PALMA DE GATO
(Crônica de Pádua Santos)
Quando escrevi a crônica
intitulada “O Enterro”, onde tratei das peripécias de dona Zezita Sampaio
(mulher do Almirante Gervásio Sampaio, irmão do meu bisavô, Antônio Sampaio),
deixei registrado que aquela importante matrona, nas suas badaladas eleições
para prefeita de Buriti dos Lopes, já fazia uso de uma geringonça que
desagradava os que restavam derrotados nas campanhas políticas das quais ela
saia vencedora. E ali eu perguntava: (- Oh afamada “ronqueira” de boca faminta
de pólvora! Por onde andas, nestes tempos de modernos fogos? O teu ronco foi um
tormento para os opositores. Passastes vários dias em atividade depois daquele
resultado! Calava-te apenas pelo período suficiente para a recarga de mais um
estampido que lembrava as bombardas da Batalha do Jenipapo...).
E não é que, logo depois da
publicação da referida crônica, um amigo me presenteou com tal aparelho, já
bastante gasto pela ferrugem, mas ainda capaz de trazer à lembrança
interessante cena de um passado político recheado de aventuras!
Aliás, todo passado político tem
suas histórias e, não raro, histórias pitorescas, como a que agora passo a
contar:
O Dr. Mão Santa, quando iniciou na
vida pública, não tinha este nome. Era conhecido na cidade como “Doutor
Francisco”. Nome que, apesar de próprio e de ser o mesmo de um dos santos mais
milagrosos do Céu, não lhe rendia a quantidade desejada de votos. Como ele
nunca foi bobo e para demonstrar sua sabedoria política perante seus opositores
que às vezes lhe consideram louco, abraçou a alcunha “Mão Santa”, e com ela
derrotou velhas lideranças consolidadas, partidos renomados e terminou por
vencer vários pleitos importantes.
Mas
não é somente o nome que faz a liderança. Os políticos de carreira sempre
necessitam de amigos que lhes deem sustentação. Aqueles que vestem sua camisa e
botam o pé na estrada, caminhando ao seu lado e rezando na sua cartilha - são
os chamados “cabos eleitorais”.
Mão
Santa, dentre outros que lhe ajudaram, logo no primeiro pleito onde logrou
êxito, contou com a ajuda de Francisco Bernardo de Souza Neto, bastante
conhecido pelo apelido de “Palma de Gato”.
Este
cidadão, já falecido, sabia fuxicar com fácil sorriso nos lábios e penetrava
com facilidade em todos os partidos da época, principalmente nas hostes dos
“Silva”, então opositora, porque ali teria iniciado na arte de cabalar.
Certo
dia, em um grande comício no local conhecido como Balão da Guarita, Mão Santa
chamou o seu franco escudeiro Palma de Gato, quando faltavam poucas horas para
o início da concentração, lhe deu algumas magras cédulas - porque nesta época
ainda era pobre - e ordenou que fossem
comprados três foguetes tipo canhão.
O
primeiro deveria pipocar no momento em que o patrão subisse no
caminhão-palanque; o segundo quando encerrasse a fala dos políticos menores,
geralmente vereadores, seus suplentes e alguns entusiasmados e convencidos
presidentes de associações de bairros. E o terceiro, e último, logo que
Bernardo Carranca – quem sempre animava por cobrar mais em conta – cantasse a
última música para ter início o longo discurso do próximo Prefeito.
Estes
três foguetes de apreciável tiro – daí a lembrança da estrovenga da saudosa
Zezita Sampaio – deveriam funcionar como um convite ao povo parnaibano para uma
mudança que, segundo pregava, se fazia por demais necessária.
Mas
ocorreu que somente os dois primeiros estampidos foram ouvidos naquela noite.
Quando
chegou o esperado momento do último tiro, com o Carranca já calado, juntando
suas esquisitas partituras; o orador já de microfone na mão e o povo em
relativo silêncio, esperando a frase inicial que seria, como sempre, uma
louvação a Deus, Mão Santa sentindo que nada pipocava no Céu parnaibano, deu
uma virada, afastando a boca do microfone, para dizer, em voz baixa para alguns
papagaios de pirata que lhe cercavam naquele momento:
- Filho da puta, o Palma de Gato! – bebeu de
cachaça o meu terceiro foguete!
Nenhum comentário:
Postar um comentário