sábado, 1 de fevereiro de 2014

Oeiras, cidade de arte


Fonseca Neto

Os franceses, e a Unesco, de modo ampliado, conceituam de “cidade de arte” os antigos assentamentos que constituem acervos notáveis, legados da experiência humana em aconchegar-se para inventar o viver comunal. 

Cidade de arte” porque seus vestígios exprimem um sentido maior da engenharia historicamente marcada, culturas caldeadas entre a solidez do material e as levezas do espiritual. Cidade, porque concreção, tangibilidade. Arte, porque impulsão estética, leitura na fluidez da subjetividade. 

Arte”? É pensar com a sugestão do poeta Fernando, de que ela “existe porque a vida não basta”. Oeiras é assim e é uma joia rara no inventário do Patrimônio Histórico brasileiro. É exemplar da cidadela erguida sobre e com os lajedos fraturados do chão local. Fraturados em artísticas cantarias angulares para edificar arranjos de morada, de governo e de produção material. E templos. De perto, adentrando-na, contemplei o rubor de alegria no rosto de Ariano Suassuna frente a majestade armorial-sertoa da catedral da Vitória, erguida por mestres pedreiros, enquanto vaqueiros, antes das barrocas capelas de Ouro Preto. 

Esse conjunto de elementos, no qual a um só tempo repontam o labor cultural de gente de longe e os modos de viver da localidade, compõe um lugar singular e foi há dois anos tombado pelo Iphan, como parte relevante do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Trata-se de medida com potencial de grande impacto positivo, parece que ainda não completamente assimilada como tal, principalmente pela parcela maior de seus moradores. Nada incomum, todavia, pois outras cidades igual e anteriormente tombadas conheceram, no começo, idêntica inassimilação. Depois, as percepções mudam, desde que tombar não signifique a mortificação do bem objetado e também desde que junto com a proteção haja medidas concernentes à educação patrimonial. 

Falando em Educação... Nestes dias, Oeiras está no centro de um debate, que precisa ser melhor qualificado, sobre a criação de um núcleo local da Universidade Federal do Piauí. O episódio mais focado no momento alude a um ofício tratando do assunto, emanado do ministro da Educação e dirigido ao governador do Piauí. É que a solicitação encorpa um esforço de vontades conjugadas para vê-la de pé no menor espaço de tempo possível. 

A Ufpi, autora da proposta e a quem cabe a implementação, encaminha em ritmo próprio as articulações cabíveis, e segundo o reitor, na conformidade do tempo adequado à sua devida consecução. No âmbito interno, sobretudo da colegialidade superior, articula projetos de cursos; articula, em nível municipal e estadual, notadamente com políticos mandatários, a aprovação em nível ministerial da alocação dos recursos financeiros para prover as novas e expandidas funções. Tem-se por favorável a atual conjuntura em que o governo vem favorecendo a expansão do ensino público federal para todos os horizontes e modalidades, tendente à interiorização. A própria Oeiras é disso um exemplo com um novíssimo Ifpi – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. 

Expressam opinião minoritária, mas, conexas entre si, há duas perguntas: deve a Ufpi se expandir? Expandir-se para Oeiras? Sim, duplo. A expansão da Ufpi é uma contingência de sua legitimidade social, assim como também o é a manutenção, em estado vigoroso, das atividades que já agregou em sua experiência de mais de quatro décadas; e Oeiras deve ter outro campus federal, porque é uma urbs-arte centrípeta, referência de mais de uma dezena de municipalidades historicamente conjugadas, com populações que precisam engendrar a vida sem incorrer na perversão das diásporas que atormentam sobretudo os jovens.

Não se deve, porém, tomar nada disso como, a priori, inexorável. Promova a Ufpi sua expansão, qualificando-a com bons estudos e projetos, por exemplo, sobre que novos cursos essas microrregiões e o próprio Piauí precisam para um futuro de grandeza. No caso de Oeiras, que cursos universitários devem ser ali ofertados? Num mundo tão antigo e numa cidade secular, é fundamental trazer para ela significativas novidades em termos de formação superior. E qualquer estudo sobre potenciais campos de trabalho logo mostrará que não se deve, por exemplo, intentar cursos que a Uespi possidônia já ofereça, ali, ou em Floriano, Picos e Valença. 
  
Membro dos conselhos universitários da Ufpi e da Uespi, assim vemos e assim apoiamos a novidade.   

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