Fonte: Google |
DEIXEM
CAMINHA EM PAZ
Valério
Chaves
Escritor e
Desembargador Inativo do TJPI
Não
é de hoje que historiadores e pesquisadores insistem em fazer críticas acerbas
contra Pero Vaz de Caminha (escrivão da frota de Cabral em 1.500 e alto
funcionário do reino português) como sendo a primeira pessoa no Brasil a pedir
um favor do Estado, no caso, o Rei de Portugal, Dom Manuel I, o que, caso
atendido, teria representado o primeiro ato de corrupção, nepotismo,
clientelismo e tráfico de influência a se instalar em território brasileiro.
Garantem
alguns, dando como verdade incontestável, que o caluniado escriba português, ao
redigir a célebre carta que enviou ao rei descrevendo as belezas naturais do
que denominou de Ilha de Vera Cruz, teria encaixado no final um pedido de “ajudinha”
no sentido de fazer retornar para Portugal o seu genro, Jorge de Osório, que
havia sofrido pena de banimento para a Ilha de São Tomé, na África, acusado de
roubar uma igreja e ferir um padre. Vale esclarecer que na época vigoravam em
Portugal as Ordenações Afonsinas (1446) responsável pela separação do direito
canônico do direito temporal.
Segundo essas coletâneas de leis, promulgadas
na era moderna durante o reinado der Dom Afonso V, os crimes praticados contra
moça virgem ou viúva honesta, adulteração de moeda, lesões corporais e roubo, estavam
sujeitos à pena de degredo, capaz de levar o acusado a uma estadia forçada no
ultramar. Podia ser perpétuo ou por tempo determinado, dependendo da gravidade do
crime. Ainda de acordo com as normas vigentes, a sentença não podia ser
comutada, exceto por graça especial do rei que tinha poderes para conceder
indulto aos apenados.
Até hoje, não se sabe ao certo se o pedido de
Pero Vaz de Caminha fora ou não atendido, nem se o rei precisou recorrer aos
atos secretos, vigentes na época, para fazê-lo.
Sabe-se, porém, que oito meses depois, ou
seja, em dezembro de 1500, sem saber se sua missiva havia sido entregue ao Rei por
Gaspar de Lemos, comandante do navio que regressou a Portugal, ele morreu em combate
na Índia, provavelmente atacado por mulçumanos na ilha de Calecute.
Sempre que se
fala em corrupção no Brasil cita-se o escrivão Pero Vaz de Caminha como sendo a
primeira pessoa a solicitar um favor do Estado ou praticado nepotismo em terras
brasileiras porque teria pedido um emprego para um parente.
O que as pesquisas históricas dizem de
verdadeiro é que Caminha pedira a libertação de seu genro condenado ao
banimento para uma ilha africana. Caminha era um alto funcionário do reino e
estava preocupado com a família pois sua única filha Isabel, fizera mau
casamento com um certo Jorge de Osório, indivíduo de maus costumes.
Pelo visto,
Caminha não tem nada a ver com a corrupção, patrimonialismo ou com o
toma-lá-dá-cá, tão em voga nos dias atuais em nosso país.
Assim, convém
a gente pedir encarecidamente aos intelectuais, pesquisadores de plantão e,
principalmente, a quem não conhece o final da célebre carta: DEIXEM CAMINHA EM
PAZ.
Nenhum comentário:
Postar um comentário