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TRAGÉDIA BRASILEIRA
Des. Valério Chaves
Da Academia de Letras da Magistratura Piauiense
Da Academia de Letras da Magistratura Piauiense
A prática política no Brasil, tão em voga
em pleno século XXI, onde o povo levado pelas manchetes da mídia, não consegue
compreender a gravidade dos crimes perpetrados pelos representantes eleitos
envolvidos em complexos esquemas de corrupção, suborno e desvio de dinheiro
público, nos remete à tragédia grega Júlio César de Willian Shakespeare, na
qual, Brutus e Marco Antônio, a pretexto de proteger a república, usaram a
força da persuasão oratória para convencer a plebe a decidir sobre a
responsabilidade pela morte do homem mais poderoso de Roma, assassinado nas
escadarias do Senado com 23 golpes de adaga desferidos por uma conspiração
liderada pelos senadores Brutus e Cássius (44
a.C).
Brutus no seu discurso fúnebre em frente
ao corpo ensanguentado da vítima, justificava-se dizendo ao povo ter golpeado
pelo bem de Roma, pois a adaga cravada por ele no corpo de César representava
seu amor e o preço para os cidadãos romanos viverem em liberdade, uma vez que
César estava propenso a dar um golpe e se auto nomear Rei de Roma.
Marco
Antônio, por sua vez, utilizando-se de uma postura retórica diferente visando
voltar a multidão contra os traidores do imperador, dizia que o amor de César a
Roma era sincero a tal ponto que para demonstrar sua bondade e lealdade pelo
povo havia deixado em testamento 75 dracmas a cada cidadão romano, e que o
sangue vertido em cada rasgo, produzido pela lâmina manejada pelos honrados senadores
criminosos, aumentava a revolta do povo contra eles.
A história da humanidade tem inúmeros
outros registros acerca do emprego da persuasão pela retórica ou de imagens
sedutoras visando esconder crimes praticados, e até para obter promoção pessoal
e alçar o poder, como revela o exemplo histórico do republicano Brutus que, ao
qualificar César como ambicioso e pretender a escravidão do povo, quis carrear
a culpa do crime à própria vítima.
Como vaticinado na filosofia do holandês
Baruch Espinoza (1632-1677), “a modernidade tornou o homem refém do poder da
imagem e da razão, através da qual vê a verdade à medida que a intuição
intelectual permite conhecer a essência das coisas”.
Tanto na tragédia grega, quanto no momento
atual da sociedade brasileira, há silêncio dos inocentes, daqueles que são
reféns dos interesses de políticos ambiciosos, e que, submetidos às
superstições justificadas pela mídia, acreditam nas promessas de um futuro
melhor.
Nesse contexto, o poder de convencimento
de muitos políticos ambiciosos do nosso país, direcionado a um povo inerte
diante das condições precárias em que vive, soa, ora como a atitude de Brutus,
ou seja, distante do povo romano nos escândalos que resultaram no assassinato
de Júlio César para esconder sua traição; ora como a de Marco Antônio que soube
usar sua invulgar habilidade oratória para louvar César, passar imagens dos
conspiradores como homens honrados, porém, no fundo, desejava livrar-se deles
para ganhar uma posição na república e satisfazer suas ambições políticas.
Em última análise, verifica-se que aquele
ato da tragédia grega montado por Shakespeare, torna-se hoje mais atual do que
nunca quando vemos muitos representantes do povo atuarem com todos os
ingredientes de uma tragédia brasileira, ou seja, valem-se da persuasão
oratória e da influência da mídia para chegarem ao poder, minimizar crimes e
permanecerem impunes.
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