Fonseca
Neto
A
cultura letrada de Teresina marcou ontem o encerramento vitorioso do
Salipi. Evento da Fundação Quixote, com apoio de entes
estatais e privados. Em seu décimo primeiro ano, trata-se de uma
ideia e realização de pessoas que parece nasceram para erguer obras
que desafiam os sonhos.
O
11º Salão foi dedicado ao escritor Manoel Paulo Nunes. Justa
homenagem a um homem que faz da vida um caminhar guiado pela
cintilação das letras. E que tanto amor e muita dedicação a elas
o fizeram um prócere da Educação, ativo protagonista das políticas
públicas atinentes ao processo educativo-escolar: um inspirado,
confesso, em figuras de reformadores da estatura de Darcy Ribeiro e
Anísio Teixeira.
Num
Salipi levando seu nome, muito oportuno que entre as dezenas de
livros lançados, um, “Conversas com M. Paulo Nunes”
(Edufpi), estudo biográfico, tivesse também o homenageado como
centro. Publicação necessária ao conhecimento que dele devem ter a
geração nascida nesta transição de séculos e as que virão.
O
que mais dizer sobre ele, agora que podemos palavrear com os
materiais de sua própria fala? Ou de sua vida e seu tempo narrados
na escrita de Vanessa Negreiros?
Nunes
nasceu há 87 anos completos, em Regeneração, filho da
classe média local, condição que ajuda explicar seu contato com o
universo letrado ainda quando criança. E nesse sentido vale anotar
que naqueles anos de 1920 para 30, aquela microrregião do médio
vale parnaibano – ancorada em Amarante –, era, ainda, um ninhal
de agitadores letrados. Regeneração e Amarante que são,
recorde-se, duas municipalidades constituídas em única ambiência
histórica original, territorialmente definida por um aldeamento de
nativos que a modernização pombalina – ainda que tardiamente –
alcançou e “civilizou”, concedendo-lhe os foros de paróquia.
Tessitura melhor explicada, assinale-se, pela veneração ao orago
paroquial comum (São Gonçalo de Amarante) e pelos grupos familiares
indistintos.
Aos
12 anos, veio ele para esta capital, aqui realiza sua vida escolar,
formando-se em Direito. Não foi um estudante comum e justamente não
o foi por suas propensões ao mundo literário, algo que o
impulsionou a imergir, de cabeça, naquilo que significava então uma
espécie de “cidadela das letras”, lugar de pessoas compenetradas
e cúmplices no seu cultivo. Aos 19 anos ele se faz professor no
sentido formal do termo. É, já, um letrado que publica. O ensaísmo
crítico-literário o empolgará muito mais desde então.
Bacharel,
professor militante e com vínculos politico-familiares, num
Piauí/Brasil em que “a burocracia é a vocação de todos” –
pensando com J. Murilo de Carvalho –, ingressa no Serviço Público,
e o faz para atuar junto ao setor educacional, quando se destaca por
suas funções na inspetoria federal de ensino, no Piauí.
Engajamento que explica sua destacada participação, por exemplo, na
implantação da rede CNEC no Estado, junto com dom Avelar Brandão
Vilela, e também com este, na criação da Fundação Universidade
Federal do Piauí.
Amigo
próximo de Petrônio Portella, político que galgou funções
proeminentes por aqueles anos, Nunes permaneceu próximo dele por
bastante tempo, inclusive quando, ambos, serviram em Brasília –
lugar das “solidões justapostas”, na poética de seu amigo
Hindemburgo.
Um
devotado homem de letras e sujeito de uma vontade mobilizadora enorme
no campo cultural. Secretário de Estado da Cultura. Na APL é dos
mais acatados entre seus membros, ocupante da cadeira 38, de João
Ferry. E não é pequena a parcela da inteligência local que
reconhece que seus mais de vinte anos como conselheiro junto ao
Conselho Estadual de Cultura, antes de representar homenagem a um
vocacionado, é reconhecimento de sua enorme capacidade de mover
projetos. Daí a razão de ter sido eleito e reeleito, desde o
governo Freitas Neto, até hoje, para a presidência desse órgão
estatal. No tempo do petista Wellington Dias, alcançou a realização
de um sonho grande nessa função: abrigar o CEC numa sede própria.
Aliás, não somente uma sede, mas um Centro Cultural. Claro,
contornou incompreensões, pois também é um mestre em vencê-las.
Justa
homenagem fizeram os quixotes salipeiros. Que venha o Salipi-na-Ufpi
de 2014.
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