Cunha
e Silva Filho
1) O
MUNDO
Fiquei perplexo com o que li na seção internacional
da Folha de São Paulo de domingo passado. O
conteúdo das notícias que li me deixaram decepcionado.
A esperança que tínhamos, nós ocidentais, da “Primavera
Árabe” se esfumou. As manifestações, os gritos de clamor
dos povos, as vidas perdidas nos embates contra as forças
policiais dos governos truculentos das nações onde a
esperança parecia que ia ser concretizada pela
troca de governos autoritários por governos
democráticos, os desejos justos contra a
opressão e a barbárie praticamente não resultaram em muita
coisa.
Basta
mencionar os exemplos da Argélia, Tunísia, Líbia,
Egito, Síria, Arábia Saudita, Iraque e Iêmen. Os que
realizaram eleições (?) colocaram no poder ditadores.
Assim, os exemplos da Argélia, do Egito, este último hoje
governado por um presidente interino; a Síria, que
vai realizar eleições(?) em 3 de junho próximo já conta
como vitorioso o genocida e ditador Bashar al-Assad; a
Arábia Saudita, uma monarquia, conduz o povo com mão de
ferro; o Iraque, desde a invasão dos EUA em 2003,
enfrentou um “ciclo” de violências, onde
xiitas e sunitas não se entendem, realizou eleições.
Resta saber se legítimas ou fraudadas,. Só Deus sabe...
Hoje,
ditadores, autocratas falam que,em seus governos,
há democracia, o que nos permite deduzir que “democracia”
no sentido mais lídimo do termo, passa a ter uma metamorfose
semântica e, o que é mais grave, de teor pejorativo ou
hilariante.Vai ver que Fidel Castro, Maduro e outros
assemelhados se definem como democratas. Como pode haver
democracia onde há censura cerrada ou velada?
Tenho
observado, em entrevistas de cientistas políticos ou de
pessoas familiarizadas com a questões de política
internacional, que há um certa concordância de
entendimento do que está acontecendo com os
governos de algumas nações do Oriente, do Leste
Europeu, da América do Sul e de alguns países africanos no
sentido de que está se revelando ou constatando uma
estranho comportamento político de cunho
autoritário respaldado pelas suas populações. O povo,
assim, aceita o governo discricionário, elege os
candidatos a presidentes com esse perfil de
ditador, naturalmente pensando – e erradamente, é
claro – que uma nação precisa de ser administrada
por esse tipo de governante.
Esse
comportamento dos povos é preocupante, porquanto
dessa espécie de acordo silencioso entre o governo e os
seus cidadãos arrisca-se uma nação em cair na
armadilha do totalitarismo.
De
acordo com uma análise de Roula Khalaf, do Financial
Times, publicada na mencionada edição de domingo
da Folha de São Paulo, o conhecido líder militar, Abdel
Fattah al-Sisi, tem certa a sua eleição e, conforme disse o
analista, .”.. com aprovação popular esmagadora.” E
mais, até um canal de TV patrocinado pelos sauditas,
retirou do ar Bassem Youssef, um conhecido comediante do
Egito. Isso para impedi-lo de evitar influenciar a
orientação dos eleitores e a opinião pública.”
Essa “comédia de uma noite de verão” é o retrato mais
deprimente da contrafação política orquestrada
para dar vitória a um candidato. O analista, num trecho
do artigo, chega a citar essa opinião ,
segundo ele, de “muitos egípcios” “É de um líder forte
que o país precisa.”
O
que está, na verdade, acontecendo com os povos do
mundo? Estão enlouquecendo e pondo, assim, a própria
cabeça à decapitação? Para onde estão lançando
os mais autênticos postulados da democracia da
Grécia antiga?
2) O
BRASIL
Agora, leitor, penetremos no país do
carnaval, sede da bem próxima Copa Mundial de Futebol,
delícias dos fanáticos matadores de outros
fanáticos numa simbiose que, entra ano, sai ano,
aumenta a estatística dos crimes relacionados a um
esporte outrora bem mais humano, bem menos milionário,
máquina atual de fazer uns poucos jogadores
craques de primeira grandeza e, depois,
transformados em businessmen do império
dos cartolas.
A pior notícia que ouvi esta noite foi a de
uma energúmeno, uma capeta em forma de humano, que havia
arrancado uma vaso sanitário de um dos banheiros
femininos de um estádio de futebol brasileiro e do
alto do estádio o arremessara em direção a um jovem,
possivelmente torcedor de time rival, que estava
passando lá embaixo na calçada. O objeto atingiu o
jovem em cheio e o matara instantaneamente.
Em pouco tempo, o governo da Dilma, agora na
condição de pré-candidata à reeleição, gastou rios
de dinheiro construindo estádios de futebol pelo
país afora, não se importando com o estado
escangalhado dos hospitais públicos, do transporte
em petição de miséria, da educação pública em
frangalhos, deixando um povo sofrido e ao
deus-dará, sobretudo em São Paulo, a cidade mais
importante do país, angustiada ainda mais com a escassez de água
para a população paulistana e a escalada de violência
jamais vista na história do país, violência que se alastra
por toda a nação, com pivetes matando
inocentes de todas as idades e, o que é pior, sem serem
punidos, sem terem a maioridade penal reduzida.
A
falta de controle dos órgãos de segurança já está levando
a um outro grave problema criminal: os linchamentos, a
lei feita por populares, muitas vezes, até
matando inocentes como foi o exemplo de uma
jovem senhora em São Paulo, se não me engano,
sacrificada por mãos de populares ensandecidos tal como
já aconteceu nos tempos da faroeste americano, sob a
alegação de que ela seria uma mulher que sequestrava
crianças para serem instrumentos de sacrifícios
ritualísticos. A mulher em questão era inocente e
havia sido confundida com a verdadeira criminosa, cujo
paradeiro ainda se desconhece.O erro foi duplo, alguém
postou na internet um retrato falado de uma mulher
provavelmente com alguma semelhança com a
inocente que deixou a família arrasada para sempre.
Com tantos gritantes problemas a serem
minimizados, o país ainda assiste ao escândalo
da compra bilionária de uma refinaria em Pasadena,
EUA, num imbróglio detetivesco que atinge os alicerces da
política petista. E os jornais já andam falando em
outra compra cheirando a fraude envolvendo, se não
incorro em erro, homens da Petrobrás e o governo. Essas
transações, que não deram nenhuma
vantagem aos brasileiros, mas só prejuízos ao Erário
Público, ainda não foram bem justificadas
pelo governo em Brasília.
E, diante de todos esses “malfeitos”, vocábulo do
campo semântico petista, assim como o tratamento cerimonioso
‘presidenta” saído das bocas dos aduladores e áulicos
palacianos, como vai a pré-candidata, amiga do
“Esse é o cara,” se justificar diante da opinião
brasileira e nos debates das campanhas na corrida
presidencial pela televisão e comícios nos quatro cantos da
pátria amada?
Estou quase acreditando que o Brasil está se
enfileirando no mesmo time dos “gloriosos”
candidatos-ditadores que estão substituindo a
“Primavera Árabe” por novos algozes com
pretensões de czares da velha Rússia
de Dostoiévski. E me pergunto mais uma vez: quem será, no
país, que deverá ser calado para não
cair na mesma situação do comediante
egípcio? Fica no ar a pergunta.
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