MEUS
AMIGOS COMENSAIS
Anchieta Mendes
Ei-los, os meus amigos, meus
protegidos e meus protetores mensageiros. São os passarinhos que,
soltos pelo meu bairro, matriculados aqui na Universidade de Deus, no
coração do Ininga, vêm, pela manhã cedo e à tardinha, todos os
dias, às vezes mais de duas vezes ao dia, a toda hora, vêm
alimentar-se da comida que espalho bem perto do meu quarto.
As rolinhas “fogo pagou” e
“sangue de boi” e os pardais, são os meus comensais diários,
simpáticos, alegres, felizes por que não têm gaiolas, nem grades,
nem meninos, por perto, com uma “baladeira”.
Comem à vontade, preferem ir
beber mesmo no Rio Poti, aqui perto que, se não tem água pura,
ainda tem a beleza inconfundível e a mais poética paisagem da
redondeza.
São os meus passarinhos que eu
quero saudar. Meus porque suponho tê-los para mim, mesmo sentindo
que eles não me querem nem de longe, pois se me aproximo deles, a
revoada é como sincronizada e, adredemente, ensaiada.
Já me conhecem, todos, mas não
confiam em mim. Realmente o homem, quase sempre, não merece
confiança, notadamente, dos indefesos passarinhos.
Da minha janela, os contemplo, nas
manhãs da saudade e no por do sol da tristeza. Ouço-os numa
algazarra divinamente lançada aos meus ouvidos e ao meu coração.
Os meus passarinhos que ainda estão soltos e vivos, neste mundo tão
depredado e doente, onde não se respeita a natureza toda, os
animais, os rios, as florestas, o mar, as cordilheiras e os lagos;
natureza que, morrendo, nos dá tristeza e, também, a morte.
Meus passarinhos!... Lindos! São
comensais do meu refúgio, do meu silêncio e da minha saudade. Se
estou, na rua volto correndo na hora mais certa de encontra-los. Fico
à distância vendo-os comer à vontade, às vezes brincando ou
brigando, entre si, pelo melhor lugar à mesa.
É a inocência e a santidade com
asas, bicos, pesinhos e espaço para voar.
Amém.
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