HOMILIA
Weliton Carvalho
TENHO um
encontro com Deus:
─ José!
onde estão tuas mãos que
eu enchi de estrelas?
─Estão aqui, neste balde
de juçaras e sofrimentos.
(José Sarney)
Não almejo meu
texto lido nos púlpitos das igrejas
mormente das igrejinhas literárias,
onde Narcisos
recitam ladainhas laudatórias
refletindo mil espelhos de
ego:
nascem
panegíricos bumerangue quase
constrangedores
e os condoreiros
se arvoram em salvar a pátria e as letras:
ninguém se ocupou
em colocar o ouvido ao nível do relés,
do puído sol
cintilante de todos os dias sobre a morte,
destino derradeiro das vaidades
veladas
sobre o vulgar da vida que arde ao sonhar
ser pétala,
borboleta, sol alaranjado sobre buzinas a
hora do rush.
Ou a tarde devaneando nas asas do
dia letargo,
que sucumbiu ao burburinho das
máquinas,
humanas algumas, tocadas a salários e
contas a pagar.
Também não quero
ser ovacionado entre copos de chopes
e anedotas entrecortadas por nobres
confrades.
Desejo
ardentemente ser lido pelos adversários mordazes
não na esperança
da restauração de sentimentos esgarçados,
mas para nos
reconciliarmos ante a tentativa da beleza,
quando uma
palavra toque a fímbria do azul dilacerado.
Senhor Stendhal,
política também é sonho embebido em poesia
e como tal – por
vezes – se perde macerado na lida crua da vida.
(bem sei:
politica e poesia tocam a alma em carne viva, puro fogo:
sabe o senhor, em
França, o que seja ferroada de marimbondo)?:
poesia é a alma
em carne viva – ah, como disso sei, senhor Stendhal!
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