José Maria Vasconcelos
cronista, josemaria001@hotmail.com
Nos últimos dias, Teresina comoveu-se
com a tragédia batendo à porta de conhecidas personalidades, cujos filhos,
ainda estudantes, saíram a passeio ou diversão e voltaram sem vida. Nessas
horas, não há palavras nem orações que confortem. Parece que se vai ao fundo do
poço e não se encontra gota d’água de refrigério.
Seguidas noites de pranto, solidão,
saudade. O bem mais precioso da vida rompeu com o mundo da matéria e se foi.
Perguntas cruéis no desespero: “Para onde? Que Deus é esse que retira o
direito felicidade, jovens promissores e
virtuosos?” Basta ser carne e osso para se aguardar, a qualquer momento, a
ruptura com este mundo.
Até o miraculoso e
divino Filho de Deus não se livrou da inexorável presença da morte: “Pai, se
possível, afasta de mim este cálice!” Agonizante:
“Pai, por que me
abandonaste?!” A morte de entes queridos, uma experiência trucidante que não
encontra consolo, só dor, solidão, saudade. Dor, a tonalidade da vida afetiva
que se torna hostil e desfavorável a qualquer consolo. Paira apenas a pergunta
vazia, existencial e desesperadora: “Por quê?” Nesse momento, vale o exercício
do solilóquio, em vez da solidão doentia. O solilóquio espiritual com o Senhor
da Vida. O colóquio interior com a essência de Deus, aí, sim, encontra-se o
‘refrigério que borbulha no fundo do poço. Só pessoas exercitadas na
espiritualidade entendem e enfrentam vicissitudes. O tempo passa, a saudade
fica, o desespero desaparece.
Muita gente experimentou desertos que a
vida impõe, porém aprendeu sábias lições: descoberta de valores mais elevados,
a prática da generosidade, o desapego ao exacerbado uso de bens materiais e
conquista de poder, que tanto roubavam preciosas horas da família e do convívio
com os mais humildes. A dor descobre novos paradigmas iluminados de virtudes e
espiritualidade. Ai do ser humano se não sofresse, adoecesse, envelhecesse.
Muita gente, antes soberba, nariz empinado, arrotando impropérios contra o divino,
hoje, totalmente renovado e espirituoso.
O sábio extrai lições
das vicissitudes. Em vez de pedir a Deus que o livre das batalhas, pede-lhe as
armas para se defender. Sábio guerreiro, não refém do inimigo. O que torna as
pessoas angustiadas é a constante busca, nesta vida, de possibilidades que
apenas lhes interessam. Têm de ser do jeito que as tornem felizes, que lhes
aumentem o patrimônio, que gozem saúde, que se usufruam, à exaustão, de tudo
que é material e poderoso. Essa máxima de vida vale como felicidade, mas lhes
faltam valores mais sublimes. Quem já passou por vale de lágrimas, como
paralisia e perda de membros, hoje agradece aos céus poder manusear um
instrumento eletrônico para locomover-se e trabalhar. Souberam transformar
limão em limonada.
Teresina perdeu entes
que todos lhes queriam bem. Um poço de refrigério, certamente, já mina com água
viva da fé e esperança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário