quarta-feira, 25 de março de 2015

Índio não aceita tutela do Estado e ongs


Índio não aceita tutela do Estado e ongs

José Maria Vasconcelos 
Cronista, josemaria001@hotmail.com


         Puro índio, moreno, olhos oblíquos, pouca fala, nome e sobrenome indígena. Frequentemente, volta à tribo Canelas, município de Barra do Corda-MA, para visitar os pais e irmãos. Prestou serviços de eletricidade, durante vários dias, na minha residência, quando manifestou um cidadão generoso e responsável. Para não revelar a identidade do índio, escolhi o pseudônimo Taipeba.

         O jovem Taipeba veio a Teresina, há alguns anos, trazido por missionários evangélicos, para tratamento de saúde. Hospedou-se no abrigo para índios, logo depois da Ladeira do Uruguai. Batizado, fiel aos cultos, estabeleceu-se aqui, onde estudou. RG, CPF, carteira do trabalho, certificado de eletrônica e ensino médio, e-mail, pilota moto, atende pedidos para serviços, paga impostos. Em Teresina, conheceu uma garota, casaram-se, residem na periferia. “Minha religião não me permite prostituir”.

         O índio orgulha-se de sua etnia, mas não aceita a tutela imposta por órgãos governamentais. “Lá, a gente não evolui, sempre dependendo dos caprichos, interesses e vigilância”. Para Taipeba, as entidades indigenistas tentam preservar os índios fechados em primitivos hábitos e culturas, sem evoluir em conhecimentos como os brancos. Índios permanecem atrasados e analfabetos; pior, só poucos, como eu, conseguem evoluir, livres e civilizados. Os chefes tentam vender a imagem que não é verdade. Exigem que o índio se enfeite de adereços e pinturas para as câmeras de tevê. Somos vigiados e protegidos, mais pelo interesse deles do que pela nossa independência financeira e cultural. Por trás da vida miserável na tribo, tem gente levando vantagem, inclusive o cacique. Só aprendemos o rudimentar. Lá dentro, ninguém cresce e se liberta. Para a FUNAI, quanto mais atrasados, melhor. Até para construir uma igreja, botam empecilho. Acham que a gente vai evoluir na vida... Alguns chefes indígenas ficam ricos, explorando madeira e tráfico de drogas.

         A questão indígena nacional vem causando preocupações, desde a conquista de imensas reservas para poucos índios às demarcações em áreas de fronteiras. Além de intromissões estrangeiras em seus domínios, camufladas de ONGS humanitárias, controlam entrada de brasileiros nas reservas.  

      A presença indígena em zona de fronteira internacional, principalmente na região amazônica, constituiu uma preocupação permanente para o Estado brasileiro. A demarcação de terras indígenas nessas regiões é um dos principais focos de tensão política. Os povos indígenas em região de fronteira são vistos como uma ameaça à nação. Embora sejam brasileiros e suas terras propriedade da União, sua nacionalidade é questionada e são frequentemente acusados de servir, de modo ingênuo, a interesses estrangeiros, ameaçando a integridade e a soberania nacional na região.

      Taipeba convidou-me para visitar sua tribo, em breve. E avisa para não me surpreender com a nudez dos seios das mulheres. “Minha esposa segue o mesmo costume, lá”. Pureza edênica, lição de pudor à maliciosa civilização.     

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