UM REI SONHADOR
Valério Chaves
Desembargador e escritor
Passados
mais de 600 anos de sua morte, a vida de Dom Dinis I (1261-1325) – sexto rei de Portugal e
Algarves – continua servindo de inspiração para a realização de coisas
incríveis, sinônimo de ambição, obstinação e muitos mitos por esclarecer. De
uma coisa, ao menos não há dúvida: sua imensa capacidade para sonhar com o
improvável e pela composição de poesias trovadorescas que enriqueceram a
literatura portuguesa no final do século XIII. Talvez por isso tenham lhe
atribuído o cognome de “Rei Poeta”.
Não
seria exagero concluir que foram os sonhos e pensamentos de Dom Dinis que
levaram a concretizar, em 1421, aquela cena entre cores azuis das águas do
atlântico e brancas espumas dos sulcos formados pelas caravelas aventureiras,
iniciada há mais de um século antes, mais tarde conhecida como a “era dos
descobrimentos”.
Muitas
coisas nascem dos sonhos.
Diz-se
que, se não houvera os sonhos do Rei Poeta, não teríamos o prazer de saborear
os versos de “Os Lusíadas”, considerando-se que nesse poema de Camões o autor
utilizou todas as variáveis semânticas de linguagem. Igualmente, não teríamos
“Mensagem”, com os versos comoventes de Fernando Pessoa indagando ao mar
salgado (…) quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal! /Por te cruzarmos,
quantas mães choraram! / Quantos filhos em vão rezaram! / Quantas noivas
ficaram sem casar”.
Não
teríamos, enfim, as caravelas, as terras de Leiria cheias de pinhais para a
feitura das caravelas lançadas ao mar rumo à ousada tentativa de ultrapassar o
Cabo Bojador, na costa do Saara Ocidental - considerado intransponível e fim do
mundo conhecido da época.
Foi
graças aos sonhos e a ousadia desse monarca, conhecido como “ O Rei Poeta”, que
as esquadras portuguesas descobriram o mundo que hoje conhecemos.
Não
foi à toa que Shakespeare nos alertou para o fato de que somos da mesma matéria
da qual são feitos os sonhos
Teresina-PI/julho/2017
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