Latim de Michel Temer para Dilma
José Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Vice-presidente Michel Temer, em carta explosiva à presidente Dilma,
inicia com provérbio latino: “Verba volant, scripta manent”. A presidente, que
mal arranha o idioma pátrio, entendeu pela tradução: “As palavras voam, mas os
escritos permanecem.” Um sacerdote, no sul do país, já havia utilizado, dias
antes, a mesma frase latina, em blog, para detonar, violentamente, um colega
padre.
Provérbios e princípios
enriquecem o discurso, condensam o pensamento em reduzidas palavras, os
latinos, especialmente, com agradável efeito sonoro. E caem na memória
coletiva, citando-os na hora oportuna. Teólogo Santo Agostinho, mestre em
frases de efeito e trocadilhos, imortalizou esta pérola sonora: “QUI CREAVIT TE
SINE TE NON SALVABIT SINE TE”. Aquele (isto é, Deus) que te criou sem sem ti
(isto é, sem tua vontade) não te salvará sem ti ( sem tua colaboração). O uso
repetido desses recursos estilísticos não deve servir de exibicionismo
retórico, especialmente nas peças de defesa, acusação, condenação e teses acadêmicas,
recheadas de juridiquês intoleráveis.
Pilatos, governador romano,
apresentou Jesus à multidão vociferante, depois de açoitado e coroado de
espinhos: “ECCE HOMO” - eis aqui o homem. O termo HOMO significava indivíduo
desprezível, em vez de VIR, isto é,
varão respeitado. Mandou escrever na cruz debochada frase: “IESUS NAZARENUS,
REX IUDEORUM” - Jesus Nazareno, Rei dos judeus. Adversários não concordaram.
Pilatos reagiu: “QUOD SCRIPSI SCRIPTUM” – o que escrevi está escrito.
Autoridades adoram repeti-la.
O cônsul, general e imperador
romano, Júlio César, ao ver o exército inimigo nas Gálias, soltou : “ALEA IACTA
EST” – a sorte está lançada. Retornou a Roma, aplaudido no senado, pronunciou a
famosa frase: “VINI, VIDI, VICI” - vim, vi, venci.
Nas escolas do passado não muito
remoto, estudava-se latim, grego e francês. Veteranos ilustres ainda guardam na
memória frases, principalmente latinas, extraídas de obras clássicas.
Estudantes eram cobrados nos exames orais e as declamavam no recreio.
No seminário, o futuro músico
Belchior e eu disputávamos quem soubesse
mais frases decoradas. Nos eventos, enchia meus textos com citações,
vaidosamente. Amigo radiomador, nos encontros no shopping, dispara um clássico
latino a cada cinco minutos de conversa. Demais!
Nas velhas escolas, a leitura
obrigatória de clássicos latinos e gregos
enriquecia o vocabulário português, originado daqueles troncos
linguísticos. Como me esquecer das Catilinárias, de Marco Túlio Cícero, tribuno
de brilhante retórica, político e filósofo romano do início do cristianismo? A
primeira frase de um de seus quatro discursos no senado, acusava Lúcio Sérgio
Catilina, cônsul romano, de pretender derrubar o governo republicano e
apoderar-se do poder e das riquezas, juntamente com os apaniguados: “QUOUSQUE
TANDEM ABUTERIS, CATILINA, PATIENTIA NOSTRA?” - até quando, Catilina, abusarás
da nossa paciência? Sentença bastante utilizada nos meios acadêmicos e
jurídicos, para refutar alguém teimoso, que insiste em abraçar tese vencida,
superada, sem chance de prosperar. Que sirva de reflexão à atual elite
brasileira no poder.
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