Miguel e Rosália |
LEMBRAR
NOVAMENTE
Carlos
Said
No
livrete “Retratos de Minha Mãe”, o consagrado Elmar Carvalho
(José Elmar de Mélo Carvalho: Campo Maior, Piauí, 1956), distinto
acadêmico da Academia Piauiense de Letras, sodalício fundado no dia
30 de dezembro de 1917, transcreveu singelos singelos versos de
imorredoura saudade: “Ainda assim acredito / Ser tempo tempo tempo
/ Num outro nível de vínculo”.
Necessária
é a explicação concernente à presença do poeta Antero do Quental
(Antero Tarquínio do Quental: Ponta Delgada, Açores, 1842-1891).
Pertencente à geração dos intelectuais portugueses da Universidade
de Coimbra, escreveu o livro de sonetos: “Odes Modernas”,
publicado em 1892, um ano após a sua dolorosa morte. Num dos
excepcionais sonetos: “Raios de Extinta Luz”, sublimou a frase
que é o facho luminoso da expressão justificadora dos após morrer:
“Na mão de Deus, na sua mão direita”. Evidentemente, Elmar
buscou o formidável Antero como exemplo da fé cristã, uma vez que
devemos entregar o corpo da pessoa querida aos cuidados da mãe
terra. Tal como acentua a escritora Carson McCullers (Columbus,
Estados Unidos, 1917 – Nyack, Estados Unidos, 1967): “Eu vivo com
as pessoas que criei”.
Assim,
brotou no coração do Elmar Carvalho a semente do eterno amor pela
adorada mãe Rosália Maria de Mélo Carvalho. Daí, poeta convocando
poeta, eis Antônio Sampaio Pereira (Esperantina, 1923), surgindo com
tanta espontaneidade. Na ajuda (sic) a fim de Elmar memorizar para
sempre o nome daquela que lhe deu o ser, Sampaio justificou os seus
exuberantes versos: “Como eu, quanta gente existe, / Que quase não
resiste / À cruel fatalidade” (…) “Lamento que já não possa
/ Matar o meu desejo / De dar em minha mãe um beijo / De amor e de
ternura”.
O
proveitoso apego do literato campomaiorense pela beleza da vida,
mostra-nos quão é proveitoso retratar os instantes felizes dum
passado sustentado por recordações familiares inexcedíveis. Diante
do exposto, não nos importa a crônica d' agora ser ou não
aprovada. O conteúdo prenhe de inspirações faz por onde lembremos
as ocasiões de peregrinação e paz, fortalecimento do espírito e
do respeito pelos que ainda vivem condicionados à roda da fortuna
(sorte) ou não tê-la nos empreendimentos da jornada terrena.
Consequentemente, não devemos debochar da dor que atormenta a gente
que, após traumas, ainda acredita numa felicidade sem fingimentos.
O
exemplo do José Elmar de Mélo Carvalho é digno de aplausos.
Descrever o trabalho da querida mãe Rosália Maria (quando viva),
talvez nem todos saibam: é o convencimento do filho retribuindo
generosamente o calor materno tantas vezes servindo de agasalho.
Multiplicando explicações: família é como o orvalho da manhã que
caindo revigora a planta e o perfume das flores que virão, reacendo
no futuro o que a terra mãe e santa nos oferece.
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