terça-feira, 11 de março de 2014

MEUS AMIGOS COMENSAIS


MEUS AMIGOS COMENSAIS

Anchieta Mendes

Ei-los, os meus amigos, meus protegidos e meus protetores mensageiros. São os passarinhos que, soltos pelo meu bairro, matriculados aqui na Universidade de Deus, no coração do Ininga, vêm, pela manhã cedo e à tardinha, todos os dias, às vezes mais de duas vezes ao dia, a toda hora, vêm alimentar-se da comida que espalho bem perto do meu quarto.
As rolinhas “fogo pagou” e “sangue de boi” e os pardais, são os meus comensais diários, simpáticos, alegres, felizes por que não têm gaiolas, nem grades, nem meninos, por perto, com uma “baladeira”.
Comem à vontade, preferem ir beber mesmo no Rio Poti, aqui perto que, se não tem água pura, ainda tem a beleza inconfundível e a mais poética paisagem da redondeza.
São os meus passarinhos que eu quero saudar. Meus porque suponho tê-los para mim, mesmo sentindo que eles não me querem nem de longe, pois se me aproximo deles, a revoada é como sincronizada e, adredemente, ensaiada.
Já me conhecem, todos, mas não confiam em mim. Realmente o homem, quase sempre, não merece confiança, notadamente, dos indefesos passarinhos.
Da minha janela, os contemplo, nas manhãs da saudade e no por do sol da tristeza. Ouço-os numa algazarra divinamente lançada aos meus ouvidos e ao meu coração. Os meus passarinhos que ainda estão soltos e vivos, neste mundo tão depredado e doente, onde não se respeita a natureza toda, os animais, os rios, as florestas, o mar, as cordilheiras e os lagos; natureza que, morrendo, nos dá tristeza e, também, a morte.
Meus passarinhos!... Lindos! São comensais do meu refúgio, do meu silêncio e da minha saudade. Se estou, na rua volto correndo na hora mais certa de encontra-los. Fico à distância vendo-os comer à vontade, às vezes brincando ou brigando, entre si, pelo melhor lugar à mesa.
É a inocência e a santidade com asas, bicos, pesinhos e espaço para voar.
Amém.    

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