13
de junho Diário Incontínuo
CHEIRO
DE FLORES
Elmar Carvalho
Na
última quinta-feira, ao acordar, por volta de três horas da
madrugada, na casa em que moro, no Condomínio Pingo d' Água, em
Regeneração, senti um forte cheiro de flores, como se a fonte do
perfume estivesse perto de mim. Estranhei, mas não tive medo. Fui ao
banheiro, e imediatamente voltei a dormir. Fazia um mês e dez dias
do falecimento de minha mãe. Creio que o cheiro fosse um misto de
flor de laranjeira, jasmim, rosa e lírio de São José. Ao menos são
esses os odores de minha predileção. Quando senti esse inebriante
perfume, como se alguém tivesse espargido essas essências
odoríferas perto de mim, lembrei-me de mamãe.
Ao
sair para o trabalho, cedo da manhã, encontrei numa área do
condomínio dona Toinha, esposa do irmão Rodrigo, minha vizinha. Sem
delongas, perguntei-lhe se na noite ou na madrugada daquele dia ela
não havia sentido algum cheiro de flores, talvez trazido pelo vento
de algum quintal da vizinhança.
Ela
respondeu que não, e logo disse que o perfume que eu sentira fora
minha mãe que me visitara. De fato, devo dizer que a explicação de
cheiro trazido pela brisa não me convencia, uma vez que a janela do
quarto estivera fechada, e o aroma parecia evolar de um local muito
perto de minha rede, como se a fonte de onde ele emanava estivesse no
centro do quarto.
Contou-me
ela que fora muito ligada a sua avó materna, e que a visitava
diariamente. Ela faleceu aos 95 anos de idade, se não me falha a
memória. Era lúcida, saudável e ativa. Costumava fazer trabalhos
manuais, como crochê, renda de bilro e uma espécie de bordado, além
de outros artesanatos com tecidos, apenas como passatempo, já que
não vivia disso. A professora Toinha ficou ao pé de seu leito,
quando ela faleceu. Dias após a morte da avó, ela teve uma
experiência semelhante à que eu tive, e teve a nítida sensação
de que fora visitada por sua ancestral.
Quando
retornei a Teresina, tratei de contar o caso a minha mulher. Mal
comecei a falar, ela logo me perguntou se eu havia sentido cheiro de
flores. Assenti. Ela então me contou que na tarde de quarta-feira,
em nosso quarto, por volta de três horas da tarde, aspirou um
agradável cheiro, que parecia proveniente de muito perto de si;
chegou a cheirar o próprio braço, para constatar se estaria
perfumada, mas verificou que o odor não era proveniente de sua
pessoa.
Não
vou aqui, neste pequeno registro, levantar hipóteses, nem irei
derrubar leis e teorias. Direi apenas que nunca havia sentido, na
casa de Regeneração, esse perfume anteriormente, nem tampouco a
minha mulher, em nosso quarto. Deixo que cada um encontre a sua
própria explicação. Apenas peço que ninguém vá, depois,
“enfeitar” o caso, dizendo que vi alma. Por outro lado, quando um
amigo me perguntou se eu não tive medo, respondi que não; que eu
teria me assombrado se porventura tivesse sentido catinga de enxofre.
Apenas
lembro aos céticos ou pseudorrealistas, mormente aqueles que
pretendem desqualificar essas experiências com o uso da própria
Bíblia, que Cristo asseverou que na casa de seu Pai havia muitas
moradas, e que ele foi protagonista do episódio da transfiguração,
em que apareceram figuras bíblicas que há muito haviam morrido, no
caso, Moisés e Elias. Seu rosto brilhava como o sol e as suas vestes
se tornaram resplandecentes.
Encerro
dizendo que a mecânica quântica nos acena com a possibilidade de
várias dimensões. E o velho Shakespeare dizia que havia mais
mistério entre o céu e a terra do que poderíamos imaginar. Minha
mãe amava as plantas e as flores, as cultivava, e admirava a beleza
do céu e da natureza. Transmitiu isso aos filhos, e talvez essa
admiração contemplativa fosse uma das suas maneiras de orar, em sua
fé singela, mas firme. Nada mais direi. Saber dizer, é também
saber calar.
A mamãe amava mesmo plantas e flores... as minhas meninas, Carlinha, Clarinha e Joelinha, sempre diziam: "a vovó tem cheiro de flor." Já sonhei 3 vezes com a mamãe, e nos sonhos, ela estava sempre perto da gente, e sempre sorrindo. Saudades dela.
ResponderExcluirMuito interessante o relato deste acontecimento,se foi físico ou metafísico só quem chegou ao derradeiro suspiro pode solucionar ... Contudo, em homenagem a Shakespeare ouso a dizer: entre o céu, a terra e a nossa mente há mais mistérios do que a nossa vã ciência e inteligência podem decifrá-los ...
ResponderExcluirFabrício Carvalho Amorim Leite