TANGOS
À MÉDIA LUZ
Antonio
Gallas
Após
um pequeno hiato em nossa participação neste periódico,
retornamos, agora, nesta edição, para narrarmos fatos do segundo
dia da programação da Semana da Imprensa 2013 que, apesar de ter
caído numa sexta-feira 13, nada desagradável ocorreu, mas sim
muita alegria que começou com o farto coquetel oferecido pela
Associação Comercial e Industrial de Parnaíba em sua sede no
Porto das Barcas.
Na
oportunidade o atual presidente da entidade, o contabilista Luís
Pessoa, reuniu os comunicadores num pequeno, mas confortável
auditório, onde fez um breve relato das lutas e reivindicações que
a Associação Comercial desenvolveu nestes seus 96 anos de
existência, em prol do crescimento da cidade da Parnaíba. Falou
também das lutas atuais, citando, inclusive, as reivindicações
feitas com empresas de aviação comercial no sentido de priorizar
voos regulares para Parnaíba tendo em vista a cidade contar com um
aeroporto de categoria internacional com capacidade para pouso e
decolagem de aeronaves de grande porte. O presidente Luís Pessoa,
anunciou, dentre tantas notícias alvissareiras,uma dando conta de um
decreto governamental que doou à Associação Comercial, em regime
de comodato, o prédio do Complexo Porto das Barcas. Segundo o
decreto, “o imóvel destina-se a utilização gratuita pela
Associação Comercial de Parnaíba, que terá responsabilidade pela
sua conservação e manutenção, além de ofertar atividades e
projetos direcionados ao resgate cultural e histórico”. O local
deverá ser utilizado na promoção de atividades artísticas,
culturais e turísticas. A utilização do citado imóvel apara
atividades diferentes das propostas pelo decreto, o prédio volta a
pertencer ao Estado.
Encerrado
o coquetel em que todos saíram satisfeitos, dada a variedade de
salgadinhos e de bebidas oferecidos (pode ser também oferecidas, se
você fizer a concordância verbal com bebidas), um pequeno grupo
“esticou” até à tradicional Beira Rio, no afã de bebericar
umas outras mais, não porque não se estivesse satisfeito com as
bebidas oferecidas no coquetel (de cerveja a whisky de primeira
qualidade), mas porque esse grupo composto por mim, pelos jornalistas
Bernardo Silva e José Luiz de Carvalho, dr. Renato Bacelar (que
demorou pouco), escritor Pádua Marques, historiador Cosmo Rocha e o
sindicalista e político Sérgio Ricardo, gosta mesmo de dar uma
“esticadinha” e aproveitar que “a noite é uma criança” (up
the night) como se diz em inglês. Para felicidade nossa, boêmios
por excelência, um peque grupo formado apenas por três músicos se
apresentava nessa noite na Rua da Cultura, evento que acontece toda
sexta à noite na Beira Rio. Os instrumentos musicais que eles
utilizavam eram um violino, um acordeão (pode ser também acordeon
ou sanfona) ) e um pandeiro, o suficiente para produzirem música de
qualidade para o mais refinado gosto. Esse grupo, que não pude
identificar o seu nome, conseguiu transformar o popular em erudito.
No seu repertório eclético, além de MPB estavam também famosos
tangos tais como “La Cumparsita”, “Uno”, “Corrientes”,
“Mi Buenos Aires Querido” , e muitos outros.
Ao escutarmos os
tangos, eu e o Bernardo Silva comentamos sobre uma época na década
de 70 quando residíamos na Rua Vera Cruz no Bairro São José e que
todos os sábados, a partir da meia noite reuníamos na calçada da
minha residência para escutarmos o programa Tangos à Média Luz
levado ao ar pela Rádio Globo do Rio de Janeiro, AM 1220 KHZ. É
claro, na companhia de uma “loura suada” ou de um tinto seco.
Desse grupo seleto de apreciadores da boa musica portenha, legado
deixado por Carlos Gardel, faziam parte além de mim e do Bernardo
Silva, o poeta Elmar Carvalho, o “monstro” ou “enorme”
Reginaldo Costa, algumas vezes o “potência” de Paula e alguns
outros cujos nomes não me afloram à mente no momento.
A
música nos transporta através dos tempos, nos enleva e nos traz
recordações. E quando escuto um tango lembro-me de alguém que
conheci em São Luís do Maranhão quando lá residi. Costumávamos
escutar e tentávamos até dançar algumas vezes. Ela, apesar de
morar em um prostíbulo, tinha um gosto refinado pela música e pela
poesia. Muitas vezes quando ouvíamos o tango “la cumparsita” ao
solo de um bandoneon ela costumava recitar o poema abaixo de autoria
de Paulo César Pinheiro:
“O
tango é um coração nervoso de ansiedade,
Sangrando
à meia luz de um cabaré esfumaçado.
O
tango é melodia da dor e da saudade,
da
mágoa e do abandono, do ciúme e do pecado.
O
tango conta histórias de corações marcados,
de
amores clandestinos e paixões desiludidas.
O
tango é o desabafo dos desesperados, o alívio dos amantes, consolo
das perdidas.
A
alma das mulheres tristes vive presa ao lancinante som de um
bandoneon sem calma.
O
tango é um espelho a refletir tristeza.
E
todos têm, no fundo, um tango dentro d’alma…”
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