "O que mais existe aqui em Angola
são igrejas de origem brasileira."
Só no Brasil, nos últimos trinta anos, fundaram-se
mais de mil seitas religiosas, com estrondosa propaganda de milagres
em profusão. Graças aos meios de comunicação, barganham montanhas
de dinheiro, afortunam os fundadores, criam império, avançam
fronteiras. A fonte? As ofertas e dízimos cobrados à exaustão, em
troca de curas e promessas financeiras. Igrejas tradicionais, tanto
de origem evangélica quanto católica e demais denominações,
reconhecidamente sérias, assistem, com assombro, ao espetáculo da
fé movido a discurso de puro teor miraculoso, sem filtração do
real e do imaginário.
Toda entidade religiosa sobrevive às custas das
ofertas e dízimos, desde os tempos bíblicos. Jesus e os apóstolos
viviam às expensas da gratidão popular. Primitivas comunidades
cristãs se cotizavam financeiramente.
O mal não são ofertas e dízimos, mas a ambição,
simonia, afortunamento exacerbado. Um dos motivos que levou Jesus à
morte provinha da ciumeira da elite religiosa da época, que via no
Messias uma barreira contra suas imorais cobranças de ofertas e
dízimos. Jesus, uma vez, de chibata empunhada, invadiu o templo,
derrubou mercadorias e mesas, linchou cambistas e comerciantes, e
berrou: "Minha casa é templo de oração, mas vós o
transformais em covil de ladrões!"
Entidades religiosas sérias criam conselhos
financeiros, com participação da comunidade e admirável
transparência. A prestação de contas no altar, em público,
estimula a consciência e generosidade dos fiéis. Ademais, não se
utilizam de duvidosas práticas de curas e promessas de
enriquecimento aos que se despojam de gordas ofertas, interessados em
ambições pessoais do que na própria conversão e salvação
eterna. O Mestre manda um duro recado: "Buscai, acima de tudo, o
reino de Deus e sua justiça. O resto vem como acréscimo."
Exatamente, por essa promessa de acréscimo, espertalhões
desligaram-se de suas fronteiras religiosas, a fim de se aventurar na
busca do acréscimo, fundando igrejas, assombrando multidões com
esquartejamento da fé e da ingenuidade popular.
Por menos de mil reais se funda uma igreja no Brasil.
Já somam mais de mil, algumas com denominações esdrúxulas e
risíveis. Em Teresina, alguém fechou sua modesta loja e fundou uma
seita nas beiradas da cidade. Livrou-se dos fiscais de tributo,
investiu no ramo da fé. Imagine-se a retórica teológica e fajuta.
Entidades religiosas sérias exigem anos de estudo, disciplina,
espiritualidade, conduta ilibada, para exercer a pastoral.
O exemplo de Angola deve acordar as autoridades
brasileiras na vigilância do exercício religioso livre, mas
responsável. Uma sugestão: Só permitir publicar prováveis
milagres de cura mediante acompanhamento médico ou análise
científica do fenômeno. Do contrário, só Jesus e uma sova de
chibatadas nos milagreiros e oportunistas.
Parabéns ao nobre cronista pelo texto extremamente oportuno que nos chama a atenção para o perigo que representa essa corja de falsos profetas que se aproveitam da fé cristã e fazem dos templos religiosos verdadeiros veículos de propaganda enganosa de "indústrias da fé". Aquele que sabe todas as coisas certamente lhes dirá: "...não vos conheço..".
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