Novela, o império dos sentidos
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Cronista, josemaria001@hotmail.com
De tanto resistir, caí na tentação. A
TV Globo já vinha anunciando, à exaustão, durante dias, a nova novela das 9
horas da noite. Wiliam Bonner completara: “Encerra-se, agora, o Jornal
Nacional, mas assista, em seguida, à novela IMPÉRIO. Veja como um homem, depois
de chegar ao fundo do poço, levanta-se e se torna dono de um grande império.”
Quem não resistiria? Eis aí o apelo, a propaganda, a sedução
provocada pela tecnologia de ponta, num cenário paradisíaco, penhascos cobertos
de bruma e vegetação, belos corpos aos abraços e amassos, duas belíssimas
canções românticas.
Para começo de cena, um casal de jovens, de origem
nordestina, enfrenta desumana sobrevivência na periferia do Rio. O marido, sem
fertilidade para gerar um filho. O irmão, “sem lenço, sem documentos”, vindo de
Pernambuco, bate-lhe à porta, em busca de trabalho na cidade. A cunhada atende
o cunhado, que esboça um olhar certeiro na beleza da cunhada. O irmão o acolhe
e lhe cede um quarto e comida. Nos primeiros dias, a cunhada cai nos braços do
cunhado, e aí começa o primeiro capítulo de bombardeio à instituição do
casamento e da estrutura familiar, o pão
nosso de cada dia das novelas, em geral. Acrescente-se, nos capítulos
seguintes, como de praxe, o beijo gay, casamento gay, sob a criação e direção
de novelistas gays.
Dia seguinte, mocinhas, rapazes e dondocas serão
entrevistados para o “que acham” da trama. O relativismo do “se agrada, é bom,
logo...” E assim a sociedade vai se ajustando ao império dos sentidos imposto
pelo império televisivo. Sem defender valores morais, a construção sadia do
caráter.
O que salva a audiência das novelas são os casos de paixões
tórridas, uma diversão inconsequente e perigosa, que se transforma em intensa
relação regida pela obsessão do prazer. Seguindo princípios dos autores e
diretores da trama, para os amantes não existem fronteiras e limites na busca
completa do êxtase. Os fins é que justificam os meios de gerar ibope.
O telespectador comum, despido de senso crítico, pouco
reflete o enorme fosso entre amor e paixão. O amor prazeroso e divino, ou
paixão doentia e irracional, capaz de todos os crimes e desvarios. Ou a
diferença entre virtudes e vícios. As novelas confundem os limites morais, e,
em busca de audiência, torna tudo maravilhoso, como um belo casal em fogosa
transa, casados ou não, com o cônjuge alheio ou não. Linda, 18 anos, carinha de
adolescente pura, Bruna Marquezine, aparece nua e sapecando as carnes dos
marmanjos telespectadores, logo no primeiro capítulo de EM FAMÍLIA. Nem rei Davi
resistiria a fulminantes desejos, contemplando a bela esposa, em banho, de seu
fiel general. A sensualidade sem freios já vem dos jardins do paraíso edênico.
As novelas se propõem a fornecer sonhos e prazeres, encantos
e paixões descartáveis. O resto é relativo. Depende do “eu acho”. Achismo
barato, sem fundamentos filosóficos, sem limites. Quem defende esses
mandamentos desligue a televisão ou mude de canal. Senão, cai na tentação. Pois
o império global manda neste país.
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