Alcenor visto pelo chargista Fernando di Castro |
Prédio da Caixeiral, recentemente reformado pelo SESC-PI |
COINCIDÊNCIAS
Alcenor Candeira Filho
I. COINCIDÊNCIAS IRRELEVANTES
Depois da publicação de O CRIME DA PRAÇA DA GRAÇA, em 2008,
livro que focaliza o assassinato de Alcenor Rodrigues Candeira, no dia 11 de
outubro de 1959, na Praça da Graça, em Parnaíba, praticado covardemente pela
família Cavalcante (Clodoveu Felipe Cavalcante, Jamacy Guterres Cavalcante,
Clodoveu Felipe Cavalcante Filho e
Veudacy Guterres Cavalcante),
constatei em suas páginas e em
documentos consultados durante a
pesquisa para a realização da obra estranhas e curiosas coincidências, umas relevantes pelo teor ocultista, outras
nem tanto.
Exemplo de coincidência destituída de qualquer apelo
cabalístico está estampado no diploma expedido pela Escola Técnica de Comércio
da União Caixeiral, em 08 de dezembro de 1954, conferindo a Alcenor “o título de Técnico em Contabilidade de que
trata o Decreto-Lei nº 6.141, de 28 de
dezembro de 1943”, com a assinatura do diplomado e as de seus algozes Jamacy
Guterres Cavalcante como secretária e Clodoveu Felipe Cavalcante como diretor.
A sociedade civil União Caixeiral foi
fundada em 28 de abril de 1918 por 122 comerciários, dentre os quais
(ver o jornal O BEMBEM, edição nº 89, de 21.05.2015) Lívio Ferreira Castelo Branco (n. em Barras –
Pi:1876/f. em Parnaíba – Pi : 1929),
Francisco Ferreira Castelo Branco (n. em União – Pi:1897 / f. em
Parnaíba – Pi: 1961) e Fenelon Santana
Castelo Branco (n. em União: 1897 / f.
no Rio de Janeiro: 1978), todos parentes
próximos (bisavô, tio e avô, respectivamente).
O prédio da Caixeiral foi recentemente adquirido, reformado
e transformado pelo SESC no Centro Cultural João Paulo dos Reis Velloso. Estive presente na festa de inauguração, em
18.04.2015, e até esse dia, como declarei ao jornal O BEMBEM, edição nº 90, eu não sabia que o estabelecimento de ensino
onde meu pai Alcenor Rodrigues Candeira fez o curso técnico em contabilidade,
concluído em 1954, e onde iniciei a
carreira de professor (1971/1976) tivesse tido, dentre os fundadores, a
participação de meu bisavô, de meu tio e de meu avô.
E mais: a data –
11.10.39 - relacionada com a fotografia em que aparece
Alcenor e seu automóvel, inserida em O
CRIME DA PRAÇA DA GRAÇA, corresponde
exatamente a vinte anos que antecedem o assassinato (11.10.59).
Sem pretensão de ser enfadonho registro ainda a coincidência
de eu ter sido no Ginásio Parnaibano aluno dos Clodoveus - pai e filho - no ano do crime, como meu pai havia sido no
início dos anos 50 na Caixeiral. Ambas as escolas funcionavam em majestosos
prédios (tombados pelo IPHAN) situados na avenida Presidente Vargas, onde
residiram as personagens centrais do crime da Praça da Graça -
agressores e agredido –e onde ficava a sede da Prefeitura Municipal de
Parnaíba, palco das primeiras desavenças entre a família Cavalcante e a vítima.
Na avenida Presidente Vargas, no imóvel em que era sediada a
Capitania dos Portos do Estado do Piauí, a um quarteirão da casa de meu pai,
estiveram presos por pouco tempo, logo após o crime, os assassinos detentores
de curso superior: Clodoveu e Clodoveu Filho.
Antes de falar de coincidências magnetizadoras, que mais
parecem verdadeiras comunicações do
além, desejo consignar as que houve
entre os versos (citados por M. Paulo Nunes na pág. 27 de O CRIME DA PRAÇA DA GRAÇA) do famoso poema
“Llanto por Ignacio Sanchez Mejias”, de
Federico García Lorca, em que o poeta, envolvido na guerra civil
espanhola e fuzilado em Granada pelos insurretos falangistas , chora a morte do
toureiro IgnacioMejias, seu amigo, - e os versos do meu poema “Marcas do
Trauma”:
“Lasheridasquemaban
como soles
a las
cinco de la tarde,
y el
gentio rompia las ventanas
a las
cinco de la tarde!
Ay que terribles cinco de la tarde!
Eranlas cinco em todos los relógios!
Eranlas cinco em
sombra de la tarde!”
(LLANTO POR IGNACIO SANCHEZ MEJIAS)
“nove
balas certeiras
seis punhaladas
traiçoeiras
coronhadas ceifeiras...
e por
volta das cinco da tarde
de
outubro onze de cinquenta e novembro
magro
corpo massacrado morto
no
silêncio dos sinos da praça.”
(
MARCAS DO TRAUMA)
II. COINCIDÊNCIAS RELEVANTES
Agora passo a escrever sobre coincidências, digamos, de
arrepiar
Como primeiro exemplo de ocorrência que, por acaso, parece
ter conexão com outra, reporto-me ao poema elegíaco de minha autoria “Passando
em Revista”, cujo esboço ficou na gaveta durante vários anos, à espera da estrofe final que um dia
desabrochou espontaneamente, na forma como eu queria.
Segundo o poeta Elmar Carvalho, essa composição significou
para o autor uma forma de “catarse” e se
refere ao assassinato de Alcenor Rodrigues Candeira em 11 de outubro de 1959, em Parnaíba, na
Praça da Graça. A derradeira estrofe faz
alusão ao feriado municipal de 11 de outubro, data consagrada a Nossa Senhora
da Graça, a Padroeira da cidade:
“Foi no dia 11 de outubro,
fim de tarde , a chacina.
Os sinos à procissão
deram
toque de silêncio,
enquanto o sangue
na esquina
pintava todo de rubro
o mais triste mês de outubro
que já vi em minha vida.”
Vários anos depois de ter escrito esse poema, captei com
enorme surpresa na segunda estrofe (“Foi
em Parnaíba/na Praça da Graça/ali por onde passa/o povo que passa/que meu pai ao
passar/passou”) o som macabro dos nove
tiros que mataram meu pai, provocado pelo uso reiterado da consoante
oclusiva/bilabial/explosiva “p” com
efeito de harmonia imitativa ou de onomatopeia.
Embora o recurso sonoro presente na estrofe tenha sido instaurado
de propósito, e não por acaso, - o acaso, no caso, decorre do fato de que a
letra “p” foi empregada nove vezes de forma não intencional, mas coincidindo
com os nove tiros que, segundo o exame
de corpo de delito mencionado em O CRIME DA PRAÇA DA GRAÇA, atingiram a vítima.
O poema “Marcas do Trauma”, já transcrito acima
faz expressa referência aos nove disparos fatais.
Ainda como exemplo de eventos que, por acaso, parecem ter
algumas conexões entre si, lembro os episódios referentes à mudança do Dia da
Padroeira da Parnaíba, onde Alcenor Candeira
residiu e foi assassinado,
antecipado de 11 de outubro para 08 de setembro a partir de 1992, e à
troca da imagem da Padroeira de Santa Quitéria (Maranhão), sua vila/cidade
natal, pela da Padroeira da vila)cidade homônima localizada no Ceará. O
episódio da troca das imagens foi
evidenciado, conforme transcrição nas páginas 28/29 de O CRIME DA PRAÇA
DA GRAÇA, no romance A ILHA ENCANTADA, de Renato Castelo Branco:
“Alcenor continuaria rio acima, até alcançar Santa
Quitéria. Santa Quitéria era conhecida
como ‘a Vila da Padroeira Trocada’.
Ocorreu quea vila do Maranhão
tinha uma homônima no Ceará. Ambas encomendaram, ao mesmo tempo, imagens de
suas respectivas padroeiras a santeiros de Portugal A da primeira era Nossa
Senhora dos Aflitos; a da segunda, Nossa Senhora do Carmo. Algum tempo depois
de entregues e entronizadas as imagens,
descobriu-se que houvera uma troca. Mas
os devotos de ambas as vilas recusaram-se a permutá-las. E a Nossa Senhora do Carmo permaneceu no
Maranhão, como Nossa Senhora dos Aflitos. E a Nossa Senhora dos Aflitos
permaneceu no Ceará, como Nossa Senhora do Carmo.A troca de nome não arrefeceu, entretanto, a devoção
dos fiéis.E anualmente, no dia da Padroeira de Santa Quitéria do Maranhão, vinha gente das vilas vizinhas de São
Bernardo, de Brejo de Anapurus, de Luzilândia participar dos estrondosos
festejos de Nossa Senhora dos Aflitos que culminavam em bailes famosos no
palacete do coronel Raimundo Candeira, pai de Alcenor.”
(CASTELO BRANCO, Renato Pires. “A Ilha Encantada”.
São Paulo, T. A. Queiroz, 1992, p. 82/83)
III.
CONCLUSÃO
Diante das coincidências aqui assinaladas, quero concluir
com a declaração de que - embora nunca tenha sido dado às coisas do
além, do mistério, da magia, da cabala, enfim do esotérico - me
sinto doravante fortemente inclinado a mergulhar nas ciências ocultas.
Parnaíba,
Abril de 2016.
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