Templos luxuosos e confortáveis, errado?
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Três grandes
templos de Teresina: Do Amparo, Das Dores e de São Benedito. Despertam certo
halo sagrado de majestade, pela riqueza arquitetônica. Ainda garoto, a
curiosidade me levava a subir as escadas do templo de São Benedito,
aproximava-me dos sinos, contemplava a acanhada cidade, cujos limites não
ultrapassavam a Vermelha, Aeroporto, final da Avenida Frei Serafim com o Poti.
Como a capital conseguira construir, no final do século 19, com apenas 30 anos
de fundação, templos de tamanha beleza, com mármore e utensílios vindos da
Europa? Seria fervor maior das gerações passadas, gratidão ao Altíssimo
manifestada com doação de bens preciosos, como rebanhos e propriedades,
conforme as condições financeiras dos fiéis?
Em passado remoto, credos religiosos de todas as esferas
erguiam suntuosos templos, cuja arquitetura e luxo sobrepujavam demais
construções. Ainda hoje seduzem os colossais pagodes budistas da Índia, Japão,
Coreias, Nepal e China, cujas altas torres atraíam raios, vistos como fúria divina.
Mesquitas muçulmanas de raro esplendor. Igrejas suntuosíssimas, medievais e
renascentistas, onde se coroavam reis e papas, projetavam-se pintores,
escultores, arquitetos e músicos. Monumentos que encantam turistas: Notre Dame
de Paris, Basílica de São Pedro, dezenas outras espalhadas na Europa: belíssima
catedral de São Marcos, em Veneza, estilo bizantino, onde entrei com os pés
mergulhados em palmo dágua. Suntuosa Catedral de Colônia, na Alemanha, a mais alta do
mundo. Templos pagãos, valiosos e artísticos da Grécia e Egito. Ou dos impérios inca, asteca e maia,
destruídos pela fúria religiosa e invasora.
A arte surgiu, praticamente, do culto à divindade, através da
rara criação e doação. No Antigo Testamento, encontra-se a primeira
manifestação de culto a Deus: pastor Abel oferece cordeiros em holocausto,
preconizando a figura do Messias, milhares de anos antes. No deserto, Moisés
constrói a Arca da Aliança, puro ouro, ornamentado com figura de querubins, que
vigiavam as tábuas dos dez mandamentos. A Arca simbolizava a aliança de Javé
com o povo de Israel. Rei Davi constrangia-se por residir em luxuoso palácio,
enquanto a Arca da Aliança era venerada em modesta tenda. Prometeu construir
majestoso templo. O profeta Natan avisou-lhe que a tarefa caberia a um herdeiro
do trono, cujo
reinado seria eterno. O magnífico templo foi erguido pelo rei Salomão, cujo
reinado durou algumas décadas. A profecia de Natan apontava para o futuro
Messias que nasceria milênio depois. Jesus e discípulos encontravam-se na casa de Lázaro. Uma mulher unge-o com
precioso perfume. Judas condena-lhe a generosidade e sugere que o vaso de
alabastro seja vendido, e o dinheiro repartido com os pobres. Jesus rebate: Esta mulher
escolheu o melhor; pobres vocês sempre terão. Para celebrar a ceia pascal, o Mestre exigiu
uma ampla sala
mobiliada em segundo pavimento de uma residência. Diante do magnífico Templo
de Jerusalém, Jesus afirma: Destruam este templo, e eu o reconstruirei em três
dias. Referia-se ao templo de seu corpo. O holocausto de seletos cordeiros, a Arca da Aliança em
ouro e o esplendoroso templo representavam a prova carnal da existência divina
na pessoa de Jesus Cristo. Quando o amor alcança dimensões infinitas, os
presentes não têm preço, mas valor. Em se tratando de culto divino, tudo
ultrapassa a todos.
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