Fonte: Google/Alexandre Macieira |
PASSANDO PELO CENTRO DO RIO
Cunha e Silva Filho
Não
foi hoje nem ontem, nem
anteontem. Foi numa das vezes nos últimos dias que dei um pulo pelo Centro do
Rio. Tenho-o evitado por uma razão mais forte: um pouco de medo da violência.
Contudo, não é esse o motivo pelo qual tenho deixado de ir sempre a essa
parte da Cidade Maravilhosa que me é tão
cara por tantas razões que daria uma outra crônica. Considero-me um bom ou
mesmo ótimo amigo dessa cidade que escolhi pra viver. Nela resido há meio
século e quebrados. Dizem que quem ama não encontra defeitos na pessoa amada e
o Rio é mais do que uma cidade. É uma pessoa amada. Com o
longo tempo de convívio com ela sei quais são os seus defeitos e as suas qualidades, estas bem
maiores de que aqueles. É por amar o Rio e querer-lhe bem que me ponho com um
pé atrás e por isso faço questão de
apontar-lhe os defeitos que ora pude constatar na mencionada vez que andei pelo Centro
É óbvio, leitor, que tenho direito
de mostrar onde o Centro está ruim,
péssimo mesmo. Não por culpa da cidade em si, i.e., da alma dessa metrópole,
alma essa que estão querendo matar por absoluta falta de amor à cidade, que não merece tal
descarte da autoridade municipal, do alcaide de plantão, de alguém que não sei
por cargas dágua virou prefeito do Rio.
Chegando ao Centro, me deparo com um lugar feio, apinhado de camelôs
surgidos alarmantemente país com a situação deplorável da crise de recessão
e desemprego que se abateu pelo país.
Andando pelas ruas principais do Centro, ruas que
aprendi a amar - vejo um ar de pobreza,
de decadência, de falta de energia, de vitalidade, tão diferente daquela vez em tempo
longínquo quando um jovem de dezoito anos andava pelas
linda Avenida Rio Branco, movimentada, feérica, cheia de pessoas
bonitas, bem vestidas animadas, cuidando de suas vidas
e problemas. No Centro havia muitas lojas abertas, funcionando
plenamente, a todo vapor. Havia muitas
livrarias e muitos bons sebos espalhados por todo o entorno. Na Rua da
Carioca, era grande o número de lojas
com diferentes tipos de comércio bem movimentado, com muita clientela. Hoje, o
que encontrei: a Rua da Carioca feito um
fantasma perdido nos braços da decadência, com portas fechadas, rua morta diante dos meus olhos divididos entre o
passado alegre e ruidoso e o presente
entristecido e silencioso.Não é possível tanta quebradeira.
Diante de mim, o presente são
ruínas de um antigo Centro sucateado pelos maus tratos que um governador vilão
dispensou velhacamente ao Rio de Janeiro e por um governo municipal e outro
federal que teimam em tornar mais moribundo
uma cidade e um Centro que eram o orgulho dos cariocas, dos brasileiros
e estrangeiros que por aqui nos vêm ainda visitar.
É evidente também que o Centro dispõe
de algumas reservas de beleza a oferecer
ao ilustre visitante. Se a Praça Tiradentes
está desmilinguida, sem graça,
nem beleza é ainda possível estender a vista para a belíssima Praça Paris, em
frente da qual existe um lugar
ainda aprazível ao olhar, que é o
Parque do Flamengo, a Baía da Gunabara. As marinas e, ao longe, o belo bairro
da Urca, já à altura de Botafogo, além do majestoso Pão de Açúcar. Entre o
cenário grotesco da decadência do Centro e
e a paradisíaca paisagem natural
carioca bem se poderia bem
afirmar que o Rio é uma recanto
barroco no bom sentido desse estilo natural-artificial.
Retorno às considerações sobre o
estado de penúria e de fealdade que está
pedindo socorro: a Praça Tiradentes, o número altíssimo de camelôs desordenadamente distribuído por
todo o Centro, a Rua da Carioca que
clama para voltar ao seu estado
anterior com comércio vivo e pulsante, o
Largo da Carioca (antigo Tabuleiro da Baiana)
também infestado por camelôs, malandros, batedores de carteiras, mendigos,
desocupados, as ruas antigas mais distantes
que não são nunca reformadas
nas suas fachadas, como ocorre em cidades europeias e em outros países
do mundo que preservam o legado da
arquiteturas de seus prédios e casas.
Espero que os próximos prefeitos do Rio de Janeiro não só cuidem do que ainda presta no Centro da cidade mas também priorizem um plano de governo que faça do Centro do
Rio um cartão de visitas
recuperando o antigo encanto e a
alma dessa cidade que não pode ser vítima da incompetência a um só tempo de
péssimos governantes como o atual prefeito, um governador venal já preso e um
atual governador incompetente e omisso.
Não resta dúvida de que o ex-prefeito
Eduardo Paiva, com todos os muitos
defeitos que nele podemos
apontar, em muitos aspectos, soube
conduzir a sua gestão com resultados
relativamente positivos, como a
revitalização da área do Porto do Rio de
Janeiro, da Praça Mauá, os bondes
elétricos que cortam o Centro, os ônibus das linhas do BRT, o pagamento dos
funcionalismo em dia, alguns pequenos
reajustes nos vencimentos, bônus de
Natal, presença da Guarda Municipal nos
bairros, melhor ordenamento dos camelôs
pela cidade, entre outras obras.
Espero ainda ver o meu Centro da cidade revigorado, um lugar
em que se possa andar sem medo de ser
assaltado, com uma vida comercial dinâmica, com belas livrarias,
teatros em funcionamento, vida noturna, uma Lapa segura e com interna
vida noturna, sem cracudos nem bandidagem, com bons cinemas, casas de shows, feiras de
livros como antigamente e outras
atrações de diversões diurnas
e noturnas.
Enfim,
um Centro festeiro brincalhão,
bem policiado, cheio do bom humor carioca, um Rio moderno sem perder os
velhos traços de uma cidade com alma e coração aberto e sincero, um Centro de
uma cidade que nasceu para ser bela e
hospitaleira, amante do samba de raça,
do sotaque chiante, das lindas mulatas,
das mulheres de curvas perfeitas, do
invejável carnaval carioca e dos refúgios de um boteco requintado e pujante de vida. Rio quarenta graus, Rio brasileiro. Por um Centro de nossos sonhos irradiando belezas e contentamento aos bairros
tanto os mais humildes quanto os mais
refinados. Um Rio de todos os
brasileiros e de todos que o venham visitar. O Centro da cidade é o ponto de partida e de retorno do que
queremos para ele, por ele e com ele.
Viva o Centro! Um abraço carinhoso deste “carioca”por opção e
antiguidade.
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