Assembleia
Legislativa do Piauí – 180 anos
Reginaldo Miranda
Da Academia Piauiense de Letras
Era o dia 4 de maio de 1835.
Na cidade de Oeiras, antiga capital do Piauí, grande era a movimentação. De
várias partes haviam chegado as pessoas mais gradas da província para a
solenidade de instalação da Assembleia Legislativa Provincial e posse dos vinte
deputados eleitos em escrutínio secreto. Desde o dia primeiro chegavam os
deputados para as sessões preparatórias que se desenrolaram nos dois dias
anteriores à instalação, onde compareceram inicialmente onze dos vinte
deputados, aqueles que residiam mais próximo, chegando os demais em dias subsequentes.
Essas duas sessões preparatórias foram presididas pelo deputado Pedro Antônio
Pereira Pinto do Lago, escolhido por aclamação.
À sessão inaugural comparece
o presidente da província Manuel de Sousa Martins, então barão, depois visconde
da Parnaíba, tomando assento igual ao do presidente da assembleia e à sua direita.
Então, depois de abertos os trabalhos, na forma constitucional, dirige sua fala
à nova casa legislativa, dizendo do estado dos negócios públicos e das
providências a serem tomadas, em seguida retirando-se formalmente, acompanhado
da mesma deputação que o levou ao recinto dos trabalhos. Sua fala foi seguida
pela do presidente da Câmara Municipal de Oeiras, saudando o nascente poder
legislativo.
Em ato contínuo passam os
deputados recém-empossados à eleição da mesa diretora. Para presidente foi
eleito o veterano de outras pelejas Manuel Pinheiro de Miranda Osório,
derrotando três outros candidatos, inclusive seu sobrinho José Francisco de
Miranda Osório; para vice-presidente foi eleito José Luís da Silva, o primeiro
médico do Piauí, em acirrada disputa e já em segundo escrutínio de desempate;
para primeiro e segundo secretário foram eleitos, respectivamente, Ignácio
Furtado de Loiola e Ignácio de Loiola Mendes Vieira; ficaram posicionados como
suplentes da mesa, Francisco de Sousa Mendes e Amaro Gomes dos Santos, este
último redator do primeiro jornal de Oeiras e do Piauí, em 1832, denominado O piauiense.
Depois de eleita e empossada
a mesa diretora, foram formadas as comissões de Política e Especial, esta
última por sugestão do deputado José Francisco de Miranda Osório, para emitir
parecer sobre comissões permanentes necessárias às atividades legislativas. É
com essa estrutura que têm início os trabalhos legislativos na província do
Piauí, sob a direção do tenente-coronel Manuel Pinheiro de Miranda Osório,
militar oeirense e um dos principais pugnadores nas lutas pela adesão do Piauí
à Independência do Brasil. Inicialmente, funcionou a Assembleia Legislativa com
o regimento do Conselho Geral, em seguida elaborando o seu, tendo aquele como
referência.
Segundo a referida Lei n.º
16, de 12 de agosto de 1834, o juramento dos deputados, a polícia e economia
interna, entre outros, far-se-iam na fora dos regulamentos e interinamente na
forma do regimento do Conselho Geral. Para complementar esse estudo, lembramos
que esse juramento era feito pelos deputados ainda na fase preparatória,
perante o Bispo ou primeira dignidade religiosa do lugar, na igreja matriz,
depois das ações religiosas, fazendo primeiro o presidente e os mais de dois em
dois, repetindo em alta voz com a mão direita sobre o Missal, o seguinte: “Juro aos Santos Evangelhos promover
fielmente, quanto em mim couber, o bem geral desta província do Piauí, dentro
dos limites marcados pela Constituição do Império. Assim Deus me ajude”.
Cantado o hino Veni Sancte Spiritus e
prestado o juramento retornaram todos à sala das sessões. Era a força da
tradição católica.
A eleição desses deputados
deu-se em clima de absoluta tranquilidade, em 29 de dezembro do ano anterior,
dando-se a apuração dos votos somente em primeiro de fevereiro do ano da posse.
Embora o processo fosse democrático, naquele tempo só votavam aqueles que
tivessem certa renda e pertencessem aos estratos mais elevados da sociedade. O
voto era censitário e o processo eleitoral realizado em dois turnos: eleições
primárias, para a formação de um colégio eleitoral que, nas eleições
secundárias elegeria os senadores e deputados gerais e provinciais. Basta dizer
que apenas 113 eleitores de paróquia(eleitos em eleições primárias, em suas
paróquias ou distritos) elegeram os vinte deputados. Para o registro da história,
foram eleitos os membros da aristocracia rural piauiense, com a inserção de uns
poucos elementos urbanos, entre padres e profissionais liberais. Foram esses os
primeiros deputados do legislativo piauiense, com a respectiva votação: Manuel
Pinheiro de Miranda Osório, 95; Francisco de Sousa Mendes, 94; Raimundo de
Sousa Martins, 91; José Luís da Silva, 87; José Monteiro de Sá Palácio, 86;
Ignácio Francisco de Araújo Costa, 86; Marcos de Araújo Costa, 84; Pedro
Antônio Pereira Pinto do Lago, 84; Arnaldo José de Carvalho, 83; José Francisco
de Miranda Osório, 75; Amaro Gomes dos Santos, 75; Ambrósio Machado Wanderley,
70; Justino da Silva Moura, 68; Tomé Joaquim Gomes Teixeira, 66; Joaquim de
Sousa Martins, 64; Antônio Raimundo Dias de Seixas e Silva, 62; Ignácio de
Loiola Mendes Vieira, 61; Manuel Clementino de Sousa Martins, 55; Francisco
Serafim de Jesus, 52; e, Ignácio Furtado de Loiola, 48 votos (BRANDÃO, Wilson
de Andrade. História do poder legislativo
da província do Piauí. Teresina: 1997). É essa a primeira deputação do
Piauí. Em outro espaço poderemos fazer uma análise das ligações genealógicas
entre os membros, existindo caso de irmãos, sobrinhos, primos e parentes afins
na mesma legislatura, num clube de poucas famílias.
Vale ressaltar que a criação
da Assembléia Legislativa Provincial era uma exigência da Lei n.º 16 de 12 de
agosto de 1834, verdadeiro ato adicional à Carta Constitucional de 25 de março
de 1824, para suceder em suas atribuições o Conselho Geral da Província. Essa
modificação na Carta Constitucional do Império foi proporcionada pela Lei de 12
de outubro de 1832, que deu aos deputados eleitos na legislatura seguinte
poderes constituintes para reformarem alguns artigos da Constituição. E assim o
fizeram.
Portanto, no último de 4 do corrente
mês completaram-se 180 anos de trabalhos legislativos no Piauí, feito este comemorado
pela atual diretoria com histórica sessão na velha capital. Ao longo desse
tempo a Assembleia Legislativa teve altos e baixos, mas nunca arredou do
compromisso constitucional de bem servir ao povo piauiense. Parabéns.
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