Fonte: Google |
Autor: Fernando di Castro |
LOURO DA BANCA, PATRIMÔNIO
CULTURAL PARNAIBANO (*)
Elmar Carvalho
Nesta temporada parnaibana, fui
algumas vezes à banca do Louro, para comprar jornal e ver os livros de autores
parnaibanos, que ali são expostos e vendidos. Esse ritual é bom porque em torno
da banca sempre encontro algum conhecido dos velhos tempos. Numa dessas idas
encontrei o Emanuel, meu colega do Campus Ministro Reis Velloso – UFPI, curso
de Administração de Empresas, que me cumprimentou efusivamente e com bastante
jovialidade.
No final dos anos setenta, fui
com ele a Tutoia, seguindo pelo Delta do Parnaíba, num desses barcos toc-toc ou
chalana, que faziam linha para essa cidade maranhense. Ficamos hospedado numa
casa de sua família, que ficava à beira-mar, em amplo terreno, com várias
plantas e coqueiros. Ficava numa enseada da praia Andreza. Corria a lenda de
que uma moça, que desaparecera ou fora arrebatada na praia de Amarração, na
cidade de Luís Correia, várias décadas atrás, ali aparecia como um ente
encantado.
Ouvindo o vento a farfalhar nos
coqueiros e nas outras árvores e escutando o marulho das ondas, colhi
inspiração para alguns de meus poemas marítimos ou parnaibanos. Nesse passeio a
Tutoia, terminei encontrando o jornalista e professor Antônio Gallas Pimentel,
tutoiense, mas meu amigo de Parnaíba, em cuja companhia terminei fazendo um
périplo pelos points da cidade, no anglicismo de hoje, que consigno em sua
homenagem, já que ele é um mestre em Inglês e fala fluentemente essa língua.
Já o Louro é uma instituição da
Praça da Graça, e deveria ser tombado como um patrimônio vivo do município.
Conheço-o desde o final da década de setenta e nunca ouvi o menor comentário
que pudesse desabonar a sua pessoa. Muito pelo contrário, a sua conduta foi
sempre correta, tanto que entra prefeito e sai prefeito e o Louro continua
inabalável em sua banca de revistas.
Faça chuva ou faça sol, seja
sábado, domingo ou feriado, lá está ele a mourejar em seu estabelecimento, com
a sua cordialidade e alegria de sempre, a vender os jornais e livros da terra,
e os jornais e revistas de circulação nacional, assim como os editados em
Teresina. Embora correndo o risco de ser perseguido por algum alcaide fustigado
pelas catilinárias do Inovação, sempre vendeu esse jornal, durante todo o tempo
em que ele circulou. Por isso mesmo tinha a consideração e o respeito de todos
que faziam parte desse bravo periódico.
Para mim o Louro foi sempre o
Louro da banca de revistas da Praça da Graça. Por essa razão, não obstante a estima
que lhe tenho, sequer sabia o seu nome. Telefonei-lhe, para lhe colher o nome
completo, que agora declino, como uma homenagem a um cidadão honrado: Francisco
das Chagas Sampaio. Ele, um homem de bem, cordato, vestia uma camisa preta, com
a palavra PAZ, em letras brancas, estampada no peito. Ou seja, o Louro,
literalmente, veste a camisa da PAZ.
(*) Há poucos dias o professor e
escritor Antônio Gallas me deu uma boa notícia: os (poucos) exemplares de
Histórias de Évora que estavam à venda na Banca do Louro haviam sido comercializados.
Assim, em minha próxima ida a Parnaíba, providenciarei mais alguns exemplares
para as suas prateleiras.
* * *
O FILHO DE SANDOVAL
Quando estive na lanchonete do
senhor José dos Santos para tomar o seu afamado caldo, vi do lado de fora um homem todo sujo
de goma, principalmente no cabelo e no rosto. Logo vi que não se tratava de um
folião extemporâneo, mas de um alcoólatra. Quis saber como se chamava, mas
ninguém o conhecia pelo nome. O Canindé informou-me que ele era filho do
Sandoval, que eu conheci como guardador de carros dos universitários, no Campus
Ministro Reis Velloso.
O Sandoval era um homem bom e
tinha a estima dos acadêmicos e dos professores. Já é falecido. O poeta Alcenor
Candeira Filho, que exerce o magistério no Campus, dedicou-lhe um poema, em que
lhe relata as virtudes e a ocupação. Dizíamos, brincando, que o Sandoval fora o
seu “muso”. Agora, com tristeza, vejo o seu filho como mendigo e alcoólatra.
Quando lhe perguntei o nome, disse tê-lo esquecido, e disse o nome de seu pai.
Era como se quisesse esquecer de
si próprio, em sua solidão e tristeza. Segundo o Canindé ele trabalhara num
Condomínio da rua Pedro II, mas a dipsomania terminava por lhe fazer faltar ao
trabalho, razão pela qual foi demitido. Com a demissão, apegou-se mais ainda ao
vício. Quando fui tirar sua fotografia, para ilustrar o blog em que este diário
é publicado, inicialmente, fingiu esconder o rosto, numa brincadeira ou na
vontade inconsciente de se manter incógnito, sem ser visto e sem ser lembrado,
numa espécie de exílio de si mesmo.
Depois, se deitou na calçada, e
levantou os braços e as pernas, como se fosse uma criança em seu berço, talvez
no desejo recôndito de voltar a ser bebê, quando certamente recebeu cuidados e
foi amado por seus pais. Ao final, terminou dizendo chamar-se João. Um João só,
um João a mais na multidão e na solidão. Aproveito para pedir perdão por tantas
e involuntárias rimas em ão.
16 de fevereiro de
2010
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