José
Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Teresina
descarrilou de sua já fragilizada segurança para assombrosos e
galopantes índices de homicídio, quase sempre envolvendo grupos
rivais do tráfico de drogas. Decantada como uma das capitais
brasileiras de menor violência, Teresina partiu para o faroeste e
acerto de contas, especialmente na periferia da cidade. Dos raros
assassinatos ao mês, há algum tempo, agora se contam dois ou três,
diariamente. E a tendência é, como no resto do Brasil, jorrar mais
sangue por dívida de alguns gramas da droga ou disputa de
território. A origem de tanto desassossego nacional encontra-se bem
longe. Bem nas fronteiras do Brasil com o Peru, Paraguai, Venezuela,
especialmente a Bolívia do presidente Evo Morales, sob o beneplácito
das autoridades brasileiras, à sombra de laços amistosos com chefes
daqueles países.
O
presidente boliviano orgulha-se de incentivar plantações de coca, a
matéria-prima da cocaína e do crack, consumidos no Brasil, sob o
argumento de que as folhas servem para produzir chás e remédios. O
presidente defende o princípio de que “haverá zero cocaína, zero
tráfico, mas não zero coca”. Porque o cultivo da erva se insere
na cultura milenar dos povos andinos.
Na
Ciudad del Leste, Paraguai, o chá da folha é consumido, legalmente,
a cada esquina, como garapa de cana no Nordeste. Observando grupo de
jovens bebericando coca, em shopping da cidade, curioso,
solicitei-lhes uma partida. Identificaram-me a nacionalidade: “No
Brasil, esta bebida dá cadeia... vocês só bebem chimarrão. Se
quiser, nós te mandamos uma porção em teu próprio apartamento, em
Nova Iguaçu. Também fornecemos armas.” Ao que retruquei:
“Rapazes, sou educador, resido no distante Piauí...”
Consertaram: “Não tem problema, você receberá a encomenda lá
mesmo.”
Bebi
chá da coca e descobri quanto é fácil traficar a droga e armas. A
Bolívia destaca-se, em terceiro lugar, no mercado internacional da
coca e cocaína, ao lado da Colômbia e Peru. O Brasil compra quase
toda a produção. Evo Morales defende a cultura da folha para fins
medicinais. Na prática, todavia, faz vista grossa à produção e
comercialização da droga. Estimula a plantação da erva, que já
alcança 27 mil hectares. Ousado e antiamericano, desafiou na ONU:
“Sinto que a folha da coca vai derrubar o capitalismo.” Talvez
mau presságio de anticristo, que vem aniquilando as novas gerações.
Aproximadamente, um milhão de brasileiros, vítimas da desgraça,
além da família. Músicos e ídolos populares, que
contribuiriam com exemplar conduta, vão-se, prematuramente.
Autoridades
brasileiras descobriram, segundo a Veja, cumplicidade do governo
boliviano com o narcotráfico. Entre outros fatos, uma conexão
direta entre o homem de confiança de Evo Morales e traficantes
presos no Brasil. Sua gangue possuía fazendas em Rondônia e
interceptava, por mês, 500 quilos de cocaína arremessada por aviões
bolivianos. Ex-miss boliviana, alta funcionária do governo Morales,
colaborava com traficantes em Rondônia.
Diante
do flagelo provocado pela droga, expiam-se vidas jovens e verbas
públicas, sem soluções, enquanto não se declarar guerra ao
tráfico nas fronteiras do Brasil e às leis de tolerância à
bandidagem. Sente-se o faz-de-conta dos que governam o país. Nunca
se viu, nas duas últimas presidências da República, um ataque,
pelo menos verbal, ao cartel da droga. Pelo contrário, o crime
organizado já consegue eleger parlamentares para defender leis de
proteção a bandidos e a menores infratores. Apresentam-se com
delicadas e sadias doses de chá de coca, no shopping, mas, por trás
das sutilezas e esperanças, o alvo é comércio das drogas, armas e
barganha de monumental dinheiro.
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