Discurso
proferido pelo Sr. Francisco da Silva Cardoso por ocasião do
recebimento do Título de Cidadão Honorário de Teresina (*)
O rio atinge os seus objetivos porque
aprendeu a contornar os seus obstáculos.
André Luiz
Exmo. Sr. Presidente da
Câmara Municipal de Teresina, digníssimo vereador Rodrigo Martins,
Ilma. Sra. Vereadora
Tereza Brito, autora da proposta que me concedeu o honroso título de
Cidadão Teresinense, em nome de quem cumprimento os demais
parlamentares deste Senáculo e agradeço a todos os amigos que
vieram me prestigiar.
Digníssimas autoridades,
aqui presentes ou representadas, já nominadas
Minha querida esposa
Maria de Lourdes Brandão Cardoso, companheira de todas as horas.
Diletos filhos Aline, Elaine e Alexandre. Queridos genros Manoel Paz
Filho e Leonardo Bluhm. Idolatrados netos Ingrid, Isabele, Giovanna,
Lara, Gabriela e o grande Mateus, com quem, ao lado da minha irmã e
segunda mãe Maria Cardoso, do mano velho Antônio Cardoso,
companheiro de aventuras, de outros familiares aqui presentes e dos
amigos, divido essa alegria, que a Câmara Municipal de Teresina me
proporciona neste momento singular de minha vida.
Meus senhores e minhas
senhoras,
Conferir um título de
cidadão honorário é a maior homenagem que o poder legislativo
municipal de qualquer cidade presta a uma pessoa. Razão pela qual
ser agraciado com essa importante honraria é motivo de alegria,
contentamento e orgulho, especialmente quando se trata de uma das
mais importantes cidades do país, como é o caso de Teresina, a
querida e encantadora Cidade Verde, capital do nosso Estado.
Este título é um
privilégio destinado a poucos. Mas, não somente por ser um desses
poucos, como também pela reciprocidade da correspondência do amor
que tenho por esta terra, sinto-me
pleno de felicidade e profundamente emocionado pela significativa
deferência.
Ao me conceder este
honroso título a câmara municipal de Teresina me proporciona um dos
momentos mais importantes de toda a minha vida, fazendo com que o meu
coração transborde de alegria.
Para demonstrar minha
gratidão pela benevolência desta Augusta Casa Legislativa, por ter
chancelado meu nome para constar na galeria dos teresinenses,
inicialmente devo agradecer à vereadora Tereza Brito, minha
ex-colega de trabalho na CHESF, pela generosidade em descobrir em mim
méritos necessários para o referendum.
Agradeço também a todos os demais edis, que de forma unânime
acataram a proposta.
Meus senhores e minhas
senhoras,
Esta sensibilizadora
deferência com que o Parlamento Municipal me distinguiu, patenteia o
imensurável gesto de nobreza dos vereadores e das vereadoras, que
bem representam o povo desta terra, que agora também é minha.
Este diploma é a prova
indelével do bem querer que sempre existiu entre mim e esta cidade,
pois desde quando aqui cheguei a adotei como minha terra, e agora,
ela, que sempre tão bem me acolheu, adota-me oficialmente como um
dos seus filhos.
Em julho de 1957, depois
de uma passagem pela cidade de Campo Maior, para onde minha família
mudou-se de Barras, em razão da transferência de meu pai, que era
funcionário de carreira dos Correios e Telégrafos, decidi tentar a
vida em Teresina.
Ainda me lembro daquela saudosa manhã em que, como passageiro do ônibus-gaiola da empresa Zezé Paz, chegamos no ponto final da viagem, que no caso era a Praça Saraiva. Ao descer na agência, gerenciada pelo “seu” Zé Baú, pai de “dona” Desterro, viúva do proprietário da empresa, recebi meus pertences constituídos por uma velha mala de madeira e minha bicicleta, que vinham no bagageiro instalado acima do teto daquele transporte de passageiros, que era conhecido popularmente como “horário”.
Ao contemplar a cidade
grande, onde já havia estado, tive a certeza que estava no lugar
certo para alavancar a minha vida estudantil, social e profissional.
Em Campo Maior, vivi
parte da infância e adolescência. Foi lá, na inesquecível “Terra
dos Carnaubais”, onde, como aluno do Grupo Escolar Valdivino Tito,
concluí o curso primário iniciado no Grupo Escolar Matias Olímpio,
em minha terra natal.
Lá também, como
estudante do Ginásio Santo Antônio, iniciei o curso ginasial, mas
antes da colação de grau, transferi-me para Teresina, onde passei a
estudar no Colégio São Francisco de Sales para, enfim, concluí-lo
e iniciar o Curso Científico, que teve continuação no Colégio
Desembargador Antônio Costa e no tradicional Colégio Estadual
Zacarias Góis, o famoso Liceu Piauiense, que à época possuía o
melhor corpo docente do Estado, constituído, entre outros, pelos
professores Camilo Filho, Paulo Nunes, A. Tito Filho, Nelson
Sobreira, João Alfredo e o Dr. Petrarca Sá.
Apesar da falta de
oportunidade da época, resolvi seguir em frente nos estudos e com
muito esforço me licenciei em Geografia e OSPB (Organização Social
e Política do Brasil), pela Faculdade Católica de Filosofia do
Piauí, onde, com apoio dos colegas presidi o Departamento Nacional
do Estudante e o Diretório Acadêmico “Dom Avelar Brandão
Vilela”. E, como tal, a convite do então governador do Estado do
Piauí, Dr. Petrônio Portela Nunes, juntamente com o presidente do
Diretório da Faculdade de Direito do Piauí, Pedro Nolasco, e do
presidente da Faculdade de Odontologia do Piauí, Vespasiano, fomos
ao Palácio de Karnak para cumprimentar o Excelentíssimo Sr.
Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco, e reivindicar pela criação da Universidade Federal do
Piauí, fazendo com que o primeiro mandatário do país empenhasse a
sua palavra e viesse posteriormente atender ao nosso pedido.
Ainda como líder
estudantil, fui secretário de Educação e Cultura do Centro
Estudantal Piauiense.
Na vida funcional
trabalhei como funcionário da Casa Marc Jacob S/A, no Colégio
Agrícola de Teresina e na Companhia Hidro Elétrica de Boa
Esperança, que posteriormente foi encampada pela Companhia Hidro
Elétrica do São Francisco, onde exerci várias funções.
Em 1994, na véspera da
minha aposentadoria, enveredei pela seara da literatura, escrevendo
meu primeiro livro intitulado “Memórias da Adolescência –
Venturas e Aventuras em Campo Maior”.
A obra, fruto das minhas
reminiscências, tem como cenário e pano de fundo a “Terra dos
Carnaubais” e, como personagens, além do próprio autor e seus
colegas de travessuras, inclui muitas pessoas da cidade,
especialmente as figuras folclóricas.
Alguns dos fatos narrados
nesse livro foram transcritos por Reginaldo Lima, em “Geração
Campo Maior – Anotações para uma Enciclopédia”, editado em
1995.
Com a publicação desse
meu primeiro livro, que a
priori
foi feito apenas por diletantismo, ingressei no meio intelectual,
passando a conviver com alguns expoentes das letras. Dentre eles,
para não me alongar muito, menciono apenas João Alves Filho, atual
presidente da Academia Campomaiorense de Artes e Letras; o poeta e
magistrado campomaiorense Elmar Carvalho, que muito me incentivou a
dar os primeiros passos na carreira literária, e o dicionarista
biográfico, historiador, poeta e romancista Adrião Neto, autor da
ideia da inclusão da data histórica da Batalha do Jenipapo na
Bandeira do Piauí, bem como do “Dicionário Biobibliográfico de
Escritores Brasileiros Contemporâneos”, editado em 1998 e do
“Dicionário Biográfico Virtual de Escritores Piauienses”,
editado na Internet, nos quais tenho a honra de figurar, com generoso
verbete biográfico, na seleta galeria dos escritores ali
imortalizados.
Sentindo-me estimulado
pela inclusão nessas duas importantíssimas obras, tomei gosto pela
arte de escrever, vindo posteriormente a publicar dois outros livros,
intitulados “Memórias de Campo Maior” e “Trajetória de um
Guerreiro”. Além do mais, escrevemos também dois outros trabalhos
a serem publicados brevemente, sendo um deles sobre minha vivência
como estudante pobre em Teresina.
Recordando a minha
chegada aqui na capital, que já vai para mais de meio século,
guardo gratas lembranças daqueles tempos quando a cidade ainda era
“menina-moça”, cheia de alegria, de amor e meiguice. Daquela
Teresina sem drogas, sem bandidos, sem violência e sem muita
maldade.
Relembro da vida feliz em
companhia dos colegas, como Pedro Policarpo, Custódio Prado,
Norberto Mendes, Jesus Boaneres, Arimateia Teles, Sales e Aderbal
Lopes de Aquino.
Muitas vezes, para
sairmos da rotina do colégio, do cinema e da Pedro II, à noitinha,
gaseávamos as aulas do Diocesano e, em bicicletas, fugíamos para as
quermesses nos festejos das igrejas da Praça Saraiva, da Piçarra e
da Vermelha.
Algumas vezes íamos até
a cidade de Timon para as festividades católicas em homenagem a São
José. A travessia era feita em canoas movidas a varas, singrando as
águas claras e espumantes do “Velho Monge”, a nos deleitar ao
som da voz de ouro de Aderbal imitando Nelson Gonçalves, o grande
seresteiro do Brasil.
Recordo também da
panelada do guarda civil Carneiro, no seu “freje”, situado
próximo à ponte do Mafuá; do cafezinho e do filé à cavalo,
servidos no bar e restaurante Acadêmico, de propriedade de Pedro
Quirino; da mão de vaca e da panelada conhecida popularmente como
“filé de bainha”, do restaurante Centenário, do “seu” Mário
Campelo, ambos situados ao derredor da Praça Pedro II, e do caldo de
cana, com pão massa-grossa, do “seu” Sula, ali próximo ao
Liceu.
Trazendo o passado para o
presente, recordo das “Paradas do Sete de Setembro”, com a
participação de todos os colégios a desfilar na Frei Serafim, onde
também a briosa Polícia Militar destacava-se, com seu passo
cadenciado, seguindo o ritmo das marchas e dos dobrados executados
por sua banda, que contagiavam e emocionavam a todos os presentes.
Depois do ato cívico,
grande parte dos estudantes concentravam-se na parte de cima da praça
Pedro II para paquerar.
Recordo ainda dos
carnavais de rua, com o povo a se movimentar nos dois níveis da
Pedro II, na Antonino Freire e na Frei Serafim, onde todos dançavam
e pulavam numa euforia sem limites.
De lá, a certa hora da
noite, parte dos fuliões deslocava-se para o tradicional Clube dos
Diários, para brincar e assistir ao desfile dos blocos carnavalescos
da alta sociedade, com seus ricos trajes, a desfilar pelo salão.
No entanto, a parte mais
interessante do carnaval de rua era os tradicionais corsos em
carrocerias de caminhões, sempre muito bem enfeitados, com as
raparigas da famosa Paissandu, a dançar e pular extravasando-se de
alegria e a saudar a plateia constituída por todas as classes
sociais, ocasião em que seus “clientes”, acompanhados dos
familiares, viravam a cara para não dar “manchete”.
Recordo das tertúlias
domingueiras patrocinadas pelo Clube dos Diários, onde, de cara, os
sócios deparavam-se com Marcelino, o porteiro atento e rigoroso, que
só deixava as pessoas entrar se estivessem em dias com as
mensalidades. Se não estivessem, não adiantava argumentar. Para ele
não importava se fosse “filhinho de papai”, o que valia era
estar adimplente. Por conta dos “ossos do ofício” e de sua tenaz
inflexibilidade muita “gente boa”, foi, literalmente, “barrada
no baile”.
Naquele tempo existiam
ainda os tradicionais rádios-baile, que aconteciam nas noites de
sábado em algumas residências de certas famílias extrovertidas.
Dentre outras
reminiscências, recordo com saudade dos banhos nas “coroas” do
Parnaíba, bebericando e tirando gosto com piaba frita.
Relembro dos filmes no
Cine Rex e no “4 de Setembro”, onde, no escurinho, os casais
aproveitavam para fazer uma carícia mais atrevida.
Guardo ainda vivo na
memória a própria praça Pedro II de antanho, onde principalmente
nas quintas e domingos era tomada por grande multidão, notadamente
pela juventude, cuja maioria era do interior do Piauí e do Maranhão.
Acorriam ao local para paquerar e para saber notícias de suas
cidades.
Recordo dos alienados
como Jaime Doido, muito zangado e com mania de ser político;
Manelão, também conhecido como Avião, apaixonado por filmes e
amigo de crianças; Braguinha, com farta cabeleira e sempre com um
paletó surrado ofertado por alguém, a exibir seu horroroso defeito
físico que lhe desfigurou o rosto, mesmo assim, considerava-se
bonito e cobiçado pelas mulheres.
Relembro dos mendigos que
ficavam nas filas dos cinemas, com as mãos estiradas a azucrinar as
pessoas, como o Perna de Pistola, o Bebê Chorão e a velha Tustão,
que sempre andava com uma rodilha na cabeça.
Recordo de muitas outras
pessoas, inclusive das desocupadas, das cinemeiras e das
carnavalescas, como Mudinha, Nicinha e tantos outros que vagueavam
pelas principais ruas da cidade, especialmente pela Praça Pedro II.
Meus senhores e minhas
senhoras, quero lhes confessar que no meu íntimo eu já me sentia
cidadão teresinense por conta própria, mas ser reconhecido
oficialmente como tal faz uma grande diferença na minha vida.
Estou imensamente feliz e
estejam certos, senhor presidente, senhores vereadores, senhoras
vereadoras, meus senhores e minhas senhoras que jamais os
decepcionarei, continuarei pautando minha vida pela mesma trilha de
retidão, só que agora mais enriquecida e com a responsabilidade de
honrar este título, que acabo de receber, fruto da generosidade e
benevolência dos nobres parlamentares desta terra promissora que tão
bem me acolheu.
Finalizando, mais uma
vez, quero agradecer de coração a todos que me honraram com suas
presenças, especialmente o Sr. Presidente da Câmara Municipal de
Teresina e, principalmente, à vereadora Tereza Brito pela
demonstração de amizade e apreço.
(*) Discurso proferido no dia 02 de dezembro de 2013, às 19:30 horas, no Plenário Vereador José Omatti, Câmara Municipal de Teresina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário