Jesualdo Cavalcanti Barros e sua esposa Socorro |
MEMÓRIA DOS ANCESTRAIS
Jesualdo Cavalcanti Barros
Da Academia Piauiense de Letras
O acadêmico Reginaldo Miranda, que se
vem impondo à admiração e acatamento de nosso mundo intelectual graças a uma
robusta e diversificada produção literária, sobretudo no ramo da pesquisa
historiográfica, brinda seu crescente público com mais uma alentada obra.
Trata-se de MEMÓRIA DOS ANCESTRAIS,
na qual registra a genealogia da família Miranda, a que pertence, para cujo desiderato foi cavoucar as raízes
mais recônditas do processo de colonização do Piauí. Bom que encontra a
mancheias, entre os desbravadores e colonizadores pioneiros dos sertões de
dentro, valorosos varões no seio dessa tradicional família, a partir do século
XVII, justamente quando, no rastro do boi, começaram a fincar fazendas nos
vales úmidos dos rios Gurgueia, Itaueira, Piauí e Canindé.
A meu ver, nada mais oportuno, posto
que, desde cedo, passei a compreender que as carências atávicas do Piauí decorrem
grandemente da falta de conhecimento de suas origens e vocações e, a partir da identificação do DNA de sua
formação, de serem formuladas políticas de desenvolvimento capazes de romper o
círculo vicioso de seu atraso trissecular. Tenho para mim, também, que jamais se
identificará efetivamente esse DNA se se deixar
de lado o estudo das grandes famílias pioneiras, suas relações de
compadrio e entrecruzamento e as implicações decorrentes da ocupação da terra
escorada no grande latifúndio, isto devido ao seu parcelamento em sesmarias,
distribuídas entre poucos e separadas entre si por uma légua de distância. Esse
enclausuramento tenderia a formar aglomerados humanos dentro das próprias fazendas,
que se converteriam nas futuras vilas, daí resultando a transformação dos donos
das terras em detentores do poder político e provedores exclusivos de uma
legião de agregados em suas necessidades básicas. Daí a lapidar lição de Abdias
Neves segundo a qual "o piauiense fizera das fazendas o seu
microcosmo."
Por tudo isso, tomo as obras de
cunho genealógico como um suculento
contributo ao conhecimento daquelas realidades que não presenciamos, mas de cujas engrenagens sentimos os efeitos. E por entender que não
chegaremos a futuro promissor algum sem o correto conhecimento de nosso passado
e a pedagogia dos bons e maus exemplos, que
nos proporciona esse conjunto de
biografias, que são as genealogias, sempre vibro com elas. Ao contrário dos que as consideram meras
exibições de enaltecimento familiar, dou-lhes inexcedível valor no
complexo das boas práticas de resgate e preservação
de nossa memória. Garimpando nessa seara, talvez encontremos o fio da meada, ou seja, a nossa história.
Ademais, nutro o mais profundo respeito pelos seus
autores, dentre os quais eu destacaria o Dr. Sebastião Martins de Araújo Costa
(Dados Genealógicos da Família Rocha),
Abimael Clementino Ferreira de Carvalho
(Família Coelho Rodrigues), Edgardo
Pires Ferreira (A Mística do Parentesco),
Renato Castelo Branco (Os Castelo Branco
d'aquém e d'além mar) e Socorro Rocha Cavalcanti Barros (Os Cavalcantes do Corrente), aos quais
faço questão de juntar o competente Reginaldo Miranda (Apontamentos genealógicos da família Nunes e Memória dos Ancestrais).
O comprovado e reconhecido talento desse
eminente ex-presidente da Academia Piauiense de Letras em resgatar fatos e
episódios, por vezes perdidos nos desvãos de nosso passado remoto, são
garantias suficientes da qualidade da obra. Daí recomendar sua leitura.
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