quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

GENTILEZA E CAVALHEIRISMO NÃO PODEM ESTAR COM OS DIAS CONTADOS

Fonte: Google

GENTILEZA E CAVALHEIRISMO NÃO PODEM ESTAR COM OS DIAS CONTADOS

Antônio Francisco Sousa
Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)


                - Dê-me licença – cavalheiro pedindo a determinada senhora permissão para abrir-lhe a porta.
                - Por que quer abrir a porta para mim? Acaso acha que sou alguma inválida, sem condições sequer de tomar as próprias decisões?
                - Claro que não, minha senhora: apenas quis tentar ser gentil...
                - Minha senhora?! Qual sua intenção? Estaria burilando alguma forma de me assediar? Cuidado, posso denunciá-lo, processá-lo!
                - Desculpe-me se agi tão mal assim! Até logo!
                Parece fictício, ainda, tal tipo de diálogo; todavia, será, não só possível, como muito provável que logo, logo saibamos ou sejamos partes em situações semelhantes. Atos de puro cavalheirismo, demonstração de esmerada educação ou de pura gentileza, a depender do interlocutor, poderão se constituir em mal-entendidos muito em breve; se é que já não o são, em certos casos. Atitudes que possam ser confundidas com insinuações preconceituosas, discriminatórias, tentativas de assédio moral ou sexual, estão na ordem do dia, esperando quase nada para se tornarem realidade, fatos consumados.
                Não estamos, com o que foi dito acima, querendo afirmar que situações semelhantes às descritas não possam, verdadeiramente, significar intenções de assédio ou exemplos bem acabados de insinuações preconceituosas; a margem de diferenciação entre essas e as ações, sabidamente gentis, educadas, civilizadas, às vezes, parece tênue, em outras, muito consistente, bastante larga; tênue porque, de modo a que não reste qualquer dúvida de que está ocorrendo o exercício de uma e não da outra, ou seja, faz-se presente uma atitude politicamente incorreta e não  uma imbuída de boas intenções, pode haver a necessidade de que ocorra entre as partes determinado tempo de conversação, interação ou de comunicação; distanciam-se, entendemos, pelo motivo inverso: de imediato, com um mínimo de atenção, é perfeitamente possível discernir, separar uma ação, manifestamente, impregnada de gentileza, respeito ou civilidade, de outra dissimulada, falsa, escamoteada; basta, para as contrapor, ou as diferenciar, que o assediador ou preconceituoso não se furte em bem demonstrar sua intenção, ou seja, fizer questão de não usar de subterfúgios diante do quer fazer, dizer ou como agir; ou que o emissor da ação gentil ou cavalheiresca não se valha de artifícios que possam induzir o interlocutor ou contatado a confundi-la com um ato de leviandade ou maledicência. Nesse tipo de interação, o momentâneo estado de espírito, a alta ou baixa estima, experiências anteriormente vivenciadas, o grau ou nível de estresse do ofendido ou “assediado”, vai ser de extrema importância no sentido de comparar o ato ou ação exercida pelo outro com conceitos de assédio, preconceito, gentileza, civilidade.  
                Diante de um mundo tão violento, precisamos envidar esforços, talvez extraordinários, no sentido de tentar evitar que possa acontecer, nos relacionamentos humanos entre homens, mulheres, heterossexuais, homossexuais, enfim, envolvendo quaisquer gêneros, ainda que subliminarmente, a “demonização” ou estigmatização de salutares práticas ou ações de gentileza, boa vontade, camaradagem; a ruptura nos processos de aproximação, interação, integração entre os indivíduos. Deve nos mover a certeza de que, nem sempre, está mal-intencionado aquele que propõe o contato; do mesmo modo que, somente muito raramente, está negativamente predisposto a qualquer tipo de relacionamento o contatado ou procurado. Convém nos policiarmos, mas também que nos desarmemos; abramo-nos às inúmeras possibilidades de interação social e camarada que o dia a dia nos proporciona, sem pré-conceitos firmados.
                Enfim, urge nos conscientizarmos de que gentileza, cavalheirismo e civilidade não podem estar com os dias contados; já, preconceito, discriminação, assédios criminosos, maledicência, dissimulação, bom que estivessem.          

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