Dobaliana
Elias
Paz e Silva (1963)
lembrança de curral
na tarde oval
feixe de palavras
sobre o verão de arder
ao sol seca o tempo
chove o silêncio
na cidade infante").
na cidade infante").
Poeta, contista, cronista, romancista, memorialista e diarista. Membro da Academia Piauiense de Letras. Juiz de Direito aposentado. *AS MATÉRIAS ASSINADAS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES, E NÃO TRADUZEM OBRIGATORIAMENTE A OPINIÃO DO TITULAR DESTE BLOG.
Pequeno poema de dimensão lírica em tom maior.Já se falou que um poema é feito de palavras, mas entenda-se de palavras que se fazem realidade viva e humana , como este de de titulo alusivo a H. Dobal. Todo este poema construído de três estrofes, a primeira, com quatro versos; a segunda, com apenas um verso e a terceira com dois versos, e mesmo assim este último uma junção provavelmente de versos de H. Dobal, a se ver pelas aspas, aqui estampadas de forma incompleta, possível erro gráfico.
ResponderExcluirA comentarista importa o todo do poema e a sua form a de arquitetura poética, ou seja, o que de original de artesanato técnico faz o autor para que o poema , a seu ver, seja de qualidade.Veja-se somente o terceiro verso da primeira estrofe: "feixe e palavras". Com isso, o poeta desrealiza qualquer indício de verso tradicional e sai à procura de poesia que propicie ao todo de sua composição foros de poeticidade, o pema como poema em si, porém não destituído de significados humanos, de reflexão sobre uma cena apresentada, no caso uma cenário rural nordestino pelas características assinaladas na seletividade dos vocábulos ("curral", "verão," ou no verbo "arder" que indicia as altas temperaturas comuns no Piauí.
Ouros aspectos formais ensejam conclusões positivas quanto à qualidade desses versos.
O "feixe de palavras" é um enunciado típico desse aspecto: não há poema sem palavras, porém sem palavras que vivifiquem o seu intento humano e de realidade passível de interpretação e com objetivos latentes a serem revelados pela análise crítica
O poema é um corpo com alma, uma mensagem, uma significação, não um amontoado de palaavras soltas. O objetivo comunicativo do poema que comentamos é claro. Remete a fatores da memória que precisa ser assegurada pela escrita. E memória chama outro elementos a ela profundamente associados: o tempo, o espaço, os seres.
Constitutem palavras-chave no poema "Dobaliana" os seguintes vocábulos: "lembrança","curral", "verão", já citado, "sol", "seca" e, contrastivamente, "chove , "silêncio", "cidade", "infante".
Temos, em conclusão, uma voz lírica dobrada para o passado e suas recordações no campo ardente de calor intenso.Enquanto o sol o tempo "seca", a voz lírica recorda também que "chove" (em oposição a "seca"). Quer dizer, sob o sol o tempo se anula aparentemente, ao passo que, no "silêncio," que é intenso, que é grande e dolorido, porque nele se aprofunda, no espaço urbano, um saudade não sentimental, contida, mas mesmo assim saudade das lembranças que se colaram ao presente da voz lírica, tanto no poeta de "Dobaliana" quanto no uso intertextual , ou seja, no diálogo com H. Dobal. Os poeta se completam nas influências das leituras e das afinidades ou não.