ALEGRIA DO CÉU
Jônatas Batista (1885 - 1935)
Maio...Junho...
Os raios do sol chegam mais livres e mais rápidos.
A luz das estrelas, mais intensa e mais viva, se derrama
pelas dobras da noite.
A lua... Nem um trapo de nuvem, nem um farrapo de sombra!
Céu descascado. Céu do Nordeste.
À nossa vista sempre dá mostra "a pálida e romântica
enamorada dos poetas vagabundos".
Quando os ventos gerais arrancam as primeiras folhas...
a gente tem gana de viver e de amar!
As violas acordam e os terreiros se espanejam.
O engenho de madeira canta, rouquenho, ao ritmo pesado e
lerdo dos bois vagarosos e sonolentos.
O caititu raspa a mandioca sumarenta e a farinha cheirosa é
remexida no forno de pedra.
Os riachos valentes se transformam em longas e estreitas
fitas de prata.
Os sambas se animam e os cantores se defrontam para o
desafio costumeiro.
A jurema de desata em flores e o perfume vai longe em busca
das abelhas.
As morenas se alindam e os namorados se comprometem.
O vaqueiro abóia, ao fim do dia, na quebrada da serra,
e o touro escarva o chão, desafiando no pátio da fazenda.
A égua nova, que ainda não deu cria, curveteia, no tabuleiro
verde,
e a raposa uiva e gargalha, na encruzilhada do caminho.
As ovelhas, em ranchos, se agasalham fora dos currais,
e as cabras pinoteiam, ariscas, nas fraldas dos morros.
O caboré geme com frio e o cabeça-vermelha acorda
o galo preguiçoso, que se retarda no toque da alvorada.
O inverno vai longe,
A seca não chegou ainda,
Ah! nesse tempo, nesse tempo, baixam aos campos da minha
terra
A bênção de Deus!
A alegria do Céu!
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