MOMENTO DE AMOR, NATUREZA E CRIANÇA
Valério Chaves – Des. inativo do TJPI
A história da literatura piauiense viveu um de seus grandes
momentos no dia 16 de junho deste ano quando do lançamento de dois livros de
autores piauienses versando sobre temas ligados à saudade, à ficção, ao meio
ambiente, a beleza da arte, da natureza e da infância.
Trata-se de “Histórias de Évora”
de autoria do juiz e poeta Elmar Carvalho“; e “A Menina do Bico de Ouro”,
de autoria do também juiz de direito Raimundo Lima, cuja solenidade de
apresentação ocorrida na Livraria Entrelivros, contou com a presença de
expressivas figuras identificadas com a arte e a literatura do nosso Estado.
“Histórias de Évora”, que recebi com
muito agrado, é um livro bem escrito em cada frase - desses que agarram o
leitor da primeira à última página porque tem começo, meio e fim mesclando
ficção do erotismo, amor e saudade no sentimento do autor e nas paisagens humanas do interior.
Elmar Carvalho, pelas suas virtudes
literárias, pelo acerto e ritmo no desenrolar das “Histórias de Évora”,
utiliza aguçada sensibilidade de poeta para retratar sua amada dentro de uma
paisagem cidadina de muitas 'histórias, fumaça e tradição”, e de tantos outros
cenários com nomes rimados em “a”, sem contudo deixar escapar o cultivo da
arte. Afinal, fazer literatura é também uma forma de refazer o mundo da
realidade e da ficção sem desgarrar do indescritível espaço da criação
artística, do senso crítico e da beleza.
Da
visita que fiz da primeira à última página de Histórias de Évora, tive como
recompensa: a magia de histórias narradas de mãos dadas com lugares nos quais
se inseriu o autor em passeio pelo território da delicadeza sob um céu aberto
pela manhã do coração.
Por sua vez,“A menina do Bico de
Ouro” propiciou-me outra saborosa emoção.
O autor, apesar de ser um estreante
confesso no gênero da literatura infantojuvenil, soube manipular com leveza
dialética dos clássicos, personagens como a criança, árvore, abelha, morcego,
macaco, raposa e rato nos diálogos e nas experiências diretas com a natureza, e
propicia através delas uma visão ecológica das relações que concebe o mundo
como um todo integrado na teia da vida entre o real e o imaginário.
Raimundo Lima, em seu livro, nos convida a uma
reflexão sobre um dos aspectos mais importantes do processo transformador da
infância e, ao mesmo tempo, nos adverte que ainda é tempo para que sacudamos a
onda da ignorância diante da tendência equivocada a achar que a preservação
ambiental não é uma responsabilidade nossa.
Enfim, é um livro que eu gostei de ler porque me transmitiu lições profundas e
diretas com a natureza e com o mundo, como expresso nos versos do poeta Pedro
Bandeira:
Eu sei que aprendo nos livros
Eu sei que aprendo no estudo
Mas o mundo é variado
E eu preciso saber tudo.
Se eu me fecho lá em casa
Numa tarde de calor
Como eu vou ver uma abelha
A catar pólen na flor ?
Mas se tudo o que fizeram
Já fugiu de sua lembrança,
fiquem sabendo o que eu quero:
Mais respeito eu sou criança !
Nada mais gratificando para o artista
do que o aplauso da plateia.
Por isso, Elmar Carvalho e Raimundo
Lima, pela emoção que souberam transmitir aos seus leitores, merecem ser
aplaudidos de pé.
Fecho a cortina mandando parabéns para
os dois encenadores da literatura piauiense.
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