quinta-feira, 10 de maio de 2018

O QUE É POESIA

Fonte: Google


O  QUE  É  POESIA

Alcenor Candeira Filho
Da APL. Poeta e escritor

     O que é poesia?

     De forma simples pode-se dizer que poesia é a arte da palavra que traduz uma percepção subjetiva da realidade. É a transformação de ideias e de emoções em palavras carregadas de significado e de expressividade.

     Na ARTE RETÓRICA E ARTE POÈTICA, Aristóteles ensina  que a poesia é imitação (mimésis) pela voz e, dessa forma,  se diferencia das artes plásticas que imitam pela cor e pela forma. A mimésis, a que a expressão metafórica está intimamente ligada, é o ponto central na caracterização da natureza da poesia. Partindo dessa premissa, Aristóteles passa a estudar as diferentes espécies de poesia segundo os objetos imitados, a origem da poesia e seus gêneros.

     Se a poesia é mimésis e metáfora, conclui-se que ela representa a verdade através da mentira: “A arte é uma mentira que revela a verdade” (Picasso).

     O entendimento de que o real é a verdade fingida se encontra num dos textos mais instigantes de outro gênio do século XX:

               “O poeta é um fingidor.
               Finge tão completamente
               Que chega a fingir que é dor
               A dor que deveras sente.”
                       ( Fernando Pessoa  -  “Autopsicografia”)

     Mário Faustino se refere à poesia como aquilo que não pode ser conceituado:

                                   -  Que é poesia?
                                 -  Nenhum de nós pode pretender,
                    lucidamente, apresentar sobre isso um conceito
                    definitivo. O mais que podemos fazer é procurar
                    estabelecer, discutindo o assunto por algum tempo,
                    o que representa para nós, a esta altura, aquilo que
                    chamamos de poesia”.

     A primeira parte do livro POESIA-EXPERIÊNCIA, de Mário Faustino, são reflexões sobre o significado da poesia e sobre a posição que o poeta contemporâneo deve assumir diante dos problemas de sua época.. Para que poesia? Para ensinar, para comover, para deleitar? ... E que dizer da utilidade  social da poesia? Em que pode a poesia servir à sociedade? Qual o papel do poeta perante a sociedade no seio da qual vive? Eis aí algumas indagações a partir das quais o autor desenvolve, em forma de diálogo, ideias sobre o tema.

     Vários poetas que tentaram definir a poesia ou o fazer poético através de metapoemas, isto é, poemas sobre a própria poesia, ressaltam que a linguagem literária  -  expressão intuitiva e individual  -  é impotente para representar a realidade real ou imaginada, o que não o impede de “lutar com palavras” (...)/ mal rompe a manhã”, como diz Carlos Drummond de Andrade no poema “O Lutador”.     

       A última estrofe do poema de minha autoria  -  “Fundo e Forma”  -  encerra a mensagem de que poesia é palavra com a qual o poeta se ilude e trabalha:

               poema  -  semente fincada
               na ordem/desordem alfabéticas:
              letra  -  P  -  e outras co’as quais
             se ilude e peleja o poeta.”

     Cabe aqui a transcrição dos seguintes versos:

                    “melodiosa palavra
                    não melosa entretanto
                    palavra com ideia
                    tão livre quanto vento.

          palavra para o ouvido musical
          palavra para a imaginação visual
          palavra para o pensamento real
          código para se decodificar.

                    palavra que na síntese
                    das sínteses poundianas
                    é sinal igual a

                            melopeia
                            fanopeia
                            logopeia.

                            ( Alcenor Candeira Filho  -  “Teoria do Poema”)

     “Teoria do Poema” mostra que a poesia é um fenômeno linguístico e estético destinado a ser lido ou ouvido e decodificado pelo leitor. É expressão rítmica do belo, sendo elaborada com palavras melodiosas mas não melosas,  palavras livres como o vento, ou seja, como ensina Ezra Pound, palavras para
      - o ouvido musical (melopeia)
      - a imaginação visual (fanopeia)
      - o pensamento real (logopeia).

     Finalmente, cito mais um poema de minha autoria:

                              FINALIDADE

                “conquanto nada lhe custe
                o poema o poeta não faz
                para que à rígida norma
                d’arte pela arte se ajuste
                reduzindo tudo a
                forma e fôrma e fôrma e forma.

               conquanto nada lhe custe
               não faz o poema o poeta
               para deleite no avião,
               mas para que o deglutam
               mesmo fora do café
               qual manteiga leite e pão.

               conquanto nada lhe custe
              não faz o poema o poeta
              para embalar o que sonha
              com mil fantasmas no escuro
              como se o poema pudesse
             ser sombra insânia ou insônia.

           conquanto nada lhe custe
           trabalha o poema o poeta
           para que ele  -  como deve  - 
           seja senha som e seta.”

      Esse poema tenta  responder à pergunta  -  para que poesia?

      Embora nada lhe custe, o poeta luta com palavras na construção do poema para que ele não  seja
          -  simples objeto de perfeição formal
          -  simples objeto de diversão
          -  simples cantiga de ninar
mas sim
         -  senha: sinal/indício
         -  som: melodia/ritmo
         -  seta: direção/leitor.

     Encerro estas reflexões sobre a poesia recorrendo mais uma vez a Fernando Pessoa:  “A poesia é uma música que se faz com ideias, e por isso com palavras”.    

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