sábado, 2 de novembro de 2013

...E se você morresse hoje?


José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

        Visita ao cemitério pode não ser agradável, porém desperta reflexão sobre a transitoriedade da vida. Ir e voltar, antes que seja último e derradeiro passeio. Não adianta dissimular, bater na mesa, em atitude mórbida, corpo mole e lânguido: você vai morrer, talvez hoje, amanhã, em breve, anos mais. Sem exceções. Nada de medo e assombrações de meia-noite. Visitei um cemitério em cidade cearense, parece-me Redenção, ainda adolescente. Logo na entrada, letreiro acima do portão: “Hodie mihi; cras tibi = Hoje, a mim; amanhã, a ti.” Um epitáfio realista para nenhum vivente ou defunto reclamar.
        Quão democrática a posse de terra no condomínio dos mortos, onde ricos e pobres ocupam o mesmo espaço e profundidade, sem invasões, sem carne, sem beleza. Só sete palmas, sem direito à conta bancária, nem à chave da empresa, nem ao contracheque polpudo. Anônimos. Felizes os que acreditaram, em vida, na eternidade. Que somos como lagartas, presas à comida, depois o sono profundo, libertação da carne em crisálidas, enfim o voo de borboleta.  
Figurões da política e do capital jazem, em túmulos de mármore, flores e metais, foto e estátua, sobremesas do que lhes restaram. “Tu és pó, ao pó voltarás.” Mais um bocado de tempo, eles desaparecerão da memória coletiva. Conhece algum barão do dinheiro que ficou na História além de cem anos? Privilégio apenas de inventores, filósofos, descobridores, heróis, escritores e artistas, missionários, líderes do bem, governantes comprometidos com a pátria, não o prato.
        Plotino, filósofo espiritualista, nascido no Egito, viveu no início do cristianismo, em Roma: “Se a vida e alma existem depois da morte, a morte é para o bem da alma, porque esta exerce melhor sua atividade sem o corpo”. Não há povo sequer, nem índios da América, que não tenha cultivado o sentido da eternidade, com ritos próprios. Em Madagascar, banquetes, danças, foguetório e alegria acompanham cerimônias fúnebres.

         A principal missão de Jesus Cristo, neste planeta, foi romper o mistério e as dúvidas dos humanos sobre a vida após a morte. Ele devolveu vida a mortos, exerceu poder sobre o impossível aos olhos da matéria, serviu de expiação até a última gota de sangue, para ressuscitar no terceiro dia. Deu-nos a certeza de que a vida continua após a morte. Nenhum profeta ou líder religioso conseguiu espetacular comprovação. Ademais, Jesus adiantou como abrir caminhos para um mundo melhor, de olhos para eternidade feliz. Aceitar esse mistério não é fácil, especialmente quem se arvora de conhecedor de princípios científicos de vã sabedoria. Talvez a visitinha ao cemitério desperte a fé no infinito, antes que a morte bata à porta e desligue aorta. Rima perfeita, dói, mas compõe o soneto da existência.   

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