Fantasmas do velho Balneário dos Diários
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail
Cronista, josemaria001@hotmail
Fantasmas, fantasias oníricas de viciados em drogas,
inumeráveis pichações e imundície velam o antigo casarão de dois pavimentos,
abandonado na Praça Ocílio Lago, onde funcionava o Balneário do Clube dos
Diários, no Jóquei. Só os despojados, como o idealista, advogado, escritor e
jornalista, Kenard Kruel, topariam a proeza de resgatar o prestígio do vetusto
patrimônio, transformando-o em centro de manifestações artísticas. E o show já começou. Exige apoio de autoridades
e amantes das artes. Kenard iniciou a limpeza, atende compromissos no local,
organiza arquivos da Fundação Nacional de Humor. O médico José Aírton juntou
quatrocentos amigos, festejou seu aniversário ali, conseguindo 12 mil reais
para a instituição. Construtoras prometem reformas.
A Fundação Nacional de Humor projeta, para breve, show e
escola de humor na praça, museu de arte contemporânea, além de festivais de
cartuns, caricaturas, quadrinhos.
A geração atual pouco ou nada sabe sobre aquele bucólico
prédio e sua praça, urbanizada há algum tempo. A tarefa inicial de Kenard Kruel
já espantou boa parte das miragens e lucubrações.
Entre as
décadas de 1950 e começo de 60, o Bairro do Jóquei praticamente não existia.
Imensa floresta cobria quase toda a Zona Leste de Teresina. Só a velha ponte de
madeira, onde, hoje, se ergue a Ponte Wall Ferraz, servia de passagem sobre o
Poti. Construiu-se outra ponte, a Juscelino Kubistchek, de concreto, na segunda
metade dos anos 50, ligando a Avenida Frei Serafim à Zona Leste. Coronel
Miranda, proprietário do jornal O Dia, juntou grupo de notáveis amigos,
fundaram o chique Jóquei Clube, com manhãs dominicais lotadas de banhistas,
além das corridas de cavalos e tertúlias semanais. Endinheirados adquiriam
lotes enormes e arborizados, construíam modernas residências, desfrutavam a
noturna temperatura serrana.
O Jóquei Clube atraiu expressivos associados do Clube dos
Diários. Em resposta, líderes diaristas, comandados por Moisés Cadah, doutor
João França, Edgar Nogueira, general Gaioso, Durvalino Couto, João Carneiro e
Camilo Santos Hidd, fundaram o Balneário Clube dos Diários, que se estendia da
atual Praça Ocílio Lago à Avenida N. S. de Fátima, onde se ergue um
supermercado. Duas piscinas e bar ocupavam o segundo pavimento do prédio. Aos
domingos, música ao vivo. Filhos de sócios iam do centro da cidade, de ônibus,
lotavam o balneário a partir das 9 da manhã de domingo, até 2 da tarde. Certa
manhãzinha, ainda escura, Hermínio Conde, neto de Antonino Freire, governador
no início do século XX, dirigiu-se ao Balneário ainda deserto. Num salto do
trampolim, faleceu. Meu cunhado Marcos
Hidd, filho de Camilo Santos, parece delirar, recordando um tempo, quando
Teresina começava a se esbaldar nos recentes balneários, Jóquei, Diários, logo
mais o Iate Clube. Ainda se curtiam deliciosas manhãs, nas praias alvíssimas e
límpidas águas do Poti e Parnaíba.
A Fundação Nacional de Humor tenta resgatar alguns sonhos que
se perderam com o crescimento e modernização de Teresina. Se não cuidar,
fantasmas e fantasias oníricas cuidarão do lixo.
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