Índio não aceita tutela do Estado e ongs
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Puro índio,
moreno, olhos oblíquos, pouca fala, nome e sobrenome indígena. Frequentemente,
volta à tribo Canelas, município de Barra do Corda-MA, para visitar os pais e
irmãos. Prestou serviços de eletricidade, durante vários dias, na minha residência,
quando manifestou um cidadão generoso e responsável. Para não revelar a
identidade do índio, escolhi o pseudônimo Taipeba.
O jovem
Taipeba veio a Teresina, há alguns anos, trazido por missionários evangélicos,
para tratamento de saúde. Hospedou-se no abrigo para índios, logo depois da
Ladeira do Uruguai. Batizado, fiel aos cultos, estabeleceu-se aqui, onde
estudou. RG, CPF, carteira do trabalho, certificado de eletrônica e ensino
médio, e-mail, pilota moto, atende pedidos para serviços, paga impostos. Em
Teresina, conheceu uma garota, casaram-se, residem na periferia. Minha religião não
me permite prostituir.
O índio
orgulha-se de sua etnia, mas não aceita a tutela imposta por órgãos
governamentais. Lá, a gente não evolui, sempre dependendo dos caprichos, interesses e vigilância. Para Taipeba, as
entidades indigenistas tentam preservar os índios fechados em primitivos
hábitos e culturas, sem evoluir em conhecimentos como os brancos. Índios
permanecem atrasados e analfabetos; pior, só poucos, como eu, conseguem evoluir, livres e
civilizados. Os chefes tentam vender a imagem que não é verdade. Exigem que o
índio se enfeite de adereços e pinturas para as câmeras de tevê. Somos vigiados
e protegidos, mais pelo interesse deles do que pela nossa independência
financeira e cultural. Por trás da vida miserável na tribo, tem gente levando
vantagem, inclusive o cacique. Só aprendemos o rudimentar. Lá dentro, ninguém
cresce e se liberta. Para a FUNAI, quanto mais atrasados, melhor. Até para construir
uma igreja, botam empecilho. Acham que a gente vai evoluir na vida... Alguns
chefes indígenas ficam ricos, explorando madeira e tráfico de drogas.
A questão
indígena nacional vem causando preocupações, desde a conquista de imensas reservas
para poucos índios às demarcações em áreas de fronteiras. Além de intromissões
estrangeiras em seus domínios, camufladas de ONGS humanitárias, controlam
entrada de brasileiros nas reservas.
A presença indígena em zona de fronteira internacional, principalmente
na região amazônica, constituiu uma preocupação permanente para o Estado
brasileiro. A demarcação de terras indígenas nessas regiões é um dos principais
focos de tensão política. Os povos indígenas em região de fronteira são vistos
como uma ameaça à nação. Embora sejam brasileiros e suas terras propriedade da
União, sua nacionalidade é questionada e são frequentemente acusados de servir,
de modo ingênuo, a interesses estrangeiros, ameaçando a integridade e a
soberania nacional na região.
Taipeba convidou-me para visitar sua tribo, em breve. E avisa
para não me surpreender com a nudez dos seios das mulheres. Minha esposa segue
o mesmo costume, lá. Pureza edênica, lição de pudor à maliciosa civilização.
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