José
Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Dezenas
de órgãos públicos dirigidos à atividade agrícola e meio
ambiente. Municipais, estaduais, federais, perdi a conta. Maior a
quantidade de funcionários e gestores, sem contar os que não batem
ponto. Generosos contracheques, quase sempre para adubar o campo do
dolce far niente.
Entro
no supermercado, espanto: Quilo de maxixe ou quiabo: 4.99; chegou a 8
noutro supermercado. Pimenta de cheiro disputando preço da carne de
primeira. Essas hortaliças desenvolvem-se rápido, até em pé de
muro. No Mercado da Piçarra, quilo de fava 20 reais, valor de
picanha! Bastam três sementes plantadas. Após um mês, a folhagem
esparrama-se nas cercas e garranchos, generosa produção, verde e
saborosa com arroz, pimenta de cheiro, azeite de coco.
O
salário de um secretário ou delegado da Agricultura daria para
plantar centenas de pés de feijão, fava, quiabo, maxixe, ainda
colher toneladas dos produtos. Quer prova? Passe-me o contracheque.
Garanto milagre da multiplicação. Vai sobrar grana, como as cestas
milagrosas dos pães e peixes.
Promoveu-se,
em Teresina, a Semana Ambiental, pelo Dia Mundial do Meio Ambiente.
Temas debatidos, entrevistas, prometidos projetos. A mesmice todo
ano, resultados pífios. Secretário Macambira culpando a Prefeitura
por não fiscalizar e punir residências e empresas que despejam
porcarias no rio Parnaíba, além das centenas de esgotos e galerias
da capital desembocando no rio. Problema histórico, segundo
Macambira. Ou macabra morte do manancial, secretário?
A
consciência ambiental não se resume a uma visão poética de
sustentabilidade e preservação da natureza. É preciso partir para
o campo, plantar, explorar as riquezas, racionalmente, conforme o
Criador nos ordenou desde o começo do mundo. Terras e rios do Piauí,
sem falar nos aquíferos subterrâneos, poderiam render monumental
produção de alimentos para consumo nacional e exportação. Mas a
dádiva divina vira contracheques e desvios de metas e objetivos.
Nesta
semana, jornalista Francisco José, da TV Globo, veio a Teresina para
ministrar palestra, no simpósio de jornalismo ambiental, e receber
título de cidadão piauiense. Merecidamente. Outros recebem pelo
tributo à bajulação. Francisco José especializou-se em
reportagens sobre meio ambiente. "Adoro o tema...Descobri que o
Nordeste, minha terra, tem mais belezas a oferecer do que a seca...
Produzi matéria sobre o Delta do Parnaíba, Serra Vermelha e Serra
das Confusões, me encantei. Voltarei ao Delta. Irei ao Cânion do
rio Poti... No Brasil, só preservam a natureza as pessoas, empresas
e instituições sem fins lucrativos. A Serra da Capivara é
acompanhada por instituição francesa e dedicação de Niéde
Guidon. O setor público só tem projetos... O Piauí tem uma das
mais belas paisagens... Já fiz cinco reportagens, virei mais."
Cultivando
e criando no meu pedacinho de terra, eu me extasio, só de contemplar
uma berinjela, um prato de salada. Porém, revolta-me o dinheiro
público desviado, mais contracheques plantados do que sistemas de
irrigação. Explica-se o elevado preço de modestos produtos, como
maxixe, quiabo e fava.
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