Foto meramente ilustrativa |
5 de março Diário Incontínuo
AS PIRIGUETES DO
REGINALDO
Elmar Carvalho
Não se sabe de onde
elas vieram, mas um dia apareceram na Várzea do Simão, e o Reginaldo Silva
prontamente as acolheu, e lhes criou grande estima. São duas cadelinhas
vira-latas, e ninguém nunca pôde saber quem era seu antigo dono. Talvez,
covardemente, tenham sido abandonadas por ele, que provavelmente seja residente
em outra localidade da redondeza.
As pessoas, em seu
espírito jocoso, logo lhes puseram o apelido de “piriguetes”. Os mais sensíveis
e delicados hão de achar essa alcunha politicamente incorreta, porquanto elas
são recatadas e nada promíscuas. O nome oficial delas, entretanto, é “Aparecidas”,
que até o momento nunca “pegou”. São irmãs, muito semelhantes e amigas. E se
bastam em sua convivência, e com a proteção e os cuidados do Reginaldo, que
lhes provê alimento e outras providências.
Elas se “apropriaram”
do sítio, e, à noite, defendem o território da aproximação de intrusos e
desconhecidos. Durante o dia, principalmente em presença do dono, são dóceis e
não costumam nem latir nem rosnar. Logo cheiram os pés dos novos conhecidos, em
reconhecimento olfativo amigável.
Em certa tarde, eu e o
Natim Freitas fomos até a beira do Parnaíba, para apreciarmos a paisagem do
rio, das matas ciliares, das coroas e da ponte do Jandira, que se vê ao longe.
Um pouco depois, quando o céu já começava a se colorir de tons avermelhados, as
duas cadelinhas passaram à nossa frente, e seguiram a montante de onde nós
estávamos, sentados nos bancos da Toca do Velho Monge.
Foram ao encontro de
outra cachorrinha amiga delas e do mesmo tope, também vira-lata, algo parecida
com elas. As três seguiram para o rio, num ponto em que ele é raso e arenoso.
Tomaram banho, e começaram a brincar entre elas mesmas. Saltavam. Corriam uma
atrás das outras. Fingiam se morder e se arranhar, enquanto saltitavam e
volteavam.
Na hora melancólica do
cair da tarde, em que a noite começa a tudo envolver em sua sombra, senti,
comovido, que até certos bichos, ditos irracionais, sentem necessidade de se
confraternizar e brincar, e parecem precisar da companhia de seu semelhante,
sem agressões, sem ofensa, sem bullying. Em perfeita paz e inocência.
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