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GENTILEZA E CAVALHEIRISMO NÃO PODEM ESTAR COM OS DIAS CONTADOS
Antônio Francisco Sousa
Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
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Dê-me licença – cavalheiro pedindo a determinada senhora permissão para
abrir-lhe a porta.
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Por que quer abrir a porta para mim? Acaso acha que sou alguma inválida, sem
condições sequer de tomar as próprias decisões?
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Claro que não, minha senhora: apenas quis tentar ser gentil...
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Minha senhora?! Qual sua intenção? Estaria burilando alguma forma de me
assediar? Cuidado, posso denunciá-lo, processá-lo!
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Desculpe-me se agi tão mal assim! Até logo!
Parece
fictício, ainda, tal tipo de diálogo; todavia, será, não só possível, como
muito provável que logo, logo saibamos ou sejamos partes em situações
semelhantes. Atos de puro cavalheirismo, demonstração de esmerada educação ou
de pura gentileza, a depender do interlocutor, poderão se constituir em
mal-entendidos muito em breve; se é que já não o são, em certos casos. Atitudes
que possam ser confundidas com insinuações preconceituosas, discriminatórias,
tentativas de assédio moral ou sexual, estão na ordem do dia, esperando quase
nada para se tornarem realidade, fatos consumados.
Não
estamos, com o que foi dito acima, querendo afirmar que situações semelhantes
às descritas não possam, verdadeiramente, significar intenções de assédio ou
exemplos bem acabados de insinuações preconceituosas; a margem de diferenciação
entre essas e as ações, sabidamente gentis, educadas, civilizadas, às vezes,
parece tênue, em outras, muito consistente, bastante larga; tênue porque, de
modo a que não reste qualquer dúvida de que está ocorrendo o exercício de uma e
não da outra, ou seja, faz-se presente uma atitude politicamente incorreta e
não uma imbuída de boas intenções, pode
haver a necessidade de que ocorra entre as partes determinado tempo de conversação,
interação ou de comunicação; distanciam-se, entendemos, pelo motivo inverso: de
imediato, com um mínimo de atenção, é perfeitamente possível discernir, separar
uma ação, manifestamente, impregnada de gentileza, respeito ou civilidade, de
outra dissimulada, falsa, escamoteada; basta, para as contrapor, ou as
diferenciar, que o assediador ou preconceituoso não se furte em bem demonstrar
sua intenção, ou seja, fizer questão de não usar de subterfúgios diante do quer
fazer, dizer ou como agir; ou que o emissor da ação gentil ou cavalheiresca não
se valha de artifícios que possam induzir o interlocutor ou contatado a
confundi-la com um ato de leviandade ou maledicência. Nesse tipo de interação,
o momentâneo estado de espírito, a alta ou baixa estima, experiências
anteriormente vivenciadas, o grau ou nível de estresse do ofendido ou
“assediado”, vai ser de extrema importância no sentido de comparar o ato ou
ação exercida pelo outro com conceitos de assédio, preconceito, gentileza,
civilidade.
Diante
de um mundo tão violento, precisamos envidar esforços, talvez extraordinários,
no sentido de tentar evitar que possa acontecer, nos relacionamentos humanos
entre homens, mulheres, heterossexuais, homossexuais, enfim, envolvendo
quaisquer gêneros, ainda que subliminarmente, a “demonização” ou estigmatização
de salutares práticas ou ações de gentileza, boa vontade, camaradagem; a
ruptura nos processos de aproximação, interação, integração entre os
indivíduos. Deve nos mover a certeza de que, nem sempre, está mal-intencionado
aquele que propõe o contato; do mesmo modo que, somente muito raramente, está
negativamente predisposto a qualquer tipo de relacionamento o contatado ou
procurado. Convém nos policiarmos, mas também que nos desarmemos; abramo-nos às
inúmeras possibilidades de interação social e camarada que o dia a dia nos
proporciona, sem pré-conceitos firmados.
Enfim,
urge nos conscientizarmos de que gentileza, cavalheirismo e civilidade não
podem estar com os dias contados; já, preconceito, discriminação, assédios
criminosos, maledicência, dissimulação, bom que estivessem.
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