terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Zero cocaína, zero tráfico, não zero coca


José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

           Teresina descarrilou de sua já fragilizada segurança para assombrosos e galopantes índices de homicídio, quase sempre envolvendo grupos rivais do tráfico de drogas. Decantada como uma das capitais brasileiras de menor violência, Teresina partiu para o faroeste e acerto de contas, especialmente na periferia da cidade. Dos raros assassinatos ao mês, há algum tempo, agora se contam dois ou três, diariamente. E a tendência é, como no resto do Brasil, jorrar mais sangue por dívida de alguns gramas da droga ou disputa de território. A origem de tanto desassossego nacional encontra-se bem longe. Bem nas fronteiras do Brasil com o Peru, Paraguai, Venezuela, especialmente a Bolívia do presidente Evo Morales, sob o beneplácito das autoridades brasileiras, à sombra de laços amistosos com chefes daqueles países.
          O presidente boliviano orgulha-se de incentivar plantações de coca, a matéria-prima da cocaína e do crack, consumidos no Brasil, sob o argumento de que as folhas servem para produzir chás e remédios. O presidente defende o princípio de que “haverá zero cocaína, zero tráfico, mas não zero coca”. Porque o cultivo da erva se insere na cultura milenar dos povos andinos.
          Na Ciudad del Leste, Paraguai, o chá da folha é consumido, legalmente, a cada esquina, como garapa de cana no Nordeste. Observando grupo de jovens bebericando coca, em shopping da cidade, curioso, solicitei-lhes uma partida. Identificaram-me a nacionalidade: “No Brasil, esta bebida dá cadeia... vocês só bebem chimarrão. Se quiser, nós te mandamos uma porção em teu próprio apartamento, em Nova Iguaçu. Também fornecemos armas.” Ao que retruquei: “Rapazes, sou educador, resido no distante Piauí...” Consertaram: “Não tem problema, você receberá a encomenda lá mesmo.”
          Bebi chá da coca e descobri quanto é fácil traficar a droga e armas. A Bolívia destaca-se, em terceiro lugar, no mercado internacional da coca e cocaína, ao lado da Colômbia e Peru. O Brasil compra quase toda a produção. Evo Morales defende a cultura da folha para fins medicinais. Na prática, todavia, faz vista grossa à produção e comercialização da droga. Estimula a plantação da erva, que já alcança 27 mil hectares. Ousado e antiamericano, desafiou na ONU: “Sinto que a folha da coca vai derrubar o capitalismo.” Talvez mau presságio de anticristo, que vem aniquilando as novas gerações. Aproximadamente, um milhão de brasileiros, vítimas da desgraça, além da família. Músicos e ídolos populares, que contribuiriam com exemplar conduta, vão-se, prematuramente.
          Autoridades brasileiras descobriram, segundo a Veja, cumplicidade do governo boliviano com o narcotráfico. Entre outros fatos, uma conexão direta entre o homem de confiança de Evo Morales e traficantes presos no Brasil. Sua gangue possuía fazendas em Rondônia e interceptava, por mês, 500 quilos de cocaína arremessada por aviões bolivianos. Ex-miss boliviana, alta funcionária do governo Morales, colaborava com traficantes em Rondônia.
          Diante do flagelo provocado pela droga, expiam-se vidas jovens e verbas públicas, sem soluções, enquanto não se declarar guerra ao tráfico nas fronteiras do Brasil e às leis de tolerância à bandidagem. Sente-se o faz-de-conta dos que governam o país. Nunca se viu, nas duas últimas presidências da República, um ataque, pelo menos verbal, ao cartel da droga. Pelo contrário, o crime organizado já consegue eleger parlamentares para defender leis de proteção a bandidos e a menores infratores. Apresentam-se com delicadas e sadias doses de chá de coca, no shopping, mas, por trás das sutilezas e esperanças, o alvo é comércio das drogas, armas e barganha de monumental dinheiro.     

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