O livreiro e editor Leonardo Dias, o escritor Assis Brasil e a professora Francigelda Ribeiro |
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Cronista, josemaria001@hotmail.com
12 a 15 de
novembro, Salão do Livro de Parnaíba (Salipa), quinta edição. Assis Brasil, 82
anos, ensaísta, contista, jornalista e romancista, celebridade nacional,
dezenas de livros publicados, membro da Academia Piauiense de Letras,
homenageado da festa. Pouca gente sabe os embargos sentimentais que ilustres
parnaibanos, durante décadas, alimentaram contra o notável escritor. Veremos,
já.
No início do
magistério, eu lia, avidamente, os romances de Assis Brasil, especialmente os
que compõem a Tetralogia Piauiense: Beira Rio, Beira Vida; Pacamão; A Filha do
Meio Quilo; Salto do Cavalo Cobridor. Quatro romances com paisagens, dramas e
personagens nitidamente parnaibanos. Nomes, sobrenomes e endereços da bela e
vaidosa Parnaíba das décadas de 1930 a 50. Do porto do Rio Parnaíba, zarpavam
embarcações para São Luís e restante do país, cheinhas de cera de carnaúba,
óleo vegetal e especiarias, que seguiam para a Europa. De volta, traziam
produtos de luxo, mármore de Carrara, tecidos e móveis. Parnaíba da elite
endinheirada e vaidosa orgulhava-se dos filhos estudando na França, a pujança
comercial e cultural do mundo. A modesta Teresina dependia das empresas do
litoral.
Charge de Gervásio Castro, extraída do livro Poemitos da Parnaíba, de Elmar Carvalho |
Na periferia
da próspera cidade, multiplicavam-se cabarés e miséria à beira do cais. Menino
pobre, Francisco de Assis Almeida Brasil, residia na Rua Francisco Correia,
481, próxima à Praça Santo Antônio e da residência dos Mavinier, família
abastada na época. Miséria e prostituição à beira do rio contrastavam
exuberantes palacetes que se armazenavam na memória do futuro romancista.
Aos 14 anos, foi morar em Fortaleza, onde se formou em
Direito; depois, no Rio, onde exerceu atividade literária. Logo, os romances
que compunham a Tetralogia despertaram a fúria de parnaibanos ilustres,
ofendidos com o uso dos nomes, sobrenomes, mazelas, endereços.
Eu já conhecia
Parnaíba, onde vivera dois anos, no seminário capuchinho do Convento São
Sebastião. Lendo a Tetralogia, lembrava-me de personagens e endereços. Pus-me a juntar elementos da ficção do
romancista associados a cidadãos, ruas, logradores e vida social da sua
infância e adolescência, e publicá-los em livro, ASSIS BRASIL E SUA OBRA.
No início de 1978, dirigi-me a Parnaíba. Entrevistei o
engenheiro Darcy Mavinier, que residia na Rua Marquês de Herval, ao lado da
antiga Rádio Educadora. Darcy guardava profundo ressentimento por servir de
inspiração a personagem rico, rabugento e fanfarrão. Na sala de sua residência,
mostrou-me fotos da esposa, Ester, e irmãs, como Inhah, envolvidas em tramas
repugnantes do romance. O engenheiro me levou a endereços retratados na ficção.
Fotografei os cabarés Sonho Azul e QG, bem como a zona miserável e pantanosa da
Quarenta, além do Cine Éden, Praça da Graça, Bar do Mílton (pertencia ao pai de
Assis Brasil, depois a Drogajafre), Pensão D. Isabel (ao lado direito da Droga
Jovem, na mesma praça) e cidadãos vivos, como Tomás (Casa Tomás), Pacamão,
Professor Rodrigues (famoso em Parnaíba), Meio Quilo (baixinho e magro,
vendedor no Mercado Central), Darcy, Cota, Ester e Bento. Explicava-se a
indiferença parnaibana ao escritor.
Assis Brasil, duas vezes laureado com Prêmio Nacional Walmap,
fundiu o contraste regional ao universal, usando técnicas novas de narrativa.
Merecida homenagem, portanto, ao renomado escritor brasileiro, neste quinto
Salipa. Quanto ao livro ASSIS BRASIL E SUA OBRA, logo esgotou a primeira
edição, aguarda uma segunda. Quem se arrisca a negociá-la?
José Maria, as suas informações são de uma importâcia capital para entender-mos de uma vez por toda, este episódio negro ocorrido na sociedade parnaibana.
ResponderExcluirAssis Brasil um dos mais importante escritor brasileiro com 132 obras publicadas, A ABL, tem perdido muito em não tê-lo em seus quadros (deveriamos fazer um movimento em prol da sua entrada na Academia Brasileira de Letras - concorrendo é claro ás próximas vagas).
Assis Brasil, deve estar de alma lavada e feliz com este final. A vida é mesmo assim: "Não se faz profeta em sua terra" e também sabemos "que nada dura para sempre"
Parabéns
José Itamar Abreu Costa
(Assisbrasilista de carteirinha)