COSTA ALVARENGA
O patriarca da insuficiência aórtica
Reginaldo Miranda
Da Academia Piauiense de Letras
Foi Pedro Francisco da Costa Alvarenga um renomado médico,
professor e cientista luso-brasileiro. Ele veio ao mundo em Oeiras, então
capital da província do Piauí, no ano de 1826. Era neto do português Francisco
José da Costa Alvarenga, homem culto e inteligente que, embora sem as láureas
acadêmicas, fazia as vezes de médico na província.
Em sua terra natal iniciou-se nas primeiras letras, sendo
alfabetizado ainda muito jovem. Entretanto, mal completara oito anos de idade,
em 1834, observando seus rasgos de inteligência e para melhor conduzir a sua
formação intelectual seus pais retornam ao velho continente, fixando residência
em Lisboa. Foi então que o pequeno
menino de Oeiras pôde prosseguir em seus estudos, para isto contando com as
lições dos principais mestres de seu tempo. Aluno de gênio incomum, aliado à
extraordinária força de vontade, ainda adolescente cursou Matemática na Escola
Politécnica e Zoologia na Academia de Ciências, sendo premiado em ambos os
cursos por seu desempenho escolar. Em 1845, matriculou-se no curso de Medicina
da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, concluindo-o com louvor em 1850, tendo
sido mais uma vez premiado em todos os anos letivos. (Jornal de Pharmacia e
Sciencias Acessórias de Lisboa – 1849).
De retorno a Portugal, iniciou o trabalho de atendimento
clínico, tornando-se médico efetivo do Hospital de São José, da Santa Casa de
Misericórdia, subdelegado de saúde e médico honorário da Câmara de Sua
Majestade Fidelíssima. Foi, entretanto, inexcedível em sua luta de amparo aos
enfermos durante as duas grandes epidemias de cholera morbus e de febre amarela
que assolaram a capital portuguesa(1853 – 1856), assumindo a direção de vários
hospitais especialmente montados naquela oportunidade. Por esse tempo adquiriu
grande reputação, sendo chamado a toda parte. Era o médico de Lisboa. Segundo a
imprensa de antanho, se não bastasse a sua profícua produção acadêmica, bastava
ouvi-lo “para se reconhecer o médico que sabe fazer o diagnóstico das doenças
de peito com precisão quase matemática. A auscultação, a percussão, a
mensuração, assim como os demais meios de descobrir as doenças, têm no sr.
Alvarenga um apaixonado cultor”. E mais, “em tão breves anos não é fácil
adquirir neste país maior soma de conhecimentos teóricos e práticos do que
possui o sr. dr. Alvarenga” (A Revolução de setembro, n.º 6045, de 8.7.1862; A
crença, de 9.7.1862)
Concomitantemente ao atendimento clínico, dedicou-se com
afinco e denodo ao ensino e à pesquisa, encetando vitoriosa carreira acadêmica.
Em 1862, depois de consagradora aprovação em concurso público, assumiu a
livre-docência de Matéria Médica da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, onde se
formara doze anos antes. O seu desempenho nesse concurso foi acompanhado e
aplaudido pela imprensa portuguesa, para quem o resultado correspondeu à
expectativa, tendo o afamado clínico da capital justificado a sua merecida
reputação. A segunda lição do certame, aplicada em 29 de junho, versou sobre a
medicação estimulante, os alcoólicos e preparados amoniacais, tendo o candidato
discorrido “durante uma hora com facilidade de locução, abundância de fatos e
certeza de doutrina, que só podem ostentar o talento distinto e a inteligência
desenvolvida pela aplicação aturada”. Acrescenta o periódico: “O ilustre
opositor não é um mero expositor de doutrinas alheias; sobressai nas suas
orações a crítica severa, mas esclarecida, que na atualidade mais do que nunca
se torna necessária para se não desviar a ciência da verdadeira vereda que lhe
traçou o imortal filósofo de Verulamio”(A Revolução de setembro, n.º 61038, de
29.06.1862).
Segundo o já indicado órgão da imprensa, em 3 de julho
concluiu “as suas provas teóricas e orais no concurso (...) o laureado
candidato(...). O erudito e talentoso opositor, falando da asfixia em geral,
mostrou-se tão profundo fisiologista como lido nos mais abstrusos problemas da
jurisprudência médica”. E sobre a conclusão do exame em 8 de julho, informa o
mesmo periódico: “O médico estudioso e
consumado prático revelou à saciedade que pode ser ao mesmo tempo escritor
fecundo, profundo teorista e hábil clínico, uma vez que a inteligência seja
desenvolvida pelo estudo assíduo dos livros e pela lição que fornece a
observação e a experiência à cabeceira dos enfermos. (...). Os seus numerosos
escritos aí estão patentes para atestarem o que vale o nosso talentoso médico.
Quanto à sua aptidão prática, a capital o sabe de sobejo; os doentes do
hospital do Desterro que o digam; os facultativos que solicitam conferências
que o atestem”(idem). O jornal A crença(11.07.1862) assim se expressou:
“Felicitamos, pois o sr. dr. Alvarenga, por ter tido ocasião de mostrar mais
uma vez o seu talento e profundos conhecimentos; à escola médico-cirúrgica de
Lisboa por receber no seu grêmio mais um membro que a há de enobrecer tanto
quanto tem ilustrado a medicina portuguesa dentro e fora do país”. Era, de
fato, um orgulho da nação portuguesa.
Em 1853, fundou e tornou-se o principal redator da Gazeta
Médica de Lisboa, conceituada revista que circulou até o ano de 1875, de onde
vários artigos foram traduzidos e republicados em outras importantes
publicações científicas europeias. Dada a sua notoriedade acadêmica, ingressou
como sócio efetivo na Academia Real de Ciências e correspondente na Imperial
Academia de Medicina do Rio de Janeiro, além de mais de trinta associações de
ciências e letras da Europa. Foi agraciado com títulos e comendas em diversos
países.
Realizou inúmeras descobertas científicas. Porém, o que mais
notabilizou o seu nome foi a descoberta, em 1856, do sinal do duplo sopro
crural da Insuficiência aórtica, também conhecido como “Sinal
Alvarenga-Duroziez”. Ocorre que aquele conhecido cardiologista francês
observara o mesmo sinal seis anos depois e então estava sendo ensinado na
escola francesa com o nome exclusivo deste. Entretanto, Costa Alvarenga
reivindicou seus direitos e a Academia de Paris, considerando que o sintoma já
estava muito vulgarizado com aquele nome passou a denominá-lo homenageando os
dois cientistas. Entretanto, alguns tratadistas, entre os quais o italiano
Castellino e o brasileiro Miguel Couto, reconhecem apenas a primazia do
luso-brasilerio denominando-o apenas por “sinal de Alvarenga”.
A par dessa importante descoberta, ainda divulgou “muitas
outras obras magistrais, como, as têm qualificado os homens mais competentes,
algumas laureadas, outras vertidas na língua universal, aconselhando alguns
professores da faculdade de medicina em França aos seus discípulos a leitura”,
principalmente aquelas “sobre doenças do peito, como muito instrutiva e ótimo
guia no estudo da especialidade” (A crença, 11.07.1862). Entre as quais,
destaca-se: Estudo sobre as variações de comprimento dos membros pelvianos na
coxalgia(tese da formatura – 1850); Memória sobre a insuficiência das válvulas
aórticas e considerações gerais sobre as doenças do coração(1855);
Considerações sobre o cholera-morbus epidêmico no Hospital de São José de
Lisboa(1856); Notícia do Relatório sobre epidemia de chólera-morbus no Hospital
de Sant’Anna em 1856(1858); Relatório sobre a epidemia do cholera-mobus no
hospital de SantAnna em 1856(1858); Apontamentos sobre os meios de ventilar e
aquecer os edifícios públicos(1857); Esboço histórico sobre a epidemia de febre
amarela na freguesia da Pena em 1857(1859); Anatomia patológica e
sintomatologia da febre amarela em Lisboa no ano de 1857(1861); Como atuam as
substâncias brancas e cinzentas da medula espinhal na transmissão das
impressões sensitivas e terminações de vontade(1862); Estado da questão acerca
do duplo sopro crural na insuficiência das válvulas aórticas(1863); Apontamento
acerca das etocardias a propósito de uma variedade descrita, a traquocardia
(1867); Estatística dos hospitais de São José, São Lázaro e Desterro no ano de
1865(1868); Considerations et
observations(1869); Da importância da estatística na medicina(1869); Elementos
de termometria clínica geral(1870); Estudo sobre as perfurações
cardíacas(1870); Da cinose(1871); De la therminologie generale(1871); De la
thermosemiologie et thermacologie(1871); Anatomia patológica e patogenia das
comunicações entre as cavidades direitas e esquerdas do coração (1872);
Sintomatologia, natureza e patogenia do beribéri(1872); Bosquejo histórico e
crítico dos meios terapêuticos empregados contra a erisipela(1873); Bosquejo
histórico e escrito da cianose(1873); Grundzüge der Allgemeinen clinischen
Thermometrie und der Thermosemiologie und Thermacologie(1873); Bosquejo histórico
da percussão(1874); Do salicato de potassa no tratamento da erisipela(1875); Da
propilamina, trimetilamina e seus sais(1877); Leçons cliniques sur les maladies
du couer(1878); Tratado de matéria médica e de terapêutica pelo Dr.
Mothmagel(1878); Farmacotermagenese(1880); Reclamations et reponses(1880); Des
medications hypothermiques et hyperthermiques, et des moyens therapeutiques que
les remplissent(1881); Theories de l´action therapeutique du tartre stibiè dans
la pneumonie(1881); Apontamentos sobre os pontos de aplicação das vias de
absorção dos medicamentos(1882); Fragmentos de farmacoterapiologia geral ou
matéria médica e terapêutica(1883).
Em 1872, demorou-se longo tempo no Rio de Janeiro, tomando
parte ativa nos debates na Imperial Academia de Medicina, de que resultou na
publicação de um livro a respeito, lançado em 1873. Sobre esse período escreveu
o notável escritor Machado e Assis ao folhetinista lusitano Júlio César
Machado(1835 – 1890), que travou relações de amizade com Costa Alvarenga, que muito
o honravam e não haveria de esquecê-las, chamando atenção para sua vasta
capacidade e para a nomeada que tão justamente gozava este na Europa. De
regresso a Portugal passou Costa Alvarenga pela Bahia, oportunidade em que
medicou o jovem Rui Barbosa, diagnosticando anemia cerebral e subnutrição.
Faleceu em 14 de julho de 1883, na cidade de Lisboa, vítima
de fulminante lesão aórtica, o mesmo mal que estudara por grande parte de sua
vida. As cinzas de seu corpo repousam honrosamente na cripta da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro. Possuía apenas 57 anos de idade e já era um dos
mais respeitados cientistas da Europa. No Brasil, é patrono da cadeira 10 da
Academia Nacional de Medicina.
Apaixonado pela ciência e visando fomentar as pesquisas
científicas instituiu em seu testamento um incentivo às academias de medicina
de Paris, Lisboa, Bruxelas, Viena, Berlim, Filadélfia, Estocolmo e Rio de
Janeiro, deixando-lhes uma fonte de renda permanente para premiar as principais
pesquisas científicas. A denominação dada a essa premiação é uma declaração de
amor à terra natal, que mesmo distante nunca morreu em seu pensamento, “Prêmio
Alvarenga do Piauí”.
E como se não bastasse legou também à província do Piauí uma
importância financeira suficiente para construção de uma escola em Oeiras, que
somente foi construída muitos anos depois, recebendo o nome de “Grupo Escolar
Costa Alvarenga”.
Foi, portanto, um cidadão benemérito, cuja fama correu mundo,
mas nunca esqueceu a terra em que deu os primeiros passos e as velhas margens
do riacho do Mocha, onde, certamente, brincou e em cujas águas banhou nas
peraltices de criança. É justo, pois, que o Piauí também não lhe esqueça,
rendendo à sua memória um preito de justa gratidão. É o objetivo dessa
lembrança, além de dizer à juventude piauiense que esta terra é boa e produz
excelentes frutos. Guardemos, pois, para sempre a memória desse grande
cientista que honra e glorifica a terra piauiense.
Costa Alvarenga, foi o primeiro brasileiro a ser destaque mundial na descoberta da Medicina. A Insuficiência Aórtica tem vários sinais ao exame físico, com destaque para o sinal de Alvarenga-Durozier. O acreano Adib Domingos Jatene, com a Cirurgia de trocas e implantes das artérias na Transposição das Grandes Artérias "Cirurgia de Jatene".
ResponderExcluirO cirurgião paranaense Randas Batista, criou uma cirurgai para o tratamento das Miocardioparias dilatadas, foi patenteada por Cirurgia de Randas, é realizada no mundo inteiro com sucesso relative. O sanitarista Carlos Chagas, decobriu o barbeiro com causador de uma doença que afetava o Coração, Esôfago e Intentino Grosso a Doença de Chagas.
José Itamar Abreu Costa
Cardiologista do Hospital ITACOR